Mais respeito à Constituição
O Estado de S. Paulo
País tem de sair da arapuca montada por Bolsonaro. Relação entre civis e militares não é mais nem menos delicada do que a relação entre civis com quaisquer outras instituições de Estado
É espantoso o rumo que tomou o debate
público sobre a relação entre as autoridades civis e militares no País. É como
se o que está escrito na Constituição – que determina em português cristalino
quais são os papéis de uns e de outros na República – tivesse virado letra
morta. Eis mais um legado nocivo do presidente Jair Bolsonaro. Nos últimos
quatro anos, o atual mandatário instrumentalizou politicamente as Forças
Armadas em seu benefício pessoal, inclusive dando voz a uma interpretação
extravagante do artigo 142 da Lei Maior, e tentou por diversas vezes minar o
poder dos governadores sobre as Polícias Militares.
Toda essa celeuma criada em torno da
nomeação do futuro ministro da Defesa é o exemplo mais recente desse debate totalmente
desarrazoado que se instalou no País.
Desde a criação do Ministério da Defesa, em
1999, a escolha do titular da pasta nunca despertou tanta atenção da sociedade
nem tampouco gerou tanta apreensão como agora. É como se, a depender do nome
escolhido pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, os militares fossem
se insurgir ou permanecer leais ao seu futuro comandante em chefe.
Ora, no Estado Democrático de Direito, o poder militar (armado) submete-se ao poder civil (político). As Forças Armadas, portanto, não são atores institucionais com ingerência sobre atos próprios da vida civil nem muito menos sobre as prerrogativas constitucionais do presidente da República. Diálogo ou até mesmo negociação jamais devem ser confundidos com chantagens ou ameaças, veladas ou explícitas.
O Estadão apurou que, no dia 28 passado,
Lula convidou José Múcio Monteiro, ex-ministro de Relações Institucionais
(2007-2009) e ex-presidente do Tribunal de Contas da União (2019-2020), para
assumir o comando da Defesa. Tido e havido como um hábil negociador, Múcio foi
incumbido pelo presidente eleito de criar “um ambiente de diálogo” entre o
futuro governo e a caserna.
Consta que a escolha de Lula teria
desagradado aos dirigentes de partidos políticos aliados e aos parlamentares
petistas, que pugnavam por outro nome à frente do Ministério da Defesa. Nos
bastidores, os críticos de José Múcio Monteiro dizem que ele seria “o candidato
do Forte Apache”, em referência ao quartel-general do Exército, como se isso
fosse uma mácula por si só. De fato, Múcio é figura benquista no meio militar;
e o momento tormentoso que o País atravessa impõe diálogo e temperança às
autoridades constituídas.
Mas a questão fundamental é a seguinte: a
rigor, o apreço ou a antipatia de lideranças civis ou militares em relação a
José Múcio Monteiro – ou a qualquer outro ministro escolhido por Lula – são
sentimentos absolutamente irrelevantes à luz da Constituição.
Cabe única e exclusivamente ao presidente
da República, convém lembrar, “nomear e exonerar os ministros de Estado” e
“exercer o comando supremo das Forças Armadas, nomear os comandantes da
Marinha, do Exército e da Aeronáutica, promover seus oficiais-generais e
nomeá-los para os cargos que lhes são privativos” (artigo 84, incisos I e XIII,
da Constituição, respectivamente).
Portanto, Lula da Silva pode estabelecer os
critérios que julgar mais convenientes não apenas para nomear seus ministros,
como também os comandantes das Forças Armadas. Esse poder deriva da
legitimidade conferida aos mandatários pelas urnas. E todos devem respeitar a
decisão do presidente eleito, seja qual for. É o que determina a Constituição.
Do mesmo modo, não tem qualquer cabimento
discutir projetos que ampliem ou reduzam o poder de governadores de Estado
sobre as Polícias Civil e Militar. A Constituição também é de uma clareza solar
nessa matéria.
