Valor Econômico
Governo demora em nomear indicados
A edição de quarta-feira (18/01) do Diário
Oficial da União trouxe a nomeação de José da Silva Catalão para o cargo de
Assistente do Gabinete Pessoal do Presidente. O ato tem impacto político e
financeiro diminutos, pois se trata de uma posição intermediária (numa escala
de dezoito degraus, trata-se do nível 7). A mensagem é muito mais simbólica.
Catalão foi copeiro durante a primeira passagem de Lula pelo Palácio do Planalto e continuou a exercer suas funções na gestão de Dilma Rousseff. Após o impeachment, ele foi exonerado imediatamente por Michel Temer, numa onda de demissões coletivas que não poupou nem o senhor que servia o cafezinho no terceiro andar do prédio.
A volta de Catalão busca transmitir a
imagem de que Lula corrigirá injustiças cometidas enquanto o PT esteve longe do
poder federal. A nomeação do garçom tem um simbolismo bonito, tanto que foi
manchete dos principais jornais e portais da internet na semana passada. Em
termos políticos, porém, os aliados do petista têm reclamado do conteúdo de
outras publicações da Imprensa Oficial.
Chegamos à última semana do primeiro mês do
governo, e até agora os verbos “dispensar” e “exonerar” ainda são os mais
conjugados na Seção 2 do DOU, aquela que traz os atos de pessoal do governo
federal. Nomeações, como a de Catalão, são difíceis de encontrar. Para os
cargos mais altos, têm sido raríssimas.
Trocas de governo geralmente causam um
congestionamento nos procedimentos de análise dos indicados para os principais
cargos dos ministérios. Quando há uma alternância brusca entre o perfil dos
presidentes, esse problema tende a ser agravado. Foi o que aconteceu em 2003,
com a passagem de bastão de FHC para Lula, e em 2016, quando Temer assumiu após
a destituição de Dilma. Com Bolsonaro em 2019 esse processo se repetiu, devido
a uma grande reformulação nos ministérios e a indicação de milhares de
militares e policiais para postos estratégicos (e outros nem tão importantes
assim).
Nesse sentido, com a vitória de Lula, já
era de se esperar uma mudança bastante significativa nos quadros dos
ministérios nas primeiras semanas de 2023. O atentado de 8 de janeiro, porém,
precipitou um movimento de “limpeza” mais profunda, atingindo muito mais
cargos.
O problema é que há um grande descompasso
entre as exonerações dos colaboradores do governo Bolsonaro e as nomeações dos
seus sucessores, gerando uma descontinuidade decisória que tem paralisado o
governo neste começo.
Representantes da Casa Civil negam, mas a
demora nas nomeações tem sido atribuída à criação de novos filtros na triagem
que o órgão realiza para aprovar a publicação das portarias que autorizam a
posse de secretários, diretores e assessores especiais de ministros. Além do
currículo e dos antecedentes criminais dos candidatos, que são de praxe,
posicionamentos em redes sociais também têm sido checadas - algo que o governo
Bolsonaro também fazia, é importante dizer.
No caso atual, porém, há uma pressão muito
mais forte vinda de membros do PT, movimentos sociais e ativistas de esquerda
que não admitem a participação de quem já tenha feito declarações de apoio à
Lava Jato ou tenham deixado nas redes traços de simpatia com o bolsonarismo.
Essas restrições impactam de forma mais
significativa os ministérios distribuídos a partidos aliados que não fizeram
parte da coligação de esquerda que elegeu Lula. As indicações de MDB, União
Brasil e PSD têm sido monitoradas com lupa pela esquerda.
Uma evidência das dificuldades enfrentadas
pelos estranhos no ninho petista é que até mesmo seus auxiliares mais diretos,
os secretários executivos, vêm sendo nomeados a conta-gotas.
Na hierarquia governamental, os titulares
das Secretarias Executivas são considerados vice-ministros, pois fazem a
máquina do órgão funcionar. Sob o seu controle está toda a gestão corporativa
do órgão, do orçamento à gestão de pessoas, cabendo a eles ainda a coordenação
entre as diversas secretarias setoriais.
Bons observadores das manobras políticas em
Brasília costumam analisar o perfil dos nomeados para aferir o grau de
confiança que o presidente dá a seus auxiliares. No jargão da capital federal,
um ministério é dado a um partido “de porteira fechada” quando seu ministro tem
liberdade total para efetivar todos os cargos sob sua gestão, do garçom aos
secretários.
Entre os nove ministérios entregues por
Lula para MDB, União Brasil e PSD, apenas cinco tiveram seus secretários
executivos oficializados até a sexta-feira (20/01).
Embora poucas, os sinais até o momento são
de que Lula cumprirá o acordo e entregará os ministérios de “porteira fechada”.
Em quatro casos, pelo menos, os “vice-ministros” têm uma relação próxima com
seus chefes imediatos.
Daniela do Waguinho (Turismo) trouxe
Wallace Nunes da Silva, servidor da Câmara municipal de Belford Roxo, município
administrado por seu marido, enquanto Carlos Fávaro (Agricultura) nomeou seu
antigo chefe de gabinete no Senado, Irajá Lacerda.
O ministro Jader Barbalho Filho (Cidades)
trouxe para auxiliá-lo o deputado maranhense Hildo Rocha, também do MDB. Waldez
Góes, da Integração Regional, aceitou a indicação de seu conterrâneo e parceiro
político, David Alcolumbre, e acomodou Valder Ribeiro de Moura na Secretaria
Executiva de seu ministério.
Situação diversa parece viver Juscelino
Filho (União Brasil), cuja secretária executiva, Sônia Faustino, é servidora de
carreira, analista de planejamento e orçamento, com passagens por vários órgãos
da administração pública nos últimos 30 anos.
Com tão poucos integrantes do segundo
escalão do governo nomeados, ainda é cedo para medir a real disposição de Lula
de dar mais ou menos liberdade para seus novos aliados.
Para alguns, o presidente aguarda a votação
das eleições para as mesas diretoras da Câmara e do Senado. Só depois de ter
uma medida do real apoio que poderá receber dos parlamentares de MDB, União
Brasil e PSD é que o presidente usará a caneta recebida há anos no Piauí para
ratificar o nome de todos secretários e diretores indicados por esses partidos.
Até lá, o verbo “nomear” continua a ser
raridade no Diário Oficial.
*Bruno Carazza é mestre em economia e doutor em direito, é autor de “Dinheiro, Eleições e Poder: as engrenagens do sistema político brasileiro” (Companhia das Letras)”.
Bruno Carazza.
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