Folha de S. Paulo
Terminada a festa, começa o percurso no
qual propostas ambiciosas terão de se ajustar às limitações
Não faltaram afirmação de valores nem
ambição aos discursos que inauguraram o terceiro mandato de Lula. O empenho na redução das
desigualdades ocupou o centro dos dois pronunciamentos —para os convidados que
lotavam o Senado e para a massa compacta diante do Palácio do Planalto. O
compromisso foi reiterado na cerimônia mais forte do dia, quando representantes
do povo pobre subiram a rampa com o novo mandatário e lhe entregaram
a faixa presidencial.
Menos que agenda de governo, os discursos explicitaram um roteiro progressista para a construção de um país democrático e mais equânime. Incisivo na defesa das instituições representativas; claro nos compromissos sociais; atualizado na identificação dos muitos destinatários de iguais direitos; contemporâneo no peso dado aos riscos e oportunidades ambientais; assertivo quanto à atuação do país no mundo —e algo passadista na visão dos caminhos para o crescimento.
A composição da equipe ministerial
reafirmou tanto a aliança entre democratas que permitiu derrotar no sufoco o
populismo de extrema direita, quanto os valores inscritos naquele roteiro de
país, de clara coloração social-democrata. Em que medida guiarão as mudanças é
a pergunta que fica no ar.
Pois, terminada a festa, começa o íngreme
percurso no qual propostas ambiciosas que despertaram esperanças entorpecidas
terão de se ajustar às limitações de tempo, recursos financeiros e capacidades
estatais; às pressões de diferentes interesses organizados; sem falar na
insuficiência de arrimo político do governo no Congresso francamente
conservador eleito em outubro.
Haverá que começar reconhecendo que os ideais
progressistas nos quais se ancora o projeto Lula 3 —e que fizeram vibrar os
milhares de ocupantes da Esplanada no dia da posse— não são compartilhados por
quase metade dos eleitores, que deram seu voto àquele que se exilaria na
Disneylândia para chorar a derrota. Encontrar o idioma apropriado para se
comunicar com uma parte que seja desse numeroso contingente atirado à orfandade
é um dever incontornável quando se quer reduzir a polarização e ampliar o apoio
a políticas reformadoras.
No discurso de posse, o novo ministro da Fazenda, Fernando
Haddad, alertou para o que o espera quando se referiu ao fino equilíbrio entre
metas ambiciosas e as condições objetivas de que dependem. Eis uma combinação a
requerer pragmatismo político temperado por valores. Lula 1, Lula 2 e seu
partido nem sempre conseguiram acertar a mão dessa receita tão complicada
quanto nutritiva. Agora, o governo da frente democrática tem nova chance.
*Professora titular aposentada de ciência política da USP e pesquisadora do Cebrap.
A professora foi realista ao dizer que "Lula 1, Lula 2 e seu partido nem sempre conseguiram acertar a mão dessa receita tão complicada" do "fino equilíbrio entre metas ambiciosas e as condições objetivas de que dependem". Mas ela também se omitiu ao preferir ignorar o desastre que foram as gestões petistas comandadas por Dilma, onde os desequilíbrios foram catastróficos e facilitaram a eleição duma ABERRAÇÃO como o miliciano fujão.
ResponderExcluirDilma perto de Bolsonaro...
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