O País tem de se desvencilhar da arapuca
montada por Bolsonaro. A relação entre autoridades políticas constituídas e as
Forças Armadas não é mais ou menos delicada do que a relação com quaisquer
outras instituições de Estado. Trata-se de uma relação pautada, antes de tudo,
pelos termos da Constituição e pelo interesse público. Qualquer coisa fora
disso serve a desejos de poder e veleidades, não ao Brasil.
Uma conta insustentável
O Estado de S. Paulo
Subsídios embutidos na conta de luz
chegaram a quase R$ 26 bi neste ano. Governo eleito precisa enfrentar o tema e
manter benefícios apenas aos grupos que realmente façam jus a eles
No apagar das luzes da atual legislatura,
tramita na Câmara um projeto de lei que prorroga os benefícios de consumidores
que instalam painéis solares em suas residências. Para que os donos dessas
estruturas se livrem do pagamento de todas as taxas de transmissão e
distribuição por 30 anos, o texto repassa esse custo aos consumidores que não
possuem painéis em suas casas. Se aprovada, a proposta deve ampliar o volume de
subsídios embutidos na conta de luz em R$ 40 bilhões, segundo a Frente Nacional
dos Consumidores de Energia.
O projeto é um exemplo claro de políticas
que transferem renda dos mais pobres para os mais ricos, mas não é o único.
Neste ano, os consumidores já pagaram quase R$ 26 bilhões em subsídios, como
mostra uma ferramenta lançada pela Agência Nacional de Energia Elétrica
(Aneel), o “subsidiômetro”. Não fossem esses descontos para tantos grupos de
interesse, as tarifas poderiam estar 12,59% mais baixas.
Esse assunto se tornou uma das questões
centrais do gabinete de transição do governo eleito, de acordo com Mauricio
Tolmasquim, coordenador do grupo de energia da equipe. Ex-presidente da Empresa
de Pesquisa Energética (EPE), Tolmasquim defendeu um pacto entre os agentes do
setor elétrico para frear o avanço de uma rubrica que está a ponto de tornar a
conta de luz impagável. “Cada associação tenta passar a sua medida. É a lei da
selva, e quem paga é o consumidor. É um drama que esse país está vivendo”,
disse. “Até quanto os consumidores vão aceitar pagar a conta?”, questionou.
Tolmasquim tem razão. Nos últimos anos, não
houve uma única proposta a tramitar no Legislativo que tenha passado incólume
de tentativas de criar ou ampliar subsídios e outros custos do setor elétrico
por meio de “jabutis” – emendas que tratam de assuntos que nada têm a ver com o
texto original. A proposta que permitiu a privatização da Eletrobras foi uma
das mais recentes, ao obrigar o governo a contratar termoelétricas a gás em
locais sem reservas nem gasodutos. No caso dos painéis fotovoltaicos, seus
defensores diziam que o pagamento das tarifas que todos são obrigados a pagar
seria o mesmo que “taxar o sol”. É um evidente caso de greenwashing, em que
empresas recorrem a um discurso pretensamente verde como desculpa para defender
a rentabilidade de seus próprios negócios.
Ao longo dos anos, a conta de luz se tornou
um meio de financiar um orçamento paralelo. Diferentemente do Orçamento-geral
da União, no entanto, não há nem mesmo um esburacado teto de gastos para conter
o avanço dos subsídios. Não há mecanismos de fiscalização e controle sobre o
uso dos recursos. Não há avaliação dos resultados das políticas que as tarifas
custeiam. Criar uma nova despesa na conta de luz não requer nem mesmo encontrar
uma fonte para financiá-la. Basta aumentar as tarifas e deixar o desgaste
político com a Aneel.
A energia é uma das variáveis mais
importantes de uma economia. Uma conta de luz muito alta compromete a renda das
famílias e reduz sua capacidade de consumo. Para a indústria, o custo da
eletricidade é um dos indicadores a definir se um país oferece condições para
receber novos investimentos. Se na teoria todos concordam com essas afirmações,
a prática dos parlamentares e das associações tem sido muito diferente. O
governo, por sua vez, tem sido convenientemente leniente nos debates sobre esse
assunto para não ter de arcar com algo que tem sobrado para o consumidor.
