Censo deverá confirmar fim do bônus demográfico
O Globo
Com mais idosos que jovens, única
alternativa para o Brasil crescer no futuro será aumentar produtividade
Em projeção recente, o IBGE estimou a
população brasileira em 207,8 milhões, patamar inferior à expectativa para o
resultado do Censo (215 milhões). Coerente com a tendência demográfica global,
o crescimento populacional desacelera. O principal impacto será econômico e
exigirá da sociedade e da classe política uma maturidade para enfrentar as
deficiências do Brasil que infelizmente não tem sido demonstrada até agora.
De 1980 em diante, o PIB per capita recebeu uma contribuição média anual de 0,4 ponto percentual apenas da entrada de jovens no mercado de trabalho, pelos cálculos do economista Fernando de Holanda Barbosa Filho, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV). A ajuda da demografia desaparecerá com o envelhecimento dos brasileiros. Se o Censo confirmar a projeção de Holanda, o bônus demográfico representado pelo aumento da população em idade ativa, entre 15 e 65 anos, esgotou-se entre 2018 e 2021.
Com maior proporção de idosos, a tendência
é a população brasileira estabilizar por volta de 2047, ou até antes. Na China,
o declínio populacional que era previsto para o final desta década começou no
ano passado. Governantes e gestores públicos não devem mais, portanto, cultivar
a imagem do Brasil como “país jovem” com mão de obra abundante. O
envelhecimento traz um sem-número de desafios.
Não se poderá mais depender da inclusão de
mão de obra jovem na força de trabalho. Será preciso produzir mais com menos
gente. A tradução disso em termos econômicos se resume a uma palavra:
produtividade. Antes, o PIB crescia “substituindo produtividade por horas
trabalhadas”, na descrição do economista Paulo Paiva, da Fundação Dom Cabral.
Agora, não há alternativa a não ser enfrentar a baixa produtividade crônica do
Brasil. “A economia só crescerá tendo como base a eficiência”, diz Paiva.
Além da transformação profunda no ambiente
de negócios que o país jamais encarou com seriedade, isso dependerá da
qualificação de mão de obra para ocupar postos de trabalho a cada dia mais
sofisticados. Enquanto a robótica e a automação tornam obsoletos os trabalhos
manuais, o avanço da inteligência artificial substituirá também trabalhos
criativos e intelectuais de alta especialização. Não é acaso que já haja
engenheiros dirigindo Uber.
O Brasil mal implementou melhorias
consistentes na rede de ensino básico. “A educação melhorou muito nos últimos
20 anos, mas com as oportunidades de trabalho não aconteceu o mesmo”, diz o
economista Armando Castelar, também do Ibre/FGV. O esforço em educação e
treinamento não se materializa em inovação, na produtividade e na geração de
riqueza, de que o país precisa para se desenvolver.
A redução dos jovens na população já se
manifesta nas matrículas no ensino fundamental, que têm caído à razão de 400
mil por ano, segundo Holanda. Ao mesmo tempo, será preciso requalificar idosos,
promover uma “alfabetização digital”, para que também possam continuar a
trabalhar.
Como na Europa, deverão ser construídas
menos escolas, enquanto o governo terá de dar apoio a redes de cuidadores de
idosos, com demandas cada vez mais pesadas sobre o sistema de Previdência. Não
são devaneios sobre um futuro distante. A questão já deveria ter começado a ser
enfrentada pelo poder público. Mas os governos, como quase sempre, estão atrasados.
Novo pedágio da Rio-Santos é teste para
modelo de cobrança automática
O Globo
Se sistema der certo, haverá ganho na
fluidez do trânsito, na economia de combustível e na praticidade
O sistema de pedágio automático que começa
a ser implantado a partir de amanhã na Rio-Santos (BR-101 Sul) será um bom
teste para as estradas e os motoristas brasileiros. Pela primeira vez, uma
rodovia concedida à iniciativa privada terá um esquema de cobrança totalmente
automático, sem necessidade de paradas (free flow). Não que isso já não exista
pontualmente, mas na Rio-Santos serão abolidas as cabines e cancelas.
A concessionária que ganhou a licitação
para administrar a rodovia não implantará a cobrança automática de imediato,
até porque os valores de pedágio ainda precisam ser fixados pela Agência
Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Ela deverá começar em março, depois
de um período de testes para calibrar os equipamentos e dar tempo aos motoristas
para se acostumar à novidade.
