A dimensão do crime contra Yanomamis
O Estado de S. Paulo.
Surgem indícios de que a catástrofe não foi causada apenas por descaso ou incompetência do governo Bolsonaro, mas por omissões criminosas, fraudes, obstruções e corrupção
A tragédia humanitária dos Yanomamis é
chocante, mas não surpreendente. Sem dúvida, toda a sociedade brasileira
precisa fazer um exame de consciência em relação ao abandono histórico dos
povos originários. Mas surgem indícios de que o governo Jair Bolsonaro
descumpriu deliberada e criminosamente suas obrigações legais para com os
Yanomamis.
Desde 2020, o Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito de uma ação relatada pelo ministro Luís Roberto Barroso, vinha baixando decisões que obrigavam o governo a ampliar a proteção aos Yanomamis, incluindo um plano de expulsão de garimpeiros e madeireiros atuando ilegalmente na reserva e medidas de segurança sanitária e alimentar. Segundo nota do gabinete do relator emitida na última quinta-feira, 26, “as operações, sobretudo as mais recentes, não seguiram o planejamento aprovado pelo STF e ocorreram deficiências”. A Corte ainda “detectou descumprimento de determinações judiciais e indícios de prestação de informações falsas à Justiça”.
A presença de mineradores ilegais tem sido
uma constante desde a remarcação do território, em 1992. O Ministério Público
Federal (MPF) de Roraima já havia ajuizado em 2017 uma ação civil pública
pleiteando a colocação de três bases etnoambientais da Funai nas reservas
Yanomamis. Mas, mesmo após a sentença judicial, essas determinações nunca foram
devidamente cumpridas. Com o enfraquecimento dos órgãos de apoio indígena e de
combate aos crimes ambientais na gestão Jair Bolsonaro, o garimpo cresceu ainda
mais.
Após as decisões do STF, um plano de
atuação chegou a ser apresentado, mas nunca foi aplicado. “A linha de atuação
do Ibama previa o combate nos rios e com o uso de aeronaves e poderia erradicar
o garimpo em seis meses. Jamais foi aplicado”, disse ao Estadão Alisson
Marugal, procurador da República em Roraima. “Muito pelo contrário, diversas
vezes o Ibama em Brasília impediu que o plano fosse aplicado.” Segundo ele, “o
governo fez operações para não funcionar”. Foram só três ciclos, com duração de
cinco a dez dias, sobre apenas 9 dos 400 pontos de garimpo ilegal.
Começam a vir à tona também indícios de
corrupção. Conforme reportou a Folha de S.paulo, relatórios preliminares de uma
operação da Funai realizada em 2019 apontam uma suposta relação próxima entre
integrantes do Exército que atuavam em Roraima e o garimpo ilegal. Os relatos
sugerem que militares do Sétimo Batalhão de Infantaria da Selva, muitos com
relação de parentesco com os garimpeiros, vazavam informações de operações de
combate à atividade ilegal e permitiam a circulação de ouro e droga mediante
pagamento de propina. Os documentos também apontam para a atuação de
integrantes do PCC no transporte de drogas e de minerais ilegais. A operação
mapeou 3 pistas de pouso clandestinas, 14 clareiras abertas para pouso e
decolagem de helicópteros, 36 garimpos, balsas ou acampamentos, 4 bordéis e 41
frequências de rádio utilizadas para comunicação. Mas, apesar de todas essas
evidências, nada foi investigado.
A gestão de saúde da área Yanomami é
investigada por desvio no uso de verba para a compra de remédios. O MPF
suspeita que só 30% dos mais de 90 tipos de medicamentos fornecidos por uma das
empresas contratadas pelo distrito sanitário indígena local, sob ingerência do
Ministério da Saúde, teriam sido devidamente entregues. Segundo os
procuradores, o desvio de medicamentos vermífugos, por exemplo, impossibilitou
que 10 mil crianças, das cerca de 13 mil previstas, recebessem o tratamento
devido.
