O Globo
Ganha um fim de semana numa terra grilada
da Amazônia quem souber o que levou Lula a chamar Michel Temer de “golpista”.
Na volta, Temer, pessoa que mede as palavras, chamou-o de “bandido”.
Desde o seu primeiro dia de governo, o Lula
diplomata compôs-se com Arthur Lira e seu Centrão. Já o Lula palanqueiro atirou
no Banco Central e retomou a retórica do “nós contra eles”. Vale lembrar que,
durante a campanha eleitoral, o “eles” chamava-se Bolsonaro, e só.
Com o início do ano legislativo, começará a
aguar a lua de mel que beneficia os governos nos seus primeiros meses, e Lula
sabe que terá uma oposição fisiologicamente habituada ao conforto e
ideologicamente encantada pela ferocidade.
Ataques varejistas erodem uma maioria
parlamentar que será necessária para um governo que enfrentará dificuldades na
economia e que promete aprovar uma reforma tributária.
Pelo andar da carruagem, Lula deixará uma
parte da militância petista em estado de graça, mas terá dificuldade para
aprovar até nomeação de diretor de hospital.
Um prodígio do Trio
Carlos Alberto Sicupira, Jorge Paulo Lemann
e Marcel Telles, nesta ordem, os três poderosos acionistas das Americanas,
conseguiram um prodígio: numa encrenca bilionária, colocaram os bancos na
posição de credores simpáticos.
Fizeram isso subestimando o risco do silêncio de uma semana e superestimando o poder de suas palavras na nota que assinaram no domingo passado.
Fome e veto
De um aliado do arco democrático que se
afastou de Bolsonaro e aproximou-se de Lula muito antes da campanha do ano
passado, avaliando o comportamento do comissariado petista na formação do
governo:
“É assustador. Tanto na apresentação de
vetos, como na voracidade em busca de cargos.”
Proteção paterna
No auge da crise da tentativa de golpe
contra sua presidência na Federação das Indústrias de São Paulo, houve dias em
que Josué Gomes da Silva vestia um paletó folgado para suas medidas.
Terminada a fase crítica do golpe, vê-se
que o paletó teve seus poderes.
A peça pertenceu ao seu pai, José Alencar,
vice-presidente da República durante os dois primeiros mandatos de Lula. Em
épocas difíceis, Josué veste-o.
Alencar morreu em 2011, aos 79 anos, tendo
deixado um memorável patrimônio empresarial e político.
Vietnã na Amazônia
Está na rede o excepcional documentário de
18 horas dos cineastas americanos Ken Burns e Lynn Novick sobre a guerra do
Vietnã. Ele conta e prova uma história bastante diferente daquela que prevaleceu
pela versão convencional.
Por exemplo: em 1968, durante a Ofensiva do
Tet, quando os Estados Unidos prevaleceram, mas foram confrontados com um
poderio despercebido, o governante Ho Chi Minh e o legendário general Giap,
estavam praticamente exilados. Giap estava na Hungria, e Ho passava períodos na
China. Quem mandava era o secretário-geral do Partido Comunista, o inflexível
Le Duan, um homem sem rosto.
Para quem está chocado com o que acontecia
aos Ianomâmis na Amazônia, vale lembrar que um dos momentos mais emocionantes
do documentário de Burns e Novick está no depoimento de Bill Eherhart. Ele era
um jovem fuzileiro naval e contou que matou gente, tanto combatentes como
civis. Um único episódio atormentava-o.
Era a lembrança da jovem com quem tivera
uma relação sexual em troca de comida. Recordando a cena, era levado a pensar
na sua mãe, na mulher e nas filhas.
Sexo é a moeda dos garimpeiros com jovens
ianomâmis.
Nunes Marques no TSE
O Tribunal Superior Eleitoral deverá julgar
o processo que poderá tornar Jair Bolsonaro inelegível antes de maio, quando se
aposentará o ministro Ricardo Lewandowski.
É muito provável que Bolsonaro fique
inelegível.