A disparada do custo da energia em toda a
Europa em razão da guerra entre Rússia e Ucrânia abre oportunidades de
desenvolvimento para o Brasil, que já detém uma matriz majoritariamente limpa.
Para aproveitá-las, no entanto, o governo eleito precisará enfrentar o
Congresso e as associações, mantendo subsídios apenas para aqueles que
realmente façam jus aos benefícios, como as famílias de baixa renda e projetos
como o Luz para Todos e o Mais Luz para a Amazônia. O diagnóstico já existe e
não vem de hoje, mas exige mais do que discurso. É preciso haver vontade, liderança
e articulação política.
Lobby com regras
O Estado de S. Paulo
Projeto aprovado pela Câmara pode ser
aprimorado, mas encaminha um instrumento de representação essencial
A Câmara dos Deputados aprovou um projeto
de lei regulamentando a atuação de empresas, movimentos sociais e entidades
para influenciar decisões de órgãos públicos, popularmente conhecida como
“lobby”.
O termo vem do inglês para “saguão”, onde
representantes da sociedade civil abordavam políticos para defender seus
interesses. Ainda que no Brasil a prática seja mais antiga que a República, a
sua compreensão no imaginário popular é eivada de ambiguidades. Confunde-se
abuso de poder, corrupção ou tráfico de influência com o exercício da persuasão
ou da pressão para que interesses legítimos se façam ouvir pelo Poder Público.
No Brasil, já há leis criminalizando o lobby “mau”, por assim dizer, mas falta
uma regulação do lobby “bom”.
Trata-se de um passo crucial para a
compatibilização da democracia brasileira às melhores práticas internacionais.
Há décadas dormitam propostas no Congresso – sugerindo um interesse de parte da
classe política em manter essa atividade na surdina. O tema ganhou especial
relevância desde que o Brasil oficializou sua intenção de integrar a
Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Segundo ela, a
regulação é necessária para afastar o risco de monopólio de influência de
grupos estreitos, assim como influências ilícitas, e para fortalecer a
participação popular na elaboração de políticas públicas. Ainda segundo a OCDE,
a regulação deve obedecer a três princípios: a transparência – garantindo o
conhecimento público da intenção dos lobistas e seus beneficiários –; a
integridade – exigindo a conduta ética de lobistas e autoridades e a prevenção
de conflito de interesses e uso indevido de informações privilegiadas –; e o
acesso – assegurando canais de representação a toda a sociedade.
O texto aprovado consolida contribuições
recebidas pelos parlamentares na forma de emendas apensadas ao PL 1.202/07, de
autoria do deputado Carlos Zarattini (PT-SP). O projeto – o mais amplo e
amadurecido, inspirado na lei norte-americana, a mais antiga normatização do
lobby – propõe um cadastramento dos lobistas, que se obrigam a prestar contas
de suas atividades, e cria um regime de responsabilização de agentes públicos e
pessoas jurídicas titulares do interesse representado.
O projeto será apreciado pelo Senado, que
pode e deve debater aprimoramentos. O PSOL, por exemplo, o único partido a
votar contrariamente, adverte contra a normalização de práticas questionáveis,
como a possibilidade de uma empresa pagar hotéis e viagens a agentes públicos.
Algumas entidades questionam uma tipificação excessivamente subjetiva de
infrações que daria poder a autoridades contrariadas para castigar seus
críticos. A extensão do lobby ao Poder Judiciário é também questionável, dado
que nessa esfera a defesa de interesses já tem o trilho bem definido do
processo judicial.
Essas e outras questões merecem atenção. Mas, de um modo geral, a aprovação tem a virtude de encaminhar a regulação de um instrumento de representação e defesa de interesses essencial às democracias maduras.