Os pontos de cobrança de pedágio ficam em
Itaguaí (km 414), Mangaratiba (km 447) e Paraty (km 538), todos no trecho
fluminense. Nesses locais haverá pórticos onde os equipamentos registrarão a
passagem dos veículos. Embora não haja necessidade de parada ou redução da
velocidade, os motoristas evidentemente terão de respeitar os limites em vigor.
O próprio sistema identificará o veículo,
verá em que categoria se encaixa e emitirá a cobrança. O motorista terá duas
alternativas: usar um dispositivo eletrônico no para-brisa, como já ocorre
noutras rodovias, ou simplesmente deixar que o equipamento faça a leitura da
placa. A tarifa terá de ser paga em até 15 dias. O usuário poderá quitar o
débito por meio de fatura (para quem tem o dispositivo eletrônico), WhatsApp,
Pix ou no site da concessionária.
A dispensa de cancelas não representa um
“liberou geral”. O não pagador será enquadrado no artigo 209 do Código de
Trânsito Brasileiro, que considera infração grave “evadir-se para não efetuar o
pagamento de pedágio”. Estará sujeito a multa de R$ 125,23 e ainda perderá
cinco pontos na carteira.
O sistema de fluxo livre na Rio-Santos será
um ótimo teste. Se funcionar bem, como se espera, ganha-se na fluidez do
trânsito, na economia de combustível e na praticidade. O projeto servirá como
protótipo para ser implantado noutras rodovias. Será uma lástima se, por falta
de pagamento, a concessionária tiver de voltar atrás e ressuscitar as obsoletas
praças de pedágio com cabines e cancelas.
A concessão da Rio-Santos abre uma nova perspectiva para os usuários de uma das mais belas — e maltratadas — rodovias do país. Durante décadas, enquanto a estrada litorânea esteve sob administração do governo federal, houve muitas reclamações sobre o estado lastimável do pavimento, a sinalização precária e a falta de segurança. Esse quadro tem tudo para mudar com a gestão privada, como já ocorre noutras rodovias. Obviamente, as melhorias têm um custo, e os motoristas têm o dever de assumi-lo se querem trafegar por uma estrada decente.
Equilíbrio tortuoso
Folha de S. Paulo
Disputas na Câmara e no Senado se arranjam
entre o pragmatismo e o fisiologismo
Arthur Lira (PP-AL) já era o favorito na
disputa em que tentará a reeleição como presidente da Câmara dos Deputados,
mas, como quem não quer dar espaço para zebras, tratou de pôr a mão no bolso
para convencer seus colegas a lhe assegurar vitória sem sobressaltos.
Já seria bastante ruim se esse bolso fosse
o dele próprio, pois nada há de republicano em uma prática que, sem meias
palavras, significa comprar os votos de parlamentares em disputa interna do
Legislativo.
Mas a atitude é pior: o deputado está
usando o dinheiro do contribuinte para distribuir benesses injustificáveis em
qualquer país civilizado, ainda mais em um que sofre com desigualdades tão
profundas quanto o Brasil.
A proverbial cortesia com o chapéu alheio
—ou, em termos mais afeitos à realidade política nacional, o mensalão do Lira—
funciona de modo simples: o presidente
da Câmara ampliou o auxílio-moradia e o reembolso de combustível para os
deputados e, além disso, deu-lhes de brinde quatro trechos de
bilhetes aéreos por mês.
Não admira que o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva (PT) tenha preferido não desafiar as pretensões de Lira de se
manter à testa da Câmara. O PT, afinal, sofreu duas vezes quando, estando na
chefia do Executivo, tentou interferir na eleição do Legislativo.
Em 2005, no primeiro mandato de Lula, o
petista Luiz Eduardo Greenhalgh perdeu para o obscuro Severino Cavalcanti, do
PP. Dez anos depois, no segundo governo de Dilma Rousseff (PT), o governista
Arlindo Chinaglia ficou atrás de Eduardo Cunha, do PMDB —personagem que
comandou o impeachment da petista no ano seguinte.
A experiência também guiou Lula na briga
pelo comando do Senado, onde o atual
presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), desponta como favorito mesmo
sem recorrer às prestidigitações de Lira.
