O Estado de S. Paulo
Lula está chamando para si o controle da
política econômica
No condomínio que Lula prometeu construir
para governar, Arthur Lira já assegurou o melhor apartamento do prédio, o da
cobertura. Sem saída, o PT o apoia para a reeleição. Espera em troca um
presidente da Câmara governista. Ele trará consigo para a base, além do PP, uma
metade não bolsonarista do PL (cerca de 40 deputados). Somados aos
parlamentares que o PT já controla (cerca de 11% da Câmara), e mais PSD, MDB e
União Brasil, o número desse apoio deve atingir confortáveis 300.
Mas a questão principal não é a do apoio escrito no papel. É qual a capacidade do presidente eleito de ditar a agenda política e econômica. Ela está ainda indefinida. A PEC com licença para gastar com o Bolsa Família não é um plano de governo.
Será aprovada por pura conveniência de
várias forças políticas. Mas desidratada e severamente contida nas pretensões
iniciais por ação do próprio PP de Lira. Dentro do esperado: não há registro de
caciques do Centrão jamais terem assinado um cheque em branco.
Os limites à agenda foram sinalizados a
Geraldo Alckmin, o chefe da assembleia de transição, pelo presidente do Banco
Central, que o alertou em público, ao vivo e em cores, sobre o “momento Truss”.
É quando as forças de mercado impõe a um governo o alcance de uma política
fiscal. Ao contrário do que se pensa ao redor de Lula, o “momento Truss” não
vem de uma articulação malvada de especuladores. É consequência de expectativas
frustradas de milhares de agentes econômicos.
Da mesma forma, via Alckmin, mas também por
interlocução direta, Lula foi alertado para o fato de que mais importante que o
nome do ministro da Fazenda é esclarecer os rumos que pretende adotar. Neste
momento, a escolha de Lula está definida: é Fernando Haddad.
A insistência em Haddad demonstra mais do
que o empenho em nomear alguém de absoluta lealdade pessoal. Reitera que o
“dono” da política econômica será exclusivamente ele, Lula. O que permanece
indefinido é a quem Lula pretende ouvir para tomar decisões.
O setor da assembleia de transição dedicado
à economia contém cabeças pensantes adeptas de doutrinas antagônicas que
excluem uma “síntese” entre elas, pois partem de princípios divergentes –
começando pelo próprio diagnóstico do que sejam as causas da estagnação
brasileira. Portanto, de seus possíveis corretivos.
Lula se oferece como garantia pessoal de
responsabilidade fiscal. E como garantia pessoal de comprometimento com a causa
social. Como Lira acabou de demonstrar, tendo de dividir o poder. E com uma
feroz oposição do lado de fora do Parlamento. A julgar pelo que o presidente
eleito fez nos mandatos anteriores, ele vai tentar acomodar tudo isso. Na base
do dia a dia.
Assim seja!
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