O Globo
Discussão ressuscitada pela prefeitura
paulistana é meritória, mas não pode esquecer os fatos básicos da economia
A discussão sobre a implantação da Tarifa
Zero nos ônibus, ressuscitada pela encomenda de um estudo a respeito pela
prefeitura paulistana, é movida mais por oportunismo do que pelo desejo de
melhorar a qualidade do transporte. É meritória a tentativa de incentivar os
meios coletivos em detrimento do automóvel particular, mas deixar de cobrar a
passagem é a resposta errada ao desafio.
Algumas cidades brasileiras têm adotado a
Tarifa Zero. São em geral municípios de menor porte, cujo sistema de transporte
nada tem a ver com as redes complexas necessárias para atender a população de
metrópoles como São Paulo ou Rio de Janeiro. Mesmo que possam ter sucesso na
iniciativa, não são exemplos comparáveis.
A questão central tem fundo econômico. Como nada é de graça, a Tarifa Zero só pode existir graças ao subsídio pago pelos impostos de todos os contribuintes às empresas de ônibus. Por mais que possa parecer socialmente justo oferecer transporte gratuito — a exemplo de saúde e educação —, a medida traria vários problemas que seus defensores insistem em não enxergar.
Para começar, é inevitável o aumento na
demanda. Sem correspondente ampliação da oferta, a qualidade cai. Ao mesmo
tempo, o subsídio traz às empresas de ônibus um regime de faturamento
confortável, dependente do Estado, não do serviço prestado ao cidadão. De onde
virá o incentivo para investirem em melhora de qualidade, renovação da frota,
instalação de ar- condicionado, câmbio automático, ou mesmo comodidades como
Wi-Fi etc.?
Em São Paulo, onde surgiu a ideia, a
gratuidade para quem precisa já é realidade. Perto de um quinto dos passageiros
não paga, entre eles idosos, deficientes, estudantes pobres. Apenas um terço
arca com a tarifa cheia. O resto se distribui numa barafunda de regras para
garantir isenção ou descontos a grupos como estudantes ou beneficiários do
vale-transporte. Pelos últimos dados divulgados pela prefeitura paulistana,
transportar um passageiro custava R$ 3,12 em 2019 (a tarifa era R$ 4,30).
Dividindo apenas pelos pagantes, porém, o custo subia para R$ 7,26.
Não é à toa que as empresas de ônibus
tenham se tornado dependentes de subsídios que só fazem crescer — eram de R$
520 milhões em 2011, chegaram a R$ 2,5 bilhões em 2016 e passarão de R$ 4,6
bilhões em 2022. Pela estimativa apresentada na discussão do Orçamento de 2023,
o custo do sistema todo será de R$ 7,4 bilhões no ano que vem. Não há dúvida de
que existem ineficiências, a começar pela manutenção de cobradores, função que
já caiu em desuso no mundo todo. Em vez de resolvê-las, a adoção da Tarifa Zero
tenderia a manter o statu quo.
É inegável que, nas últimas décadas, o
transporte público paulistano melhorou graças a redesenho de linhas,
implantação de faixas e corredores exclusivos, integração a trens e metrôs com
bilhete único e modernização da frota. Isso só aconteceu porque o cidadão que
paga também se mobiliza para exigir um serviço melhor. A utopia da gratuidade
universal esquece tal fato. Apoia-se na noção de que há recursos de sobra para
financiar serviços de qualidade. Como a realidade se encarrega sempre de
mostrar, subsídios têm a mania incorrigível de ser desviados para atender a
interesses particulares. O correto é oferecer gratuidade a quem precisa, como
já se faz, não pôr, no bolso de empresários, dinheiro que os torna ainda mais
dependentes do Estado.
Coordenação do MEC é essencial para superar
desigualdades na educação
O Globo
Distância entre brancos e negros, que já
era dramática, se agravou com fechamento de escolas na pandemia
É bem-vindo o consenso criado na equipe de
transição para o novo governo a respeito do resgate de políticas públicas na
área da educação. Entre elas, está o retorno da secretaria do Ministério da
Educação (MEC) que tratava de ações destinadas a aumentar a diversidade e a
inclusão na rede pública de ensino, extinta na gestão de Jair Bolsonaro. A
Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão
(Secadi), cuja recriação é defendida pelo grupo sob a coordenação do economista
Henrique Paim, ministro da Educação no governo de Dilma Rousseff, terá muito
trabalho pela frente.