Há, por óbvio, mais do que trauma no
cálculo de Lula. Ele sabe que, se o PT lançar candidatos no Congresso e perder,
terminará com baixa presença na Mesa Diretora e nas comissões mais importantes.
Mas, ao apoiar os prováveis vencedores,
garante posições estratégicas dentro do Parlamento.
Bem ou mal, o arranjo institucional brasileiro força um desejável equilíbrio
entre os Poderes, de modo que o Executivo não consegue avançar sua pauta sem
antes negociá-la com o Legislativo.
Como o exemplo de Lira demonstra, contudo,
esse equilíbrio não raro resulta mais do fisiologismo que de uma convergência
democrática de interesses em torno de uma agenda benfazeja para o país.
Tanques para Kiev
Folha de S. Paulo
Ocidente testa novo nível de embate com
Moscou ao fornecer blindados à Ucrânia
Desde que ficou claro que a invasão russa
da Ucrânia não seria o passeio imaginado pelo Kremlin há 11 meses, os Estados
Unidos viram uma oportunidade de confrontar a agressividade de Vladimir Putin
sem necessariamente arriscar uma Terceira Guerra Mundial.
Ao lado dos aliados europeus mais
beligerantes, Reino Unido e Polônia à frente, Washington liderou o esforço
ocidental para manter vivas as Forças Armadas de Kiev. Até aqui, gastou US$
26,7 bilhões, mais de 65% do total da ajuda militar global aos agredidos.
Dadas as reiteradas ameaças de Putin acerca
desse apoio, a maioria delas de natureza nuclear, os países do clube militar da
Otan testaram paulatinamente novos níveis de auxílio aos ucranianos.
Primeiro vieram mísseis antitanques e
antiaéreos portáteis, depois obuseiros e sistemas de artilharia com foguetes de
precisão. Mas nada de armas que pudessem ser vistas como ofensivas e não
defensivas por Moscou, como aviões de combate e tanques de guerra.
Pesava também a cautela de membros mais
musculosos da Europa, notadamente a Alemanha do reticente premiê Olaf Scholz.
Além do temor de escalada, houve ali
fatores domésticos: a economia se desconectou aos poucos da dependência que
tinha de gás russo, e a opinião pública se mostra refratária a envolvimentos
bélicos do país que legou o militarismo prussiano e o nazismo ao mundo.
Com a crescente pressão dos EUA, a Alemanha
aquiesceu e concordou em não só enviar seus tanques Leopard-2 para Kiev mas
também permitir que os operadores do ubíquo modelo, usado por 12 países
europeus, fizessem o mesmo.
Como sinal de comprometimento, Washington
prometeu 31 tanques Abrams, o mais potente do mundo. Nada
disso, nos números anunciados, deverá mudar a dinâmica da guerra no médio
prazo. São meses para preparar os blindados e treinar os militares que os
usarão.
Isso dito, do ponto de vista político é
mudança central, que deixa aberta a porta para incrementos no apoio
armamentista, por óbvio
elevando o risco de reação russa.
Talvez mais importante, o número ora
comedido de blindados sugere que os aliados da Ucrânia querem manter os russos
pressionados, sem contudo ofertar alguma chance decisiva a Kiev, levando assim
a negociações de paz.
Hoje, isso é impensável para todos: os ucranianos não querem ceder mais território e Putin tem tido alguns ganhos após meses de más notícias, o que deve levar a grandes batalhas quando o inverno do Hemisfério Norte arrefecer.
O respeito dos militares pela democracia
O Estado de S. Paulo.
Apesar da trevosa era Bolsonaro, as Forças
Armadas têm mostrado firme compromisso com a Constituição e com boas políticas
públicas. É dever de todos preservar o bom histórico
Diante da inegável conivência de alguns
militares com os atos de 8 de janeiro, ápice da aproximação, ocorrida ao longo
dos últimos anos, de alguns setores das Forças Armadas com o bolsonarismo, tem
sido frequente ouvir críticas simplistas às instituições militares, como se
estivessem à margem dos limites constitucionais e necessitassem de uma
generalizada reforma. Trata-se de avaliação injusta, que não corresponde aos
fatos.
