quarta-feira, 13 de abril de 2022

Vera Magalhães: Partidos favorecem a polarização por W.O.

O Globo

Um dos maiores problemas no surgimento de uma ou mais candidaturas competitivas para enfrentar Lula e Jair Bolsonaro, além da falta de um projeto, é o total desinteresse das cúpulas partidárias em viabilizar qualquer nome.

Essa evidência fica mais clara a cada dia. Os discursos de que “temos de fazer frente à polarização”, ou “nem um nem outro” são para enganar eleitores e pré-candidatos incautos.

Nunca antes numa disputa presidencial houve tamanha inapetência por parte de legendas em chegar ao poder nacional. Isso diante do pior governo já eleito na História da República, que deveria gerar em todos um sentido (real, não teatral) de urgência para resgatar o Brasil do buraco.

O retrospecto recente em países que se transformaram em autocracias mostra que, a partir da primeira recondução de governantes autoritários, as instituições sofrem corrosão ainda mais severa, e os mecanismos para proteger direitos e garantir a alternância de poder vão sendo subvertidos.

Bolsonaro, se reeleito, terá a possibilidade de indicar dois ministros do Supremo Tribunal Federal no primeiro ano do segundo mandato. Apenas isso deveria ser razão para mobilizar genuinamente o sentido de responsabilidade dos democratas de todas as cores partidárias.

Mas nossos caciques políticos se apequenaram de tal maneira que, hoje, estão mais ocupados com o jogo miúdo da montagem das nominatas, as chapas que assegurarão maiores ou menores bancadas na Câmara.

Bernardo Mello Franco: Milagres de Páscoa

O Globo

O coelhinho da Páscoa chegou mais cedo a Brasília. Às vésperas do feriado, o governo montou uma força-tarefa para melar a investigação do escândalo no MEC. Tocados pelo espírito cristão, três senadores retiraram suas assinaturas pela criação de uma CPI. A quarta inovou: disse que o jamegão não era dela.

O caso de Rose de Freitas é o mais curioso. Na semana passada, a emedebista foi recebida por dois ministros de Jair Bolsonaro. Na quarta-feira, esteve com Ciro Nogueira e Célio Faria Júnior. Na quinta, voltou a se encontrar com o chefe da Secretaria de Governo.

A última reunião no Planalto terminou às 13h20. Quatro horas depois, Rose subiu à tribuna do Senado e disse nunca ter apoiado a CPI. Ela alegou ter sido vítima de fraude, embora sua assinatura eletrônica apareça em ofício enviado à Secretaria-Geral da Mesa.

Como o MDB não é para amadores, Rose marcou presença no jantar oferecido ao ex-presidente Lula na segunda-feira. Ontem ela recuperou o furor investigatório e apoiou a criação de uma CPI sobre obras de gestões petistas. O objetivo da manobra é óbvio: chantagear a oposição e blindar a quadrilha do MEC.

O senador Weverton Rocha, do PDT, alegou motivos religiosos para desistir da CPI original. Disse que desejava evitar a “criminalização” dos evangélicos. O pedetista conhece bem os personagens do escândalo. Em março, gravou vídeo ao lado do pastor Gilmar Santos, acusado de cobrar propina para acelerar a liberação de verbas destinadas a escolas e creches.

Elio Gaspari: De George Patton para Braga Netto

O Globo / Folha de S. Paulo

Eu queria distribuir penicilina e levei uma bronca

Estimado general,

Ontem almocei com a turma na casa do Franklin Roosevelt. Ele saiu daí há exatos 77 anos. O presidente estava com a mulher, Eleanor, e a namorada, Lucy. Encontrei o general George Marshall, meu chefe durante a Segunda Guerra, e o Eisenhower, comandante das nossas tropas na Europa. Não sei quem trouxe o assunto, mas a conversa tomou um rumo picaresco: o senhor foi ministro da Defesa, e as Forças Armadas brasileiras compraram 35 mil comprimidos de Viagra. Essa droga não existia no meu tempo, apesar de eu nunca ter precisado dela. Aqui onde estamos, ninguém precisa de estimulantes.

