O Globo
Um dos maiores problemas no surgimento de
uma ou mais candidaturas competitivas para enfrentar Lula e Jair Bolsonaro,
além da falta de um projeto, é o total desinteresse das cúpulas partidárias em
viabilizar qualquer nome.
Essa evidência fica mais clara a cada dia.
Os discursos de que “temos de fazer frente à polarização”, ou “nem um nem
outro” são para enganar eleitores e pré-candidatos incautos.
Nunca antes numa disputa presidencial houve
tamanha inapetência por parte de legendas em chegar ao poder nacional. Isso
diante do pior governo já eleito na História da República, que deveria gerar em
todos um sentido (real, não teatral) de urgência para resgatar o Brasil do
buraco.
O retrospecto recente em países que se
transformaram em autocracias mostra que, a partir da primeira recondução de
governantes autoritários, as instituições sofrem corrosão ainda mais severa, e
os mecanismos para proteger direitos e garantir a alternância de poder vão
sendo subvertidos.
Bolsonaro, se reeleito, terá a
possibilidade de indicar dois ministros do Supremo Tribunal Federal no primeiro
ano do segundo mandato. Apenas isso deveria ser razão para mobilizar
genuinamente o sentido de responsabilidade dos democratas de todas as cores
partidárias.
Mas nossos caciques políticos se apequenaram de tal maneira que, hoje, estão mais ocupados com o jogo miúdo da montagem das nominatas, as chapas que assegurarão maiores ou menores bancadas na Câmara.