Em 1998, o então deputado federal Jair
Bolsonaro fez uma acusação às Forças Armadas: “A cavalaria brasileira foi muito
incompetente. Competente, sim, foi a cavalaria norte-americana, que dizimou
seus índios no passado e hoje em dia não tem esse problema no país”. Com a sua
pusilanimidade característica, acrescentou: “Se bem que não prego que façam a
mesma coisa com o índio brasileiro”. Quem dera só pregasse e não fizesse. Mas
omissão também é crime, e a dizimação a que os Yanomamis foram submetidos sob o
seu governo não pode passar impune.
A desmoralização do Censo
O Estado de S. Paulo.
Boicotado por Bolsonaro, o Censo é objeto
de dúvidas e confusão. O governo Lula precisa priorizar o resgate da
credibilidade da pesquisa, essencial para a democracia
Em mais um capítulo da novela do Censo
2022, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) adiou,
novamente, a divulgação dos resultados finais da pesquisa demográfica. O
levantamento, iniciado em agosto, deveria ter sido concluído em outubro, mas
foi estendido para abril em razão dos muitos obstáculos que surgiram ao longo
do processo, que se somaram à tradicional resistência de parte da população em
receber os recenseadores e responder ao questionário. Esse atraso gerou agora
sua primeira consequência prática.
Em vez do levantamento definitivo, o IBGE
teve de apresentar uma prévia das informações ao Tribunal de Contas da União
(TCU), órgão responsável por calcular quanto cada município tem direito a
receber na divisão do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Há diversos
critérios para definir esse coeficiente, mas um deles é justamente o número de
habitantes. Assim, o Partido Comunista do Brasil (PCDOB) apelou ao Supremo
Tribunal Federal (STF) para suspender o novo rateio, alegando que os dados
incompletos causariam um prejuízo de R$ 3 bilhões para 702 municípios nos quais
a população teria diminuído.
Como definiu o ex-presidente do IBGE
Roberto Olinto à Folha de S.paulo,é uma “tragédia absoluta”, mas o pior é que
se trata de uma tragédia anunciada e, portanto, evitável. A única decisão
acertada do governo Jair Bolsonaro envolvendo o Censo foi o adiamento da
realização da pesquisa em razão da pandemia de covid-19. Seria, de fato,
inviável fazer o levantamento em 2020. Parecia cautela, mas era puro boicote a
algo que é a base para todas as demais políticas públicas de Estado.
Entre as várias incompetências crônicas do
País, o Censo figurava como exceção. Foi realizado pela primeira vez em 1872 e
tornou-se uma tradição em 1940, quando o IBGE o assumiu formalmente e passou a
fazê-lo a cada 10 anos. O primeiro golpe do governo Bolsonaro contra essa
bem-sucedida política foi o corte de 90% de sua verba no Orçamento,
impossibilitando sua realização em 2021. Uniuse, então, o útil ao agradável: o
Legislativo queria apenas defender suas emendas parlamentares e o Executivo não
tinha qualquer interesse em fazer uma pesquisa ampla – desde o início, tudo que
o governo queria era reduzir o questionário e interferir no conteúdo das
perguntas.
O STF acabou por obrigar a União a reservar
recursos para realizar o Censo, mas o governo alocou menos dinheiro que o
necessário para executálo, contribuindo de forma definitiva para criar um clima
de descrédito sobre a pesquisa. Os recenseadores, que já teriam de enfrentar a
hostilidade de parte da população, saíram a campo em meio a uma disputa
eleitoral polarizada e com uma remuneração defasada. Quando os pagamentos
começaram a atrasar, metade abandonou o trabalho – razão pela qual o
levantamento não pôde ser concluído. A extensão do prazo é o que enseja dúvidas
sobre a validade dos dados. Diante das críticas, o IBGE e os ex-presidentes da
instituição saíram em defesa da credibilidade e da qualidade das informações
coletadas.