O Marshall estava horrorizado. Ele lembrava que o senhor havia usado seu nome durante a pandemia para fazer publicidade de um programa de gastos do governo. Marshall é um grande sujeito, reservado e casto. Imagine que, em 1943, numa visita a Hollywood, um magnata da indústria cinematográfica pediu-lhe que escolhesse uma atriz para acompanhá-lo ao jantar. Ele atravessou a sala e convidou Margaret O’Brien, uma menina de 6 anos. Ninguém faria mexericos à sua custa.

Luiz Carlos Azedo: Ideias de Lula e Bolsonaro têm raízes profundas

Correio Braziliense

Há um Brasil submerso, cujas raízes históricas nos dão algumas pistas sobre a radicalização política que estamos vivendo, na qual Lula e Bolsonaro lideram a polarização eleitoral

A polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lidera as pesquisas da corrida eleitoral para o Planalto, e o presidente Jair Bolsonaro (PL) tem muitas explicações. As mais evidentes são o recall dos dois mandatos do petista como chefe do Executivo, de um lado, e as vantagens estratégicas de uma candidatura à reeleição no pleno exercício do mandato, na qual a inércia do poder favorece o presidente da República, como aconteceu com Fernando Henrique Cardoso, o próprio Lula e Dilma Rousseff.

Decorrem daí as dificuldades dos demais pré-candidatos para romper a polarização, ou seja, de Ciro Gomes (PDT), Sergio Moro (União), João Doria (PSDB) e Simone Tebet (MDB). Mas isso apenas não explica a resiliência de Lula, que chegou a ser preso na Operação Lava-jato, acusado de envolvimento com a corrupção no seu governo, nem a de Bolsonaro, que protagonizou o negativismo antivacina durante a pandemia de covid-19, cujo saldo de 661 mil mortes não foi suficiente para tirá-lo do páreo, assim como a estagnação, o desemprego e a maior inflação da história do real. Há um Brasil submerso, cujas raízes históricas nos dão algumas pistas sobre a radicalização política que estamos vivendo.

Fernando Exman: Discurso de Lula em nova metamorfose

Valor Econômico

Aliados pedem cautela a Lula e criticam excesso de confiança

Existe a convicção, no entorno do presidente Jair Bolsonaro, que entre maio e junho as pesquisas de intenção de voto irão colocá-lo empatado com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Mas até lá, a inflação é o principal assunto a ser evitado e, portanto, nada melhor do que Lula ocupando o noticiário com declarações controversas para desviar as atenções do que realmente preocupa milhões de eleitores.

Só o tempo dirá se será confirmado esse cenário, considerado hoje improvável por aliados de Lula e impossível pelos partidos que tentam emplacar uma candidatura de terceira via. Porém, é a projeção com a qual trabalham os partidos do Centrão que orbitam o gabinete presidencial. E é baseada nela a estratégia governista que vai sendo colocada em execução: convencer o eleitor que Lula, se reeleito for, será guiado por ressentimentos e conduzirá seu governo pela pista da esquerda.

Essa tranquilidade de lideranças do Centrão, é verdade, pode até ser justificada pela certeza de que as verbas das emendas de relator ao Orçamento continuarão sendo distribuídas. Sejam quais forem os dados das próximas pesquisas ou, até mesmo, o resultado da eleição.

Nilson Teixeira: Janela partidária favoreceu Bolsonaro

Valor Econômico

Atenuação da pandemia e transferência de recursos para os pobres melhoram a imagem do presidente

O núcleo partidário da candidatura do presidente Bolsonaro à reeleição - PL, Progressistas, Republicanos, PSC e PTB -, com 187 deputados federais, tem uma representação na Câmara dos Deputados muito maior do que a da esquerda e da centro-esquerda - PV, Rede, PSB, PDT, PT, PC do B e PSOL, com 117 representantes. Ademais, Patriota, Novo, Avante, Podemos, PROS, União Brasil, PSD, Solidariedade, MDB, PSDB e Cidadania, com votações altas a favor das propostas do governo Bolsonaro, contam com 209 deputados.

