sábado, 3 de dezembro de 2022

Marco Antonio Villa - O PT tem de aprender com a história

Revista IstoÉ

O ano de 2023 não poderá ser uma repetição de 2003. É indispensável um governo de união nacional

O novo governo a ser instalado no Palácio do Planalto a 1º de janeiro de 2023 tem de ter como foco central a compreensão do momento político-eleitoral de 2022. Ou seja, a eleição presidencial foi um plebiscito não de Jair Bolsonaro, mas do Partido dos Trabalhadores – mais do que sobre Luiz Inácio Lula da Silva. O que isto quer dizer? Os quase 14 anos de governo do PT deixaram algumas marcas políticas – para seus opositores, mais ou menos radicais — marcas que vão demorar anos para serem apagadas. Principalmente as duas presidências Dilma Rousseff, sua forma de fazer política, as relações com os graves problemas nacionais e o desastre econômico do triênio 2014-2016, o pior da história econômica republicana.

O governo Bolsonaro — o mais calamitoso desde 1889 — quase conseguiu obter a reeleição, A derrota foi por uma margem mínima. Como explicar que durante um quadriênio assistimos cenas inimagináveis, um descalabro administrativo que não encontra paralelo na nossa história, o decoro presidencial sendo cotidianamente ignorado e mesmo assim milhões de brasileiros sufragaram o nome do responsável pela mais grave tragédia sanitária do Brasil como a pandemia da Covid-19?

Não é possível supor que milhões de brasileiros que votaram em Bolsonaro são extremistas, desprezam as instituições, querem o retorno da ditadura, são racistas, etc, etc. Não. Votaram contra o PT, contra algumas mazelas que foram realizadas nos seus governos e nas construções propagandísticas do gabinete do ódio – que partiam de fatos, mas, evidentemente, distorcendo-os dentro da perspectiva negadora dos valores democráticos. Em outras palavras, foram perdidos anos e anos no processo de construção de uma cultura política tendo como base a Constituição de 1988. Se tal tivesse ocorrido e a “res publica” tivesse sido tratada efetivamente em defesa do interesse geral, não haveria terreno para frutificar o autoritarismo.

O desafio do novo governo é de respeitar o resultado do segundo turno, a formação de uma frente ampla democrática. O ano de 2023 não poderá ser uma repetição de 2003. É indispensável um governo de união nacional. Evidentemente que deverá ter a hegemonia do PT. Quanto a isso, não se discute. Mas hegemonia não significa domínio completo, exclusivo do governo, das suas políticas, do seu rumo, dos cargos e objetivos, da relação com o Congresso, com o Judiciário, com a sociedade. Se tal ocorrer, a barbárie voltará. E pior, potencializada.

5 comentários:

  1. Paulo dos Santos Andion3/12/22 10:22

    E quem disse que a barbárie acabou? Famílias de todas as classes continuam vendendo suas filhas ou tendo suas casas invadidas por pilantras de todas as espécies que levam os pais à prisão por qualquer motivo, roubando-lhes a dignidade, a fim de lhes tomarem a virgindade das filhas, impedindo a identidade do chamado "pai de família" considerando ilegal a prosperidade familiar mantendo como um sonho o direito a uma casa própria servindo aos exploradores de aluguel beneficiados principalmente pela Terracap de Brasília, uma sociedade contrária aos planos habitacionais devido ao pequeno espaço do Distrito Federal. A Frente Nacional de Prefeitos deve ser responsabilizada por este momento de União Nacional.

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  2. Todos precisamos aprender com a história. Vc diz: "Votaram contra o PT", com o q concordo.
    Mas a pergunta é: por que votaram contra o PT e a favor de bolsonaro, um aventureiro como collor?

    Porque não aprenderam com a história. Não aprenderam q o Brasil não precisa de salvador da pátria.
    Quem não aprendeu, além, claro, dos eleitores bolsonaristas?
    Milicos, empresários, jornalistas.., enfim, esse pessoal q, teoricamente, teve acesso à história.
    Conclusão: a ideologia os fez ignorar a história e eleger o pior presidente q este país já teve, apesar dos avisos; apesar dos protestos. AVISAMOS E PROTESTAMOS.

    Quatro anos depois, uma parcela dos q conheciam a história resolveu deixar de ignorá-la, e LULA VOLTOU.

    Não sem riscos, pois outra parcela, mesmo conhecendo a história, incluindo agora estes últimos 4 anos, insiste em golpear a democracia e roga por um salvador - gado burro, continua ignorando a história.

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  3. O colunista tem razão no seu texto!
    Quem apoio Lula e/ou votou nele (como eu), lembrando de boas realizações de seus 2 mandatos presidenciais, não pode se esquecer de todos os problemas ocorridos nos 2 mandatos também petistas de Dilma Roussef, que enfrentou forte oposição mas também causou muitos e graves problemas e foi muito incompetente, utilizando ainda parte dos membros dos governos lulistas!
    Os traumas advindos das gestões de Dilma não podem ser ignorados, por mais que Lula tenha tentado fazer isto na recente campanha eleitoral. Lula usava todos os dados dos seus governos, e escondia ou ignorava os péssimos dados derivados das gestões de Dilma, tão petistas quanto as 2 dele.

    Dilma não era Lula, mas ambos eram/são o PT no comando da presidência! Um deu "certo" (ignorando mensalão e tantas outras corrupções), a outra foi trágica!

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  4. Está valendo o alerta do Villa.

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  5. Villa buscando retorno à ribalta me lembrou Orvaldo Cruz: só dá pra 'encarar' o Villa se ele antes for obrigado a tomar vacina.
    Vacina contra bolsonarismo.

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