Escolhido pela militância de extrema
direita como campo de batalha na guerra ideológica contra a fantasmagórica
ameaça do “marxismo cultural”, o MEC ficou praticamente inerte por quatro anos,
enquanto o cargo de ministro da Educação se tornava um posto de alta
rotatividade. Deixou de cumprir seu papel essencial de coordenador e de apoio a
estados e municípios na pandemia, quando as escolas públicas permaneceram
fechadas por muito mais tempo que o razoável.
Em razão da visão preconceituosa da
educação, o ministério, nas poucas vezes em que agiu, buscou atender a uma pauta
retrógrada, distante das reais necessidades de um país que precisa melhorar a
qualidade do ensino básico e reduzir a taxa de evasão no ensino médio. Gastou
tempo e dinheiro com o lançamento de uma cartilha sobre o ensino doméstico, que
as hostes bolsonaristas insistem em chamar pelo termo em inglês homeschooling.
Numa deplorável perseguição ideológica, o governo fazia pressão sobre o corpo
técnico do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira (Inep), braço do MEC que formula o Enem e testes de acompanhamento da
qualidade do ensino.
O efeito da omissão atingiu com mais
intensidade as populações pobres e os negros. O fechamento das escolas na
pandemia ampliou diferenças que já eram abissais — entre 2016 e 2018, 32% dos
bebês declarados como pardos ou pretos frequentavam creche, ante 39% no grupo
de crianças brancas; em 2019, apenas 58,3% dos jovens pretos e 59,7% dos pardos
concluíram o ensino médio aos 19 anos, ante 75% dos brancos.
Os quatro anos sem qualquer preocupação no MEC com o problema deixaram às secretarias estaduais e municipais a responsabilidade de enfrentar as desigualdades. O trabalho para superar tal abismo e corrigir o atraso provocado pela pandemia é gigantesco. A volta do MEC a seu papel de coordenação fará de 2023 um ano de recuperação de pelo menos parte do tempo perdido no bolsonarismo.
Lobby transparente
Folha de S. Paulo
Prática é necessária em democracias
liberais e falta de regulação gera desmandos
A Câmara dos Deputados aprovou na
terça (29) projeto de lei que regulamenta o lobby no Brasil. A
proposta gera desconfiança porque seu objeto é associado à corrupção, mas
trata-se de um prática não apenas comum como necessária em regimes
democráticos.
Estes se baseiam na interlocução entre a
sociedade e o governo, com o intuito legítimo de esclarecer e apresentar
demandas.
O lobby é a atividade na qual indivíduos,
empresas ou movimentos sociais se organizam para fornecer ao poder público
informações referentes a suas reivindicações e, a partir delas, propor
alteração ou criação de normas e leis.
Contudo a falta de regulamentação gera
incentivos errados: lobistas ficam livres para comprar apoio, e políticos usam
seu poder de decisão para receber benesses
A lei aprovada na semana passada tenta
conter essas distorções por meio de maior transparência.
Entre as regras, está a obrigatoriedade de
que os órgãos federais publiquem informações sobre audiências realizadas com
lobistas, com identificação dos participantes, do cliente, descrição do assunto
e o propósito do interesse.
Outro ponto é proibir a oferta de
presentes. Ficam permitidos apenas objetos de baixo valor, livros e hospedagem
em eventos.
Há críticas a alguns aspectos da lei. Como
a Folha noticiou, entidades apontam brechas no
texto que podem permitir, por exemplo, a oferta de voos a autoridades em
aeronaves particulares. Também se questiona a possibilidade de
sigilo na troca de emails entre lobistas e agentes públicos.
O exame de casos envolvendo parlamentares
por comissão da própria Casa legislativa também é considerado problemático,
dado o risco de corporativismo.