A construção por Bolsonaro de uma ampla base de apoio no Congresso, mantidas as atuais representações, seria muito mais simples do que para Lula. Bastaria atrair o apoio integral dos partidos do seu núcleo de apoio, 85% dos deputados do Patriota, Novo, Avante, Podemos, PROS, União Brasil, PSD e Solidariedade e 65% dos representantes do MDB, PSDB e Cidadania para Bolsonaro obter uma maioria próxima a 350 votos, mais do que o suficiente para aprovar emendas à Constituição.

Vinicius Torres Freire: A comida mais cara em 32 anos

Folha de S. Paulo

Disparada de preços de alimentos medida pela FAO é recorde e balança política

O preço de carnes, grãos, derivados de leite, óleos e açúcar não era tão alto faz pelo menos 32 anos, segundo as contas da FAO, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura. Altos em termos reais, descontadas outras inflações da economia mundial.

A inflação americana, da gasolina em particular, ajuda a derrubar a popularidade do presidente Joe Biden. Os preços para o consumidor americano aumentaram 8,5% em março (na comparação com março do ano passado), ritmo mais veloz em mais de 40 anos. A comida em casa ("groceries") aumentou 10%.

Na França, os preços subiram menos, 4,5%. Mas foram o tema das semanas finais da campanha eleitoral, o que ajudou a colocar Marine Le Pen nos calcanhares do presidente Emmanuel Macron. A candidata da extrema direita promete cortar impostos sobre consumo de bens do dia a dia. Na Europa do euro, a inflação anual está em 7,5%. No Brasil, em 11,3%.

Alexa Salomão: Deus tudo vê, presidente

Folha de S. Paulo

Governo e apoiadores podem negar, mas Deus tudo vê (Hebreus 4:13)

O governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) gosta de embaralhar a agenda de costumes, o discurso de apelo moral e citações bíblicas até para tratar de temas técnicos. Mais recentemente, ele e aliados passaram a fazer correlações entre predileções divinas e a atual gestão, para reforçar como merecem ser reeleitos no pleito deste ano.

Em 22 de março, em evento no Tocantins, a fala foi clara. "Quero dizer da satisfação e do orgulho, da missão dada por Deus, de estar à frente do Executivo federal, buscando atender a todos os brasileiros, zelando pelo dinheiro público. Estamos há três anos e três meses sem corrupção no governo federal."

A fala ocorreu no dia seguinte à divulgação, pela Folha, do áudio em que o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro explica os critérios adotados para organizar a liberação de recursos da pasta. O ministro afirma na gravação que prioriza amigos de pastor a pedido do presidente.

Hélio Schwartsman: A normalização de Le Pen

Folha de S. Paulo

Marine Le Pen trabalhou para amenizar a imagem de radicalismo da legenda

Passaram para o segundo turno da eleição presidencial francesa Emmanuel Macron e Marine Le Pen, reprisando o embate de 2017. A crer nas pesquisas, o cenário é mais favorável a Macron, mas a disputa deverá ser mais apertada que a de cinco anos atrás. O que aconteceu?

Marine Le Pen é a herdeira, biológica e política, de Jean-Marie Le Pen, da Frente Nacional, um partido de extrema direita com ideias racistas. Nos últimos anos, Marine trabalhou para amenizar a imagem de radicalismo da legenda, que rebatizou de Reunião Nacional. Conseguiu, em parte porque adotou bandeiras menos extremistas, em parte pelo efeito comparação.

