Na hora de partida sua perícia já é testada pela falta de recursos orçamentários que viabilizem a continuidade do programa bolsa família, compromisso seu compartilhado com o governo a que sucede, a que se acrescenta igual carência, diante da crise social que aflige a imensa massa de vulneráveis em situação de pobreza extrema, de meios para enfrentar os males que padecem. Nessa aziaga circunstância, o governo eleito recorreu ao remédio heroico de uma emenda constitucional a fim de lograr uma dotação orçamentária capaz de minimamente garantir recursos para o atendimento emergencial das necessidades imperativas da população.
Nesse sentido, o futuro governo se encontra
enredado em difíceis negociações com o Legislativo, dominado em sua maioria por
forças que lhe foram adversárias na disputa eleitoral, salvo se perfilharem uma
via alternativa à emenda constitucional como uma medida provisória como
primeiro ato de governo. Sem dúvida, a recente decisão do STF que julgou
inconstitucional o orçamento secreto e os poderes que concedia aos chefes do
poder legislativo retira algo de força desse poder, mas não a ponto de lhe
deixar desarmado diante do novo governo, que tudo indica optará pelo caminho
razoável da negociação da emenda constitucional segundo manifestações de suas
lideranças, processo que ora se conclui.
No caso, as forças políticas do Centrão
recobram o exercício de papeis influentes e, de algum modo, encontram seu lugar
no governo entrante. Tudo como dantes no quartel de abrantes, uma vez que a
política de conciliação surge como a sua marca distintiva, sua forma de
palmilhar o terreno minado que tem pela frente, reiterando o estilo do governo
FHC de compatibilizar o moderno com o atraso sob ligeira predominância, onde
couber, do primeiro.
Tal deverá ser o preço a ser pago, forçado
pelo papel de destruição que o governo Bolsonaro deixa em seus rastros ao
invertebrar a sociedade em seus elementos mais simples, em sua política de
terra arrasada dos nexos sociais orgânicos de acordo com os ditames de sua
inspiração neoliberal de que essa coisa de sociedade não existe. Replantar o
tecido social destruído demandará tempo, persistência e clareza de propósitos. Trata-se
de reanimar a vida sindical, os movimentos associativos e os partidos políticos
de esquerda, nas cidades e no mundo agrário, este, hoje, tristemente confiado à
manipulação dos interesses do agronegócio.
Conceder alento ao moderno, numa sociedade
como a nossa que viveu décadas de modernização autoritária, importa instaurar
um estatuto de plena autonomia aos seus seres sociais, tarefa que reclama uma
intelectualidade ativa que abra pela reflexão caminhos para novas trajetórias
críticas sobre o passivo da nossa história e ilumine novas possibilidades de
ações progressistas.
A restauração da cultura democrática se
encontra na dependência da musculatura que vierem a adquirir os entes da
sociedade civil na luta por suas reivindicações, a fim de contornar o cenário
hostil, atualmente configurado numa composição adversa das câmaras
congressuais, buscando espaço e oportunidades que viabilizem o reencontro da
sociedade com suas melhores tradições.
O futuro está em aberto, e, se bem que no
nosso passado encontremos boas inspirações, ele está a exigir de nós espírito
de descoberta e de invenções audaciosas num contexto exigente e desafiador, que
só poderemos enfrentar na medida em que começarmos a caminhar, passo a passo,
na busca de uma sociedade igualitária e justa.
*Luiz Werneck Vianna, Sociólogo, PUC-Rio
"Tal deverá ser o preço a ser pago, forçado pelo papel de destruição que o governo Bolsonaro deixa em seus rastros ..."
ResponderExcluirBolsonaro destruiu o Brasil. Todos sabemos. Acelerou a destruição neste 2022 pra se reeleger e ... PERDEU!
É UMA BESTA!
Sim, é um MONSTRO! Mas ele não fez isto sozinho, teve muito apoio do Congresso e do Aras, e 49% dos eleitores queriam que ele continuasse e aprofundasse a DESTRUIÇÃO já feita.
ResponderExcluirEsta é a maior capacidade de L!ula: saber como cruzar estes desfiladeiros e desertos da política brasileira cheios de perigos, com sua exímia habilidade de estadista.
ResponderExcluirNinguém mais conseguiria!
Pois é,49% da população brasileira queria que o regime de terra arrasada continuasse.
ResponderExcluirCurti o texto , supermecânico eretrô, empilhando dezenas de chavões e fantasias diversionistas de esquerda. Basta trocar a referência a Bolsonaro por qualquer Presidente , Governador ou Prefeito que não seja do partido endossado pelo autor - e surpresa! Cola direitinho, hoje, como há 50 anos ...
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