Valor Econômico
Escolhido para conduzir a economia, Haddad
teve experiências bem-sucedidas nesse campo quando foi prefeito de São Paulo
Primeiro comandante do Ministério do
Planejamento no primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Guido
Mantega costumava contar que, ao assumir a pasta, encontrara “na gaveta” o
projeto para implementar no país as Parcerias Público-Privadas (PPP). Elaborado
pelos antecessores tucanos, era um instrumento que permitiria superar a falta
de dinheiro para fazer investimento. Mantega trouxe Fernando Haddad para ser
seu assessor especial e trabalhar na regulamentação das PPPs.
Vinte anos depois, as PPPs parecem prestes
a dar um salto e ocupar papel central no governo. Em particular, para melhorar
serviços como saúde e educação, reafirmados ontem como prioridades pelo
presidente eleito Lula.
Escolhido para conduzir a economia, Haddad
teve experiências bem-sucedidas nesse campo quando foi prefeito de São Paulo
(2013-2017).
PPPs e financiamento à infraestrutura são temas em que Gabriel Galípolo, futuro “vice” de Haddad no Ministério da Fazenda, é referência há mais de uma década.
Mas não são só esses os adeptos do
mecanismo na equipe de Lula. O governo do agora vice-presidente eleito Geraldo
Alckmin em São Paulo construiu até metrô, a Linha Amarela, por meio de PPP. O
mesmo foi feito na Bahia por Rui Costa, futuro ministro da Casa Civil. O Piauí,
governado por Wellington Dias, implementou PPPs em áreas como geração de
energias limpas.
A prefeitura de São Paulo desenvolveu PPPs
como a concessão do Ibirapuera e da iluminação pública da cidade, discussões
complexas e politicamente sensíveis. “Haddad enfrentou essas agendas como um
político moderno, no sentido de não se curvar a uma ideologia de esquerda que
impediria o avanço dessa pauta”, comentou Guilherme Naves, sócio-fundador da
consultoria Radar PPP.
Naves e Haddad integraram a mesma equipe de
professores num curso sobre PPPs no Insper.
A influência das ideologias de esquerda é o
principal obstáculo para que as PPPs atinjam um novo patamar no uso de PPPs
durante o terceiro governo Lula, na visão de Naves. Ele cita como exemplo uma
declaração de Guilherme Boulos (Psol) sobre a necessidade de se rever o marco
do saneamento.
Reação da esquerda, aliada ao pouco apetite
pelo mecanismo, fizeram Jair Bolsonaro (PL) desistir de usar PPPs na área de
saúde. Em outubro de 2020, ele assinou um decreto que incluía Unidades Básicas
de Saúde (UBS) no Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), para que fossem
objeto de estudo sobre a viabilidade - ou não - de parcerias com empresas.
Os estudos foram imediatamente bombardeados
como uma tentativa de privatização do Sistema Único de Saúde (SUS). Com a
repercussão negativa no Congresso e até no Supremo Tribunal Federal (STF),
Bolsonaro sepultou o assunto.
Em tempo: o plano era as empresas
construírem as UBS e cuidarem da “hotelaria” (limpeza, troca de móveis e
lençóis). Na época, já havia experiências do tipo em Estados e municípios.
Um dos mais avançados exemplos era da
Bahia, governada pelo petista Rui Costa. Lá, o hospital Couto Maia, que foi
centro de referência na covid, é uma PPP. Há no Estado uma experiência ainda
mais ousada, a do internacionalmente premiado Hospital do Subúrbio, em que até
mesmo os médicos e enfermeiros são privados, mas o atendimento é público, e os
recursos, do SUS.
O modelo tem sido testado na área de
educação, informa Naves. Em Belo Horizonte, por exemplo, mais de 50 escolas
foram construídas ou reformadas por meio de PPPs.
O instrumento viabiliza também habitação
popular, como é o Casa Paulista, uma PPP que envolveu parceria de Haddad e
Alckmin. Diferença importante: não são casas nas franjas urbanas, mas no centro
da cidade, onde estão melhores oportunidades de emprego e melhores serviços
públicos. Os moradores pagam taxas que são a receita da PPP.
Em entrevista ontem, Haddad afirmou que
acredita muito nas PPPs e apontou como uma vantagem o fato de os projetos
passarem pelo crivo do mercado. Ou seja, projetos que não se sustentam não saem
da prateleira.
E, apesar das muitas opções que oferecem,
as PPPs não se converterão numa panaceia, alertou o futuro ministro.
O modelo não é perfeito. A procuradora de
Contas do Estado de São Paulo Élida Graziane aponta para o custo elevado das
experiências em estabelecimentos prisionais, por exemplo. Ou a possibilidade de
as PPPs abrirem caminho para burlar limites de endividamento ou de gastos
governamentais com pessoal.
Há, ainda, uma questão sobre o
financiamento das PPPs. Um mecanismo estudado desde 2003 é a criação de fundos
garantidores. Esses recursos não ficariam sujeitos a bloqueios e
contingenciamentos, como acontece com as verbas orçamentárias.
A Radar PPP monitora atualmente 4.196
iniciativas em todo o país, em diferentes graus de maturidade. Desses, 381
estão na área social.
Espero que novos artigos sobre as ppps sejam divulgados para que possamos entender seus pros e contras.
ResponderExcluirApoiado.
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