Pela tradição, a vaga de Lewandowski seria
ocupada pelo ministro Kassio Nunes Marques. Ele já é suplente no TSE e deveria
ser escolhido pelos seus pares do STF para a vaga de efetivo. Se Nunes Marques
não trabalhar para preservar essa norma, a tradição irá para o vinagre e ele
será preterido.
Reforma do STF
Tudo indica que nos próximos meses o Senado
votará projetos que mexem com o Supremo Tribunal Federal. No bufê há de tudo,
mas um projeto que estabeleça mandatos para os ministros tem boas chances de
ser aprovado.
Asmodeu está no detalhe: qual a duração do
mandato?
Fala-se em oito anos ou sete anos. Numa
flecha envenenada, o mandato teria oito ou sete anos, renováveis, por mais oito
ou sete. Assim, os ministros ficariam prisioneiros dos deputados e senadores.
Bolsonaro numa sinuca
Se o TSE tornar Bolsonaro inelegível,
virará fumaça seu projeto de disputar a prefeitura do Rio. Para manter viva a
marca política da família, a solução seria lançar o nome de seu filho Flávio,
senador pelo Rio de Janeiro.
Seria um jogo de ganha-ganha, pois se ele
não se elegesse, voltaria para mais dois anos de mandato como senador.
O problema é que se Flávio ganhar, a
cadeira do Senado vai para seu suplente, o empresário Paulo Marinho.
Durante a campanha de 2018, Marinho foi um
anfitrião impecável, cedendo sua casa do Jardim Botânico para funcionar como
quartel-general do capitão. Eleito, Bolsonaro mostrou-se um hóspede ingrato e
afastou-se dele.
A força dos chefes militares
A sonolência de comandantes de unidades do
Exército durante os atentados golpistas do dia 8 de janeiro justificam o desejo
de que eles sejam transferidos.
Isso pode ser feito de duas maneiras.
A primeira é a do bate-pronto, com a
remoção imediata, a partir de um clamor justificado, porém político.
Na segunda, espera-se que a poeira baixe.
Coisa de algumas semanas, não de alguns meses.
Escolhendo-se a primeira opção,
satisfazem-se emoções, mas debilitam-se os chefes.
A Vaca Muerta argentina
Lula passou como um furacão por Buenos
Aires e anunciou o interesse de seu governo em investir na produção de gás da
reserva de Vaca Muerta, no Norte da Patagônia argentina. Coisa de US$ 820
milhões que sairiam do velho e bom BNDES.
Noves fora a questão ambiental e a
viabilidade da construção de um gasoduto que se interligue à rede nacional,
fica uma questão. Segundo a Empresa de Pesquisa Energética, do Ministério de
Minas e Energia, em 2030 o Brasil poderá produzir 275 milhões de metros cúbicos
de gás natural.
O Brasil tem no colo as reservas do
pré-sal, que até 2030 poderão produzir 5,5 milhões de barris de petróleo,
demandando investimentos fantásticos.
Os projetos energéticos argentinos são
famosos pela sua durabilidade. O de Vaca Muerta já tem 12 anos de existência e
embute a construção de um gasoduto bilionário. A exploração dessa reserva
parece ser uma boa ideia, mas o gás de Vaca Muerta competirá com o que a
Petrobras espera tirar do fundo do mar.
O maior perigo está no risco de se botar dinheiro num projeto para fazer boa figura e, logo depois, ter que botar mais dinheiro para que o projeto ande.
Muito interessante a diversificada coluna de hoje. Especialmente verdadeira a voracidade dos zumbis petistas por cargos e por vetar eventuais "adversários", mesmo técnicos muito mais competentes que o/a camarada indicado/a pelos zumbis.
ResponderExcluirPT sendo PT.
ResponderExcluirTemer estava quietinho, alegrinho de terem esquecido ele e seus processos... Lula foi até a Argentina e lá resolveu chutar "perro muerto", chutando igualmente a canela do MDB que tinha lhe dado tantos votos, assim como as canelas da Simone Tebet, da Marina Silva e do Alckmin... A resposta precisa do Temer deve ter levado Lula a concluir que poderia ter dormido sem isto!
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