Num mundo povoado por Putins, Trumps, Bolsonaros, Dutertes e Orbáns, Le Pen nem parece um nome tão exótico. Mais importante, ela defende posições muito parecidas com as da esquerda na questão previdenciária e, por insistência, conseguiu fazer com que o discurso anti-imigração se insinuasse até na plataforma de Macron. O francês médio que olha para os lados vê cada vez menos Marine Le Pen como a extremista xenófoba contra a qual vale se unir até com o diabo.

Alckmin defende pauta liberal em programa de Lula

Ex-governador de SP, que deve ser candidato a vice do petista, busca incluir discurso crítico à burocracia do estado

Sérgio Roxo / O Globo

SÃO PAULO — O ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB) quer incluir a pauta da desburocratização — tema clássico da agenda econômica liberal e também explorado pelo governo Bolsonaro — no programa de governo da chapa encabeçada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Nas próximas semanas, ele deve apresentar as suas propostas para a equipe liderada pelo ex-ministro Aloizio Mercadante, escalado para coordenar o documento, e o tema deve estar em destaque.

Na carta na qual indicou Alckmin para o posto de vice, apresentada na sexta-feira da semana passada, o PSB pedia participação na elaboração do programa de governo da candidatura. Os representantes do partido de Alckmin que participarão da elaboração das propostas devem ser indicados nos próximos dias.

Em evento no último sábado da pré-candidatura de Márcio França (PSB) ao governo de São Paulo, Alckmin revelou a sua intenção de levar o tema da desburocratização para a campanha presidencial. O ex-governador disse que o país tem “burocracia permanente”, o que eleva o “custo Brasil”:

— Eu pretendo incluir isso na agenda de competitividade do Brasil: desburocratizar. Temos uma cultura cartorial, de criar regra, lei e norma para alguém cumprir e gastar dinheiro.

Roberto DaMatta: A felicidade não se compra

O Globo / O Estado de S. Paulo

Esse é o título em português do filme de Frank Capra “It’s a wonderful life”, obra que consolida o cinema como capaz de competir com a melhor literatura. Capra confessa em sua autobiografia, “The name above the title” (“O nome acima do título”), que investiu nele “tudo o que era e tudo o que sabia”.

No fim da Segunda Guerra Mundial — ele serviu no Departamento de Propaganda —, Capra estava afastado do ambiente ultracompetitivo de Holywood e, perto dos 50 anos, apostou na história “The greatest gift” (“O maior presente”), um conto de Van Doren Stern inspirado num sonho e, em 1943, rejeitado por revistas e divulgado pelo autor em 200 cartões de Natal. Foi assim que virou filme a história do pai de família quebrado, como muitos neste Brasil de 2022, que tenta se matar, mas a quem um anjo, enviado pelas preces dos seus entes queridos, realiza o milagre de fazer ver a falta que sua existência faria caso não tivesse nascido e vivido — nosso maior presente.

Nicolau da Rocha Cavalcanti*: A imagem do STF e a cidadania

O Estado de S. Paulo

A autoridade e o prestígio do Supremo Tribunal Federal são imprescindíveis para que a Constituição seja respeitada.

O País tem o desafio político-institucional de reequilibrar, nos próximos anos, as relações entre o Legislativo e o Executivo, especialmente no tema orçamentário. Na última década, governos fracos e legislaturas hábeis fizeram com que o Congresso assumisse parte da execução do Orçamento, o que, entre outros danos, reduz a transparência, dificulta o controle dos gastos e limita a capacidade de definir políticas públicas a partir de evidências.

Mas há outro desafio político-institucional, de não menor envergadura, que precisa ser enfrentado: melhorar substancialmente a imagem do Supremo Tribunal Federal (STF). Mais do que meras questões da Corte e de seus ministros, a autoridade e o prestígio do STF são imprescindíveis para que a Constituição seja efetiva e pacificamente respeitada.