O questionamento sobre o Censo é mais uma
das heranças que Bolsonaro legou ao País, e o governo de Lula da Silva precisa
enfrentar o tema com a prioridade que ele merece. Para isso, o primeiro passo é
escolher alguém que esteja à altura dos desafios que a presidência do IBGE
apresenta neste momento. A prioridade deve ser concluir a coleta de dados e, em
paralelo, adotar procedimentos de controle que garantam a fidedignidade das
informações levantadas – somente isso evitará novos questionamentos judiciais
por parte dos municípios.
Encerrada essa fase, é preciso mapear todos
os erros cometidos nos últimos três anos para impedir que eles não se repitam
no futuro. É fundamental proteger o IBGE, assegurando ao órgão os recursos e o
corpo técnico para a execução do Censo, bem como de todas as outras pesquisas
pelas quais é responsável. Resgatar a credibilidade do trabalho da instituição
é essencial não apenas para a formulação das políticas públicas, mas para o
fortalecimento da própria democracia.
Estradas da morte
O Estado de S. Paulo.
Degradação acelerada das rodovias exige
mais investimentos públicos, mas, sobretudo, mais concessões à iniciativa
privada
As rodovias brasileiras estão em
deterioração acelerada. Segundo a Confederação Nacional do Transporte (CNT),
entre 2019 e 2021 a densidade de pontos críticos (ocorrências a cada 100 km)
aumentou 42,7%. O problema não é novo. Entre 2012 e 2021, a densidade aumentou
481,5%.
A principal ocorrência é de buracos grandes
(1.363), seguida por erosões nas pistas (303), quedas de barreiras (40) e
pontes estreitas (18). A maioria dos buracos está na Região Nordeste; das
erosões, no Norte; e das quedas de barreira, no Sudeste.
Para o bem ou para o mal, o Brasil optou
por um modelo de transportes predominantemente rodoviário. Ele cobre 60% da
movimentação de mercadorias e 95% da de passageiros. Assim, a precariedade das
rodovias acarreta imensos danos, desde o tempo de viagem, consumo de combustível,
desgaste nos veículos até os acidentes. Os custos pesam sobre o valor final dos
produtos, especialmente os agropecuários. O Brasil tem recordes macabros de
fatalidades no trânsito, a principal causa de mortes de crianças. Em 2022, o
Ipea estimou 45 mil mortes e um custo de R$ 50 bilhões nos acidentes.
A contração e a má qualidade dos
investimentos públicos responde por boa parte do problema. Segundo a
consultoria Inter.B, desde 2014 o investimento total em infraestrutura caiu de
2,43% do PIB para 1,66%. Nas rodovias, a queda foi maior: em 2010 os
investimentos federais representavam 0,26% do PIB; em 2022 foram só 0,07%. Mas,
enquanto os investimentos públicos se contraíam brutalmente, os privados se
mantiveram estáveis.
O problema, porém, não se reduz só à falta
de dinheiro. Apenas 2,2% dos pontos críticos apresentam sinalização adequada.
Como sinalização envolve custos mínimos, isso significa que motoristas estão
correndo risco de vida por pura negligência.
Com a PEC da Transição, abriu-se espaço no
Orçamento federal de 2023 para R$ 18,6 bilhões em infraestrutura de transporte,
o triplo do valor de 2022. Mas, em primeiro lugar, isso está longe dos R$ 95
bilhões necessários, segundo a CNT. Depois, são recursos passíveis de
contingenciamento e não há garantia de que serão mais bem empregados do que no
passado. O governo promete um “Novo PAC”, mas o antigo é parte do problema. Em
2019, uma auditoria do TCU constatou que 21% dos contratos estavam paralisados
após 12 anos do programa. Além disso, o maior volume de problemas está nas
estradas estaduais.
A solução passa por transferir a
responsabilidade por boa parte da infraestrutura à iniciativa privada. Segundo
a CNT, 75% da malha sob gestão pública apresenta algum problema, em oposição a
31% daquela sob gestão privada.