Na Presidência da República, Jair Bolsonaro
– um mau militar, como acuradamente qualificou Ernesto Geisel – causou muitos
danos às Forças Armadas. Nos quatro anos de governo, ele tentou de diversas
maneiras desviar os militares de suas atribuições constitucionais; por exemplo,
insistindo em que colaborassem nas manobras bolsonaristas contra a Justiça
Eleitoral.
Tudo isso foi muito grave, com efeitos
desastrosos em muitas áreas, e exigirá cuidadoso trabalho de reconstrução nos
próximos anos. De toda forma, a contaminação de alguns militares com o
bolsonarismo não foi fenômeno generalizado e, especialmente importante, não
condiz com a atitude das Forças Armadas no período posterior à redemocratização
do País. É um equívoco julgar as instituições militares pelo comportamento de
alguns poucos nos últimos anos.
Em carta ao Estadão, a professora associada
do Instituto de Química da USP Silvia Helena Pires Serrano lembrou um fato
histórico que exemplifica a contribuição dos militares às políticas públicas
nacionais. “Em maio de 1946, o vice-almirante Álvaro Alberto da Motta e Silva
(1889-1976), engenheiro de formação, então representante brasileiro na Comissão
de Energia Atômica do Conselho de Segurança da recém-criada ONU, propôs ao
governo brasileiro a criação de um Conselho Nacional de Pesquisa, o atual CNPq,
quase destruído durante o último governo”, escreveu a professora. Diante de
“fatos tão grotescos que nos encheram de tristeza e vergonha”, disse ela, referindo-se
ao 8 de janeiro, “é sempre bom nos lembrarmos dos bons exemplos que fizeram e
ainda fazem a diferença”.
Assim, não é correto tomar a desastrosa
passagem do intendente Eduardo Pazuello pelo Ministério da Saúde, onde
contrariou as evidências científicas para obedecer cegamente ao comando
delirante de Bolsonaro, como se fosse o padrão militar. Pelo contrário: a
trajetória das Forças Armadas se identifica, entre outros muitos casos
honrosos, com o vice-almirante Álvaro Alberto da Motta e Silva, lembrado pela
leitora. Basta ver o prestígio acadêmico de que desfrutam o Instituto
Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e o Instituto Militar de Engenharia (IME),
instituições criadas e mantidas pela dedicação e seriedade de gerações de
militares.
As Forças Armadas têm mostrado um firme
compromisso com a Constituição de 1988. Em novembro de 2015, em um momento de
grave crise política, social e econômica, escrevemos neste espaço: “Não é raro
pôr-se a culpa por boa parte dos males nacionais nas Forças Armadas, tendo em vista
o período que o País viveu sob a ditadura militar. A falta de democracia, a
censura, a tortura, o desrespeito aos direitos humanos não são coisas para se
orgulhar. Reconhecer essa realidade não significa, no entanto, fechar os olhos
ao fato de que, nas últimas décadas, se operou uma profunda e positiva
transformação dos militares e de sua mentalidade. Entenderam o seu papel
institucional dentro de uma democracia, sabendo deixar a condução do País à
sociedade civil” (ver o editorial Os militares e a democracia, de 15/11/2015).
Os anos de Bolsonaro no Palácio do Planalto podem ter turvado essa compreensão
por parte de alguns, mas não apagaram o bom histórico das Forças Armadas,
tampouco as profundas convicções democráticas da grande maioria dos militares.
Fato especialmente significativo da constitucional submissão das Forças Armadas
ao poder civil se deu com a criação do Ministério da Defesa, em 1999.
Entre outros pontos, o cuidado com o Estado
Democrático de Direito exige não ignorar décadas de respeito à Constituição de
1988 por parte dos militares. A resistência ao bolsonarismo é precisamente
preservar, e não desprezar esse bom histórico.
Golpistas para todos os lados
O Estado de S. Paulo.
‘Isso
tinha na casa de todo mundo’, disse o chefão do PL, que se tornou o maior partido
do Brasil, sobre a minuta de decreto para dar um golpe de Estado. É de
estarrecer
Com espantosa naturalidade e incrível
ligeireza, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, disse ao jornal O Globo que
a articulação de um golpe de Estado – nada menos – foi tema de conversas
corriqueiras em Brasília após a eleição do presidente Lula da Silva.