A empreitada não é fácil. Neste século, o STF foi alçado a um novo patamar de exposição midiática e, consequentemente, de controvérsia. Sendo a Constituição de 1988 abrangente, o Supremo foi instado a se manifestar sobre os mais variados assuntos e disputas. Além disso, em razão do sistema de foro especial por prerrogativa de função, o STF julgou ações criminais com impacto direto na política e no imaginário coletivo. Neste diapasão, polêmicas e rixas em torno do STF são fatos da vida.

Marcelo Godoy: As prioridades de Bolsonaro

O Estado de S. Paulo

Análise de 316 publicações da família presidencial exibe o caráter de sua ação eleitoral

Jair Bolsonaro subiu ao palco. Afastou o tradutor de libras para ser visto. Era domingo, 27 de março. No evento do PL, definiu a eleição deste ano como a “luta do bem contra o mal”. Naquele dia, sua conta no Twitter exibia uma sequência de três tuítes sobre realizações no Nordeste. Na mesma rede, o filho Carlos exaltava o governo, Flávio julgava ser dia de usar verde e amarelo e Eduardo negava acusações de campanha antecipada.

Quem sai aos seus não degenera? A análise das publicações no Twitter dos Bolsonaros entre aquele 27 e o 9 de abril permite ir além da obviedade de o fruto não cair longe da árvore. Ela exibe o caráter da ação da família presidencial nas duas primeiras semanas da pré-campanha eleitoral. São 316 tuítes, retuítes e sequências de tuítes. Azuis e vermelhos têm o mesmo espaço: a promoção do governo e aliados soma 127 publicações e o ataque a inimigos, 138.

Se política é arte, ali está a dos Bolsonaros. A luta do bem contra o mal se liga à visão do que é a liberdade e sua relação com a política. Políticos influenciados por um certo hobbesianismo só concebem a liberdade como libertação de todo medo. É por pensar que a liberdade como princípio se manifesta na política só na presença da segurança que Bolsonaro associa a vitória de qualquer adversário à perda da liberdade e ao mal. Sabe-se ainda que o princípio por trás de uma ação só se torna visível quando ela é executada. E não perde o vigor na execução da ação. Assim são a honra, a glória, o medo e o ódio.

Paulo Delgado*: A virtude do eleitor pendular

O Estado de S. Paulo

A mecânica do pêndulo pode ajudar o cidadão a refletir sobre seu papel para não deixar a Nação entregar os pontos.

Eleição no Brasil é crise, não sucessão. Especialmente quando candidatos cacarejam como se botassem ovos magníficos. Com mais uma eleição de partidos estatais que não representam a sociedade, teremos o fracasso de uma geração. A pequena política das corporações criou o ardil da polarização.

Agora, quando os polos extremos do agonizante modelo populista excederam seu direito de errar – governos de esquerda como a maior distância entre o que o eleitor esperava e o que de fato aconteceu, e governo de direita como a menor –, é a hora de apelar para o sangue frio. Não deveria ser ingenuidade esperar que os polarizados participassem da eleição somente como os principais eleitores de suas ideias originais. Como insistem em querer ser o sol que não declina, que ao menos reconheçam seu papel de tranca rua.

Diante da hegemonia esgotada que deles emana e freia a extensão autônoma da vida dos brasileiros, poderiam ter a grandeza de De Gaulle, que soube a hora de parar e deixar nova explanação emergir. Nosso principal dilema é evitar o fim do social para não privar o País do seu futuro. O instinto insano pelo poder é o escárnio que completa o retrato de uma eleição sufocante e interiorana.

União Brasil ignora Moro e anuncia Bivar como pré-candidato

Líder do União Brasil diz que Bivar será pré-candidato à Presidência: 'Irrevogável'

Elmar Nascimento afirma que candidatura do presidente do partido será apresentada ao MDB e ao PSDB, que negociam candidatura única da terceira via

Bruno Góes / O Globo

BRASÍLIA — O líder do União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento (BA), anunciou nesta terça-feira que o partido irá indicar o nome do deputado Luciano Bivar (PE) como nome do partido para a disputa presidencial. A sigla negocia com o PSDB e com o MDB uma candidatura única, a ser anunciada no dia 18 de maio.