Apenas 20% da malha federal, por exemplo, é
de responsabilidade da iniciativa privada. Mas, se o Programa de Parcerias de
Investimento for implementado, esse porcentual pode crescer para 36%. Todas as
evidências sugerem que aumentar a participação privada é o caminho para
melhorar a qualidade dos serviços prestados e aliviar o orçamento público. Mas
esse é só mais um setor cujo futuro depende de um governo que não seja movido
por ideias retrógradas sobre a iniciativa privada.
Dinheiro contestado
Folha de S. Paulo
Medida para favorecer Receita em disputa
com contribuinte gera múltiplas dúvidas
O pacote fiscal lançado pelo ministro
Fernando Haddad, da Fazenda, tem objetivos corretos, mas
resultados incertos. No mérito, a medida mais duvidosa é a mudança
de normas que regem os contenciosos de contribuintes com a Receita, em
particular nos processos que chegam ao Conselho Administrativo de Recursos
Fiscais (Carf).
É possível, com efeito, que parte das
propostas seja barrada no Congresso, como aquela que, na prática, volta a dar
maioria dos votos do Carf —órgão da Fazenda que julga litígios em segunda
instância administrativa— ao governo federal.
A Fazenda argumenta que quer diminuir o
conflito e a duração dos processos, além de reparar injustiças como decisões
que contrariariam a jurisprudência.
Já associações
empresariais e advogados tributaristas retrucam que as novas
regras vão levar ainda mais processos para a Justiça. Por esse raciocínio,
decisões tomadas em instância inferior ao conselho podem acabar nos tribunais,
como aquelas em que o voto de qualidade do governo venha a impor derrotas aos
contribuintes.
Em decorrência, as mudanças vão aumentar a
insegurança jurídica e a incerteza sobre o tamanho de passivos e seus custos,
sem que o governo necessariamente consiga arrecadar mais —e o plano de Haddad
conta com cerca de R$ 50 bilhões resultantes dessas normas.
Além de versões interessadas de lado a
lado, o mais óbvio na polêmica é o fato de que a barafunda das leis
tributárias, seus regimes especiais e sua inconstância estimulam um enorme
contencioso.
Mesmo no caso de uma reforma dos impostos
muito bem-sucedida, porém de implantação lenta, levaria anos para que houvesse
estabilidade e clareza nas normas.
De imediato, é necessário que o Congresso
promova um estudo aprofundado da questão. Se o setor privado se queixa da falta
de diálogo, o essencial é dar transparência e caráter técnico e objetivo ao
debate legislativo.
Mais de 74% dos valores em disputa advêm de
apenas 1,5% dos 92.960 processos (dados de 2022, até novembro). Qual o teor
desses conflitos maiores? Qual a dúvida legal? Há litigância de má-fé? As
decisões do Carf seriam enviesadas, no caso de o governo estar em maioria ou
não? Ressalte-se, a esse respeito, que quase 95% delas foram unânimes ou
tomadas por maioria até outubro do ano passado.
O assunto é, sem dúvida, intrincado. Fisco
e contribuinte podem ter suas razões ou fazer mera defesa cega de interesses.
Em qualquer hipótese, as novas normas terão no máximo efeito pontual, muito
aquém do ajuste orçamentário de que o governo precisa.
Cracolândia sem fim
Folha de S. Paulo
Se a segurança pública não se aliar a saúde
e habitação, problema vai perdurar
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes
(MDB), procura uma solução rápida para a cracolândia. Contudo tentativas
fracassadas de gestões municipais e estaduais, somadas à reformulação cosmética
de políticas públicas para o local a cada novo mandato, deveriam deixar
evidente que, quando o assunto é tratamento para usuários de droga, o tempo
deve ser aliado.
Experiências internacionais e especialistas
apontam para a necessidade de medidas interdisciplinares e de longo prazo. Na
contramão desse consenso, a atual gestão oferece propostas de tom populista.
Numa delas, pretende-se oferecer R$
600 mensais para quem abrigar pessoas em situação de rua,
chegando a R$ 1.200 caso o cidadão acolha famílias. Há dúvidas sobre a
efetividade da política em larga escala. Ademais, o assistencialismo da medida
esconde que o déficit de moradia é um problema complexo e estrutural em São
Paulo.
