O Globo
Votação da PEC empaca diante da expectativa de deputados e senadores quanto ao destino das emendas do relator
A probabilidade de o Supremo Tribunal
Federal tesourar para além do esperado o Orçamento secreto paralisou as
negociações da PEC da Transição e ameaça criar um impasse entre os três
Poderes, uma vez que, embora o embate seja com o Judiciário, setores do
Legislativo culpem o futuro governo de Lula por atuar nos bastidores para minar
o instrumento tão caro a deputados e senadores.
A interrupção do julgamento das ações que
pedem a inconstitucionalidade das emendas do relator vai deflagrar uma intensa
negociação de bastidores até segunda-feira para que o voto médio que vem sendo
encaminhado seja assimilado pela cúpula do Congresso. Difícil, uma vez que a
proposta do ministro Alexandre de Moraes retira o poder de Arthur Lira e
Rodrigo Pacheco de arbitrar para onde vão os recursos alocados nas famosas
emendas RP9, o nome “técnico" do Orçamento secreto.
Nesta quinta-feira o placar era todo truncado. Cinco votos pela inconstitucionalidade total do mecanismo, corrente puxada pela relatora das ações e presidente do STF, Rosa Weber, 2 votos pela constitucionalidade, mas com transparência, equidade e fim do poder discricionário do comando do Congresso, e 2 votos, os dos bolsonaristas, a favor do libera geral.
Pelo raciocínio da corrente que advoga o
voto médio, caso se confirme a previsão de que Gilmar Mendes e Ricardo
Lewandowski, que pediram a interrupção da votação, a favor da proposta de voto
médio, o placar final seria de 6 votos dizendo que as emendas RP9 não são
inconstitucionais, o que significaria vitória sobre Rosa e os que a
acompanharam.
Nessa lógica, ministros dizem que Nunes
Marques e André Mendonça nem precisariam rever seus votos para acompanhar o de
Alexandre de Moraes ou outro que seja definido como o voto médio guia, uma vez
que os 4 serão maioria dentro do grupo que achou as RP9 constitucionais, desde
que com ajustes.
Há divergências de avaliação quanto ao grau
de dano do voto de Moraes no poder de fogo de Lira e Pacheco, e o quanto o
Congresso se mostrará disposto a retaliar o que considera uma ingerência
indevida do STF (com a mão invisível de Lula) sobre as prerrogativas do
Legislativo.
Os ministros dizem que, sem que os
presidentes das Casas possam designar quem recebe recursos ou não, “acabou o
Orçamento secreto”. Mas o fato é que a manutenção da rubrica deixa R$ 19,6
bilhões do Orçamento de 2023 para serem distribuídos aos parlamentares. Além
disso, nada indica que deputados e senadores vão desistir de votar a proposta
que enviaram para análise do Supremo, e que Rosa Weber descartou. Ela é bem
mais parecida com o modelo cartorial atual que com o voto de Moraes, o que
anuncia um novo impasse lá na frente.
Quanto à possibilidade de o Congresso
“revidar" o corte de suas asas votando proposta de emenda à Constituição
que signifiquem redução de poderes do Judiciário, os ministros escarnecem.
Lembram o paradoxo da ideia, uma vez que a própria Carta estabelece quem fala
por último, e veda, em cláusulas pétreas, que um Poder suprima prerrogativas
dos demais. Ninguém crê, ainda, que Rodrigo Pacheco estaria disposto a pegar em
armas para defender as emendas do relator tocando adiante impeachment de
ministros do STF.
Assim, o maior prejuízo do climão entre
Supremo e a cúpula do Congresso é mesmo para a votação da PEC da Transição, que
empacou na semana em que deveria ter sido concluída. Os negociadores de Lula
tentarão convencer Lira de que o presidente eleito não pode ser
responsabilizado por decisões do STF, mas a disposição para que se vote
qualquer coisa até o desfecho do destino do Orçamento secreto é praticamente
nula.
Acho que a colunista DESENHOU a situação com impressionante clareza! Parabéns a ela pela excelente coluna, e ao blog por divulgar este trabalho!
ResponderExcluirO nome disso é chantagem.
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