Nesta terça-feira, segundo Nascimento, a bancada deliberou pelo nome de Bivar por unanimidade. Na quinta-feira, os parlamentares esperam que a indicação seja ratificada pela direção do partido.

— O nome dele é irrevogável. Só se ele desistir lá na frente é que não teremos o nome dele — afirmou Elmar.

Com a candidatura de Bivar, o advogado Antonio Rueda deve assumir o comando da sigla.

MDB dividido entre apoio a lula ou a Tebet

Pré-candidatura de Simone Tebet gera queda de braço entre alas do MDB, que será decidida na convenção

Caciques como o senador Renan Calheiros e o ex-presidente do Senado Eunício Oliveira sinalizaram intenção de derrubar candidatura da correligionária; dirigentes de Minas Gerais, Paraná e Goiás endossam apoio à parlamentar

Bernardo Mello, Bruno Góes e Camila Zarur / O Globo

RIO e BRASÍLIA — Em uma prévia das divisões internas no caminho da convenção nacional do MDB, prevista para julho, lideranças favoráveis e contrárias à homologação da senadora Simone Tebet (MS) como pré-candidata à Presidência mediram forças, ontem, após um jantar de emedebistas com o ex-presidente Lula (PT). Alguns caciques regionais que conversaram com o petista, como o senador Renan Calheiros (AL) e o ex-presidente do Senado Eunício Oliveira (CE), sinalizaram que podem tentar derrubar a candidatura de Tebet na convenção partidária. Em reação, dirigentes de estados como Minas Gerais, Paraná e Goiás endossaram publicamente o nome da senadora.

As convenções, que ocorrerão entre 20 de julho e 5 de agosto, são a etapa na qual os partidos oficializam seus candidatos. No caso do MDB, o estatuto da legenda prevê uma votação secreta, por maioria simples, com peso mais elevado para os estados com as maiores bancadas na Câmara e lideranças que acumularam cargos eletivos ou na máquina partidária ao longo de sua trajetória política. O formato tende a diluir a influência dos caciques de quatro estados do Nordeste — Alagoas, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte — que já sinalizam abertamente priorizar Lula. Líderes desses estados encontraram o petista anteontem, em Brasília, na residência de Eunício. O ex-presidente também já colheu apoios de emedebistas no Piauí, na Bahia e no Pará.

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

EDITORIAIS

É preciso evitar os erros do passado no uso dos royalties

O Globo

A alta de preços do petróleo que convulsiona a economia mundial traz, ao mesmo tempo, uma onda de bonança a estados e municípios beneficiados com os royalties da exploração. Ajudados também pelo dólar alto e pelo aumento da produção do pré-sal, governadores e prefeitos de regiões produtoras veem o dinheiro jorrar como nunca. É uma dádiva, num momento em que as finanças ainda tentam se recuperar do baque da pandemia. Mas a maré boa esconde uma armadilha em ano eleitoral, com gestores ávidos por distribuir aumentos salariais para fazer subir seus índices de aprovação. É preciso saber gastar, evitando erros e desperdícios do passado.

Como mostrou reportagem do GLOBO, a arrecadação de União, estados e municípios com royalties e participações especiais da produção de petróleo e gás já havia aumentado 65% em 2021. Para este ano, é esperado um novo salto de quase 60%. Pela estimativa da Agência Nacional do Petróleo (ANP), o total iria para R$ 118,7 bilhões, mais de R$ 40 bilhões acima dos R$ 77 bilhões previstos em janeiro, antes da guerra na Ucrânia e da consequente disparada nas cotações (em março, o barril do tipo Brent bateu em US$ 139, maior valor desde 2008).