No ano passado, a prefeitura ensaiou
medidas mais condizentes com iniciativas de sucesso em outros países, como o
"housing first" ("moradia primeiro"), ao conceder
habitações transitórias por até 12 meses. Ações do tipo, combinadas com
tratamento de saúde integral para usuários e combate ao crime organizado para
traficantes de grande porte, deveriam ser o foco.
Outra proposta problemática é a prisão em
regime semiaberto de usuários que recusem internação. A medida confunde punição
com tratamento, como se a restrição de liberdade gerasse algum tipo de melhoria
de saúde, ou provesse segurança para a população que trabalha ou reside na
região já gravemente deteriorada.
Ao contrário do que pode sugerir o senso
comum, investir em medidas penais para usuários tende a legitimar violência,
sem benefícios diretos que perdurem.
A aposta de Nunes na internação compulsória
(definida pela Justiça) e na internação involuntária (com consentimento de um
familiar e de um médico) apenas retira usuários da paisagem urbana, em vez de
promover tratamento individualizado, baseado na confiança do paciente e em
evidências científicas sobre o vício.
A cracolândia é um problema
interdisciplinar. De fato, o patrimônio, tanto público como privado, e a
população da região devem ser protegidos. Mas, para alcançar esse objetivo,
apenas ações na área de segurança pública não são suficientes. Devem-se
privilegiar tratamento médico, geração de renda e habitação a fim de obter
resultados menos efêmeros.
Estados fazem bem em manter privatizações
O Globo
Ao contrário do Planalto, governos de São
Paulo, Rio, Minas e Paraná se esforçam por atrair capital privado
Pensava-se que os arroubos de palanque do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra as privatizações visavam apenas a
animar o eleitorado à esquerda. Ao assumir o Planalto, porém, entre suas
primeiras medidas Lula mandou retirar do programa de desestatização a Petrobras
e a Empresa de Correios e Telégrafos (ECT). Também blindou contra a venda
Dataprev, Nuclep, Serpro e Conab.
A privatização dos Correios foi aprovada na
Câmara em 2021, com base num alentado estudo inspirado por experiências
internacionais. Agora saiu dos planos. Ao mesmo tempo, o novo presidente da
Petrobras, Jean Paul Prates (PT-RN), afirmou que suspenderá a venda de
refinarias e outros ativos, cujo objetivo era reduzir o endividamento. Pior
para os acionistas da Petrobras, a começar pela própria União. Mas pior mesmo
para a sociedade, que continuará sem um mercado de refino competitivo e sem
concorrência robusta e investimentos no serviço postal.
Com visão correta, os novos governadores
adotaram postura oposta à do Planalto, apresentando uma relação extensa de
empresas públicas a vender e projetos de concessões destinados a Parcerias
Público-Privadas (PPP). É certo que vários desses governadores têm um perfil
liberal, mas a diferença também decorre da necessidade de os estados reforçarem
o caixa, depois das perdas impostas pela redução promovida pelo governo
Bolsonaro no ICMS de combustíveis, energia elétrica, comunicações e
transportes.
Atrair investidores é essencial para o país
alcançar um nível de crescimento sustentado na faixa de 4% ao ano. Para isso,
dizem economistas, a taxa de investimento, situada abaixo dos 20% do PIB,
precisa aproximar-se dos 25%. Como o Estado não tem como investir mais de 2% do
PIB, sem o capital privado, interno e externo, simplesmente não há como atingir
a meta, fundamental para impulsionar a economia.
Pelo menos, os governadores de São Paulo,
Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná têm planos para atrair o capital privado
para investir em infraestrutura. No Rio, o governador Cláudio Castro (PL) fala
em privatizar o que restou da Cedae sob controle do estado: o fornecimento de
água às concessionárias privadas em sua área de atuação. Trata-se de um setor
que necessita de investimentos pesados, fora do alcance dos cofres fluminenses.