“Isso tinha na casa de todo mundo”, disse o
sr. Valdemar, decerto sem ruborizar, ao se referir à minuta de decreto de
estado de defesa na sede do Tribunal Superior Eleitoral, encontrada na casa do
ex-ministro da Justiça Anderson Torres. Ele acrescentou que propostas como
aquela circulavam “direto” entre pessoas do governo e que pessoalmente recebeu
“várias propostas, que vinham pelos Correios” ou então em eventos políticos.
“Tinha gente que colocava (o papel) no meu bolso, dizendo que era como tirar o
Lula do governo.”
Não se sabe se as declarações do sr.
Valdemar devem ser levadas a sério ou se é apenas uma artimanha para tentar
livrar a cara do ex-ministro Anderson Torres e, por extensão, do principal
puxador de votos do PL, o ex-presidente Jair Bolsonaro; afinal, se “todo mundo”
recebeu alguma sugestão de golpe, como disse o chefão do PL, então nem Anderson
nem Bolsonaro poderiam ser particularmente responsabilizados.
Conhecendo o sr. Valdemar como o Brasil bem
conhece, é difícil saber o que está por trás dessa declaração tão
irresponsável. Mas isso não importa. O que interessa é que o líder do maior
partido político do Brasil tratou uma suposta conspiração contra a soberania da
vontade popular como algo banal, quase inconsequente. É como se o sr. Valdemar
estivesse tratando de propostas para mudar o nome de uma avenida.
A rigor, a própria reabilitação do
exmensaleiro Valdemar diz muito sobre o longo caminho que a sociedade ainda
precisa percorrer até atingir um grau de maturidade política que impeça que os
alicerces da República, a começar pelo respeito ao resultado das eleições,
sejam carcomidos pela ação insidiosa dos cupins da democracia.
Mesmo assim, não deixa de ser
estupefaciente que o golpismo escancarado seja tratado como uma agenda trivial
pelo dirigente de um partido que terá 99 deputados federais e 14 senadores a
partir da próxima quarta-feira, quando terá início a nova legislatura.
Portanto, é uma leviandade que o golpismo,
ao invés de ser enfática e vigorosamente condenado pelo líder de uma bancada
tão expressiva de parlamentares democraticamente eleitos, seja tratado pelo sr.
Valdemar com essa inconsequência.
A pretexto de “defender” Bolsonaro,
Valdemar Costa Neto ainda revelou que, por ser tido como alguém “muito valente,
meio alterado, meio louco”, o ex-presidente recebeu muitas sugestões de medidas
para impedir a posse de Lula da Silva. Só não o fez, disse o chefão do PL,
“porque não viu maneira de fazer”. Que alívio.
A esta altura já está claro que só não
houve um golpe de Estado no Brasil após a derrota de Bolsonaro por absoluta
rejeição das forças vivas da Nação ao espírito golpista que sempre animou o ex-presidente
e muitos de seus apoiadores, entre os quais Valdemar Costa Neto. E também, por
óbvio, porque Bolsonaro não logrou reunir apoios e meios não apenas para dar um
golpe de Estado, como para sustentá-lo.
Vindo de alguém que se mostrou capaz de
afrontar as instituições democráticas do País com aquela molecagem de
“auditoria independente” das urnas eletrônicas, com o único objetivo de
tumultuar as eleições de outubro passado, as declarações do sr. Valdemar não
chegam a surpreender, mas são lamentáveis. É inacreditável que alguém que já
deu reiteradas mostras de que seu projeto pessoal de poder está muito acima dos
interesses nacionais continue tendo não apenas voz ativa no debate público,
mas, sobretudo, influência direta na definição dos rumos do País.
Valdemar Costa Neto pode estar quites com a
Justiça. Todavia, seu prestígio político, empregado, entre outras coisas, para
banalizar tentativas de golpes de Estado, decorre diretamente do apoio que ele
e seus correligionários ainda recebem de muitos eleitores. Nesse ponto, a sociedade
ainda tem muito a evoluir.