O projeto ainda será debatido no Senado,
que precisa se debruçar sobre essas controvérsias. Mas é fato incontornável que
a ausência de regulamentação do lobby estimula a corrupção, afetando de modo
pernicioso a atividade política e, consequentemente, a economia.
Diversos países avançados, como os EUA,
regulamentaram a atividade há décadas. Não é à toa que a Organização para
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) exige que seus membros normatizem
as relações entre a sociedade civil e o governo a partir da transparência de
informações.
No início deste ano, o Brasil iniciou o
processo de inclusão no grupo, que conta com países ricos e com altos índices
de desenvolvimento.
Cumpre buscar o aperfeiçoamento do texto no
Senado, mas sem que se perca o sentido de urgência na aprovação de uma lei que
aproveite a experiência internacional.
Mais investimento
Folha de S. Paulo
Infraestrutura cresce com novas regras; é
preciso avançar na União e nos estados
Relatório produzido pela Associação
Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) mostra que o
investimento na infraestrutura brasileira cresceu nos últimos anos, mas ainda
não atingiu o patamar necessário.
Neste 2022, o volume
estimado de aportes privados atingiu R$ 131 bilhões, o maior da série histórica
iniciada em 2003, em valores corrigidos pela inflação. Já os
desembolsos do setor público permanecem deprimidos, somando apenas R$ 31,9
bilhões, segundo menor montante desde 2006, considerando todos os níveis de
governo.
No agregado, os valores ainda ficaram 21%
abaixo do recorde da série, observado em 2014. Segundo a associação, o valor
investido neste ano equivale a 1,7% do Produto Interno Bruto, ainda distante
dos 4,3% tidos como necessários para atender as necessidades de crescimento do
país.
As maiores carências estariam nos setores
de transportes, logística e saneamento, que juntos demandam 2,7% do PIB, mas
receberam apenas 0,55%. Energia e telecomunicações já atraem o bastante.
O cenário não é desanimador. Nos últimos
anos, foram grandes os avanços do país nos marcos setoriais, nos modelos de
concessões e parcerias público-privadas e na qualidade dos projetos.
Não por acaso, mesmo com resultados ainda
insuficientes, houve expansão. O mapeamento de 432 projetos e iniciativas
indica potencial de aportes de R$ 544 bilhões. Entre esses, 179 projetos em
andamento precisarão de R$ 173 bilhões nos próximos cinco anos.
Os números ficam ainda maiores quando se
consideram os 172 leilões federais realizados nos últimos quatro anos, com
geração de R$ 179 bilhões em outorgas e plano de investimentos de R$ 922
bilhões.
Há razões para otimismo, em especial, no
setor de saneamento, desde que o
novo governo não volte atrás na modernização do marco regulatório,
que ampliou o espaço para participação privada.
A insuficiência histórica de investimentos
estatais, que manteve 100 milhões de pessoas sem acesso a esgoto, pode finalmente
ser vencida. Com os leilões já realizados e os projetos que devem maturar nos
próximos anos, torna-se pela primeira vez realista falar na universalização dos
serviços.
Decerto é necessário ampliar o espaço para
investimentos nos Orçamentos públicos, o que demanda reformas na estrutura de
gastos. Espera-se que os próximos mandatários persigam esse objeto no governo
federal e nos estados.
Valor Econômico
O “revogaço” preparado por auxiliares de
Lula deve chegar à área ambiental
Foi prolífica a última semana quanto às
notícias da seara ambiental. Deve-se, contudo, lê-las sob a devida perspectiva:
o governo que sai deixa um legado preocupante, e o governo que entra ainda terá
que provar ser capaz de lidar com os enormes desafios que o Brasil enfrenta.
Primeiro, soube-se que o desmatamento na
Amazônia caiu 11,27% no período entre o primeiro dia de agosto de 2021 e 31 de
julho de 2022, chegando a 11.568 km2. No período anterior, a área de floresta
cortada nos nove Estados da Amazônia Legal foi de 13.038 km2. Ou seja, há uma
queda, mas em relação a uma base de comparação inaceitável.
