Folha de S. Paulo
Rumor de "desidratação" da PEC da
Transição e de aperto menor nos EUA alivia situação
Até o "pessoal da transição"
começou a dizer que o aumento de gasto em 2023 deve ser bem menor do que os R$
198 bilhões que ainda estão na mesa, diz um deputado próximo do atual e
provavelmente futuro presidente da Câmara, Arthur Lira
(PP-AL).
O deputado diz que pode ser de R$ 135
bilhões, número já citado por Nelson Barbosa e Pérsio Arida, da equipe de
economia da transição, por motivos diferentes. Segundo Barbosa, seria
uma despesa que não implicaria gasto adicional em relação a 2021. Para
Arida, uma espécie de número limite, caso a economia crescesse 2,5%, uma
hipótese improvável, por ora.
Quem da "transição" estaria aceitando um pacote menor? "Já caiu a ficha para quase todo mundo da transição política, até para o [Geraldo] Alckmin".
Outros deputados dizem que, acertadas a
reeleição de Lira e "algumas comissões [da Câmara] importantes", a
PEC da Transição passa, "até sem acerto de ministério". Mas Lira
guardaria cartas na manga, articulando para aprovar menos do que R$ 198 bilhões
e por no máximo dois anos, o que já estaria sendo
acertado com o comando do Senado e de partidos maiores do centrão.
Há projetos que limitam a despesa adicional
(além do previsto para o Orçamento de 2023) a até R$ 90 bilhões. Mas
articuladores de Senado e Câmara (que não os lulistas) também acham isso
"pouco". Daria para cobrir a despesa com a elevação do Bolsa Família
para R$ 600 mensais e sobram uns R$ 38 bilhões.
Se Luiz Inácio Lula da
Silva perder essa primeira querela, vai ganhar e todo mundo vai
ganhar, parafraseando o dito histórico de Dilma Rousseff.
A situação fiscal vai continuar ruim e, com
qualquer coisa além de R$ 90 bilhões, a dívida pública vai crescer rápido para
um nível perigoso, tudo mais constante. O que pode mudar? Haver um plano de
contenção da dívida, a tal nova regra fiscal, que limite a despesa já em 2024,
e um crescimentozinho melhor do PIB e da arrecadação.
Se o Congresso contiver o pacotão da PEC,
contribui para um crescimento do PIB de 2023 maior do que o previsto (ora 1%);
receita (em relação ao PIB) não deve cair tanto como está exageradamente
estimado até agora.
Com mais receita, o déficit será um tanto
menor; o tamanho relativo da dívida diminui também com um PIB maior. Não será
grande coisa. O governo continuaria dirigindo o carro na borda do precipício,
com pouca margem de manobra.
Desde os "Lula Days", o 9 e 10
novembro em que Lula
menosprezou o tamanho do rolo fiscal, a taxa de juros de um ano subiu. Até
terça-feira, ainda estava 1 ponto percentual maior (saiu da casa do 13,3% ao
ano para 14,3%), bem ruim. Nesta quarta-feira, com o boato de que a PEC será
"desidratada", baixou a 13,9%. Pode melhorar muito ainda. Se vier
bobagem, pode piorar rápido.
Ainda assim, apenas voltaríamos ao problema
original: juros altos e falta de perspectiva de contenção do aumento da dívida.
Ou seja, Lula começaria o governo com um entulho para tirar da frente, um
obstáculo ao crescimento econômico.
O presidente eleito, no entanto, pode ter
alguma sorte, por assim dizer. O Congresso pode fazer o serviço de talhar o
pacotão fiscal da transição. A situação do mercado de trabalho ainda melhora, o
esfriamento da economia está vindo devagar. É possível que as taxas de juros
nos EUA aumentem mais devagar e menos.
A perspectiva era de furacão em 2023. Talvez venha apenas tempestade tropical. No entanto, isso não refresca o nosso problema de base, no que diz respeito à questão fiscal. Apenas tiraria um bode da sala. Fica um outro lá, engordando: uma dívida pública grande que deve voltar a crescer sem limite.
Começou bem, confundiu-se pelo meio e acabou numa barafunda.
ResponderExcluirJá escreveu melhor, antes
Ficou meio confuso mesmo.
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