Desigualdade até na comida saudável
O Estado de S. Paulo
Regiões pobres, como América Latina e Caribe, pagam mais para comer melhor, mostra a FAO
A América Latina e o Caribe, duas das
regiões mais pobres do mundo, são os lugares em que a alimentação saudável tem
o custo mais alto, informou a Organização das Nações Unidas para a Alimentação
e a
Agricultura (FAO). O gasto médio diário de
uma dieta balanceada, capaz de atender adequadamente às necessidades calóricas
e de nutrientes do organismo, foi estimado em US$ 3,89 (cerca de R$ 20) por
pessoa na região − tendo como referência os preços praticados em 2020, no
primeiro ano da pandemia de covid-19. A Ásia apresentou o segundo valor mais
alto (US$ 3,72), enquanto a média global ficou em US$ 3,54.
É dramático que numa das regiões mais
carentes e desiguais do mundo seus habitantes não tenham acesso barato à
alimentação saudável. A bem da verdade, muitos desses habitantes, inclusive no
Brasil, têm tido dificuldade em se alimentar de qualquer maneira, como mostram
os levantamentos sobre insegurança alimentar nos últimos anos.
De acordo com o novo Panorama Regional de
Segurança Alimentar e Nutricional, produzido pela FAO em parceria com outras
agências da ONU, 40,6% dos habitantes da América Latina e do Caribe sofreram com
graus moderados ou severos de insegurança alimentar em 2021. De novo, um índice
acima da média global (29,3%).
Infelizmente, o custo mais elevado de
dietas saudáveis representa um tremendo obstáculo para que a região consiga
reverter os problemas decorrentes da má alimentação – a começar pela
desnutrição, cujas consequências são devastadoras, causando óbitos e
comprometendo o desenvolvimento físico e cognitivo de recém-nascidos e
crianças. Garantir o acesso da população a alimentos diversificados também é
indispensável para o enfrentamento de outros efeitos indesejáveis da má
alimentação: o sobrepeso e a obesidade − algo que também afeta mais a América
Latina e o Caribe do que o resto do mundo.
A FAO estimou que 131 milhões de
latino-americanos e caribenhos não mantinham uma alimentação saudável em 2020 −
um dado alarmante e anterior ao agravamento da crise alimentar decorrente da
guerra na Ucrânia. O relatório também chama a atenção para outra triste
realidade: a indisponibilidade de dietas saudáveis atinge “gravemente a
nutrição e a saúde das populações mais vulneráveis, incluindo meninos, meninas
e mulheres”. Uma lástima que se traduz em filas nos hospitais, pior rendimento
escolar, menor qualidade de vida e produtividade mais baixa.
Há, no entanto, diferenças consideráveis na
realidade de cada país e mesmo entre as sub-regiões. Em relação ao custo diário
da alimentação saudável, o pior cenário foi detectado no Caribe, com US$ 4,23
por pessoa, ante US$ 3,61 na América do Sul. O Brasil, potência mundial na
produção de alimentos, tem um dos custos mais baixos entre as nações do bloco,
conforme o relatório: US$ 3,08.
Desigualdades criam distorções de todo tipo
− e a América Latina e o Caribe, infelizmente, sofrem as consequências de
muitas delas. Quando até o prato de comida é afetado, cruza-se uma linha
inaceitável. É hora de agir, e cabe ao conjunto de países da região buscar
soluções.
Estadão falando do Valdemar:
ResponderExcluir"Portanto, é uma leviandade que o golpismo, ao invés de ser enfática e vigorosamente condenado pelo líder de uma bancada tão expressiva de parlamentares democraticamente eleitos, seja tratado pelo sr. Valdemar com essa inconsequência."
Estadão falando dos milicos, q nunca fizeram uma defesa enfática da democracia, muito pelo contrário:
"As Forças Armadas têm mostrado um firme compromisso com a Constituição de 1988."
Bobagem. As FA SÃO golpistas - interpretam a CF de maneira leviana, pois querem q o seu art. 142 lhes permita ser "poder moderador".
Estadão falando do Valdemar:
ResponderExcluir"Vindo de alguém que se mostrou capaz de afrontar as instituições democráticas do País com aquela molecagem de “auditoria independente” das urnas eletrônicas, ..."
Puxa, o EB participou desta molecagem e seu relatório de auditoria contém aquela pérola de q "não foram encontradas falhas nas urnas mas não se pode garantir q não haja falhas".
Lembra, Estadão, o EB tb fez parte desta leviana e ridícula tentativa de.desacreditar nossas eleições - isso é golpe!
Auditaram urnas enquanto brasileiros Yanomamis eram exterminados, né?
A história não perdoará o exército.
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