Mas, como publicou o Valor, não há muito o que
comemorar. É observado um quadro preocupante na região, segundo os dados
disponíveis para o período entre agosto e outubro. Foram ao chão 4.020 km2 de
floresta entre esses meses, a maior área registrada para esta etapa de um ano
desde 2015. Os dados dos últimos meses do governo Bolsonaro revelam um aumento de
45% em alertas de desmatamento na região, uma forte tendência de alta. De
acordo com os dados disponíveis, o governo de Jair Bolsonaro (PL) deve terminar
com alta de quase 60% da taxa de desmatamento da Amazônia em relação aos quatro
anos anteriores dos governos de Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB).
A tendência é de alta, em um momento em que
os órgãos de fiscalização foram desmontados e não há orçamento nem funcionários
para conter uma anunciada tragédia.
É esta uma das heranças para o mandato que se
inicia em 2023. Na última segunda-feira, o Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), enviou ofício ao
Ministério do Meio Ambiente informando que estava sem recursos para pagar
despesas básicas. O Ibama, deve-se dizer, é simplesmente o órgão federal de
fiscalização das infrações ambientais do país.
Entre as despesas básicas citadas pelo
presidente do Ibama, Eduardo Fortunato Bim, estão contas de água, energia
elétrica, vigilância e segurança, transporte de servidores, serviços de
telefonia e pagamento a colaboradores terceirizados. Ele mencionou decisão da
Junta de Execução Orçamentária (JEO) para justificar sua decisão de bloquear
parte considerável do borderô do Ibama. A JEO é composta pelo núcleo duro de
qualquer governo, formada hoje pela Casa Civil e o Ministério da Economia. Em
outras palavras, não se pode dizer que algo foi feito sem a anuência - ou em
decorrência - de atos praticados pelas mais altas instâncias do Poder
Executivo.
Por fim, o gabinete de transição informou
algumas medidas que pretende adotar a partir do início do novo governo de Luiz
Inácio Lula da Silva (PT). Segundo integrantes do comitê setorial, a próxima
administração pretende interromper a atividade econômica em fazendas que
realizarem desmatamento ilegal. A ideia do governo eleito é usar o Sistema de
Detecção de Desmatamentos em Tempo Real (Deter) para avaliar quais fazendas
poderão ser alvo de embargo. Estão no radar, também, a retomada de multas por
descumprimento da legislação ambiental e a criação de um “pacto ambiental da
soja sustentável” no Cerrado.
O “revogaço” preparado por auxiliares de
Lula também deve chegar à área ambiental. Estão na mira alguns decretos que
dificultam a aplicação de multas ou impedem a fiscalização da exportação de
madeira em tora.
Em outra frente, afirmaram integrantes do
gabinete de transição instalado no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em
Brasília, o próximo governo pretende fazer o que já se chama de “desintrusão
das terras indígenas”. Nas contas de participantes da equipe, há mais de 35 mil
garimpeiros em localidades consideradas críticas.
O grupo que acompanha o presidente eleito
começa a formar um roteiro com começo, meio e, o mais importante, um fim.
Ocorre que tudo isso desaguará nas discussões sobre a incapacidade de o Estado
brasileiro suprir todas as necessidades orçamentárias apontadas pelo gabinete
de transição. Será preciso definir prioridades e planejar as ações, de forma a
maximizar ganhos e evitar desperdícios.
As discussões sobre a proposta da emenda
constitucional que abrirá espaços no Orçamento a partir do ano que vem só está
começando, mas as diversas áreas do futuro governo já começam a disputar os
recursos que serão colocados à disposição da próxima Junta de Execução
Orçamentária.
A grande imprensa, de forma ainda muito envergonhada, reconhece o desastre do governo bolsonaro. Duas provas, uma dentro da outra. Estes editoriais são uma. A outra é a cobrança para q o LULA faça o q o genocida não fez.
ResponderExcluirPena q não venham acompanhados de um mea culpa.