Em São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) deseja fazer o mesmo com a
Sabesp, a maior empresa de saneamento do país. São grandes as resistências de
corporações que desejam manter as estatais intocadas. Em Minas, Romeu Zema
(Novo) tem planos para vender o controle da elétrica Cemig e planeja uma nova
rodada de concessões de rodovias e aeroportos regionais. No Paraná, o reeleito
Ratinho Júnior (PSD) quer vender a Copel, empresa de energia cotada em Bolsa
como a Cemig.
A esperança é que a realidade se sobreponha
à ideologia e que o governo federal tome o mesmo rumo. Na primeira reunião
entre Tarcísio e Lula, entrou na agenda a privatização do Porto de Santos, a
que se opõe o ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França (PSB),
ex-governador de São Paulo. Depois do encontro, o ministro-chefe da Casa Civil,
Rui Costa, afirmou que não há dogmas. Disse que o importante é atrair
investimentos para atualizar e expandir a problemática infraestrutura do país.
É um bom sinal. Que Lula também tenha a sabedoria de rever suas opiniões e
decisões.
Repetir erros é o maior risco para a nova
versão do Mais Médicos
O Globo
Classe médica vê com ceticismo reedição do
programa criado no governo Dilma por motivação política
O governo federal pretende retomar o Mais
Médicos, o programa criado na gestão Dilma Rousseff para levar profissionais de
saúde às regiões remotas onde são escassos ou inexistem, depois redesenhado na
administração Jair Bolsonaro e rebatizado como Médicos pelo Brasil.
Evidentemente, ninguém pode ser contra a iniciativa de suprir carências na
saúde, ainda mais diante de emergências sanitárias como a que aflige a reserva
ianomâmi entre Roraima e Amazonas. Na nova versão, porém, é fundamental evitar
os erros do passado.
Na primeira versão do programa, lançada em
2013, o caráter político ficou evidente desde o início. O governo petista
trouxe cubanos para preencher as vagas (eram 80% do total). Cerca de 70% de
seus salários eram confiscados para ser remetidos à ditadura amiga de Cuba. A
eles restava aceitar a situação, sob pena de retaliações a parentes. Os
estrangeiros não eram obrigados a se submeter ao exame que revalida os diplomas
à luz das exigências brasileiras.
O norte ideológico do programa era tão
óbvio que, logo depois da eleição de Bolsonaro, o governo cubano rompeu abruptamente
o convênio com o Brasil, prejudicando a assistência na atenção básica aos
moradores de pelo menos 611 municípios dos 3.228 atendidos. Ainda que Bolsonaro
tenha feito fortes críticas ao Mais Médicos (na essência, com razão), Cuba não
poderia tomar a decisão unilateralmente, sem dar ao Brasil tempo para se
adaptar.
Agora o governo promete priorizar os
brasileiros e oferecer incentivos aos profissionais formados no país. Os
estrangeiros não estão descartados, mas deverão passar pelo exame Revalida para
que seus diplomas sejam reconhecidos aqui. Já é um avanço. Mesmo assim, as
primeiras medidas anunciadas pelo sanitarista Nésio Fernandes, secretário de
Atenção Primária à Saúde, não agradaram à classe médica. “Incentivos monetários
não são suficientes, precisamos de projetos estruturados e fortes, como uma
carreira de Estado”, afirmou o presidente da Associação Médica Brasileira (AMB
), César Fernandes. Ele se referiu às mudanças como um “remendo”.
Não há dúvida sobre a importância de levar
assistência médica a regiões onde ela falta. O programa atende 63 milhões de
brasileiros em 4.058 municípios. Em muitos lugares, é a única opção. Mas o
desafio não é tão simples. É verdade que hoje o Brasil dispõe de mais
profissionais (2,5 médicos por mil habitantes, ante 1,9 em 2013). Só que não
estão distribuídos de modo homogêneo. Certos locais, mesmo com salários mais
atraentes, não despertam interesse dos médicos brasileiros.
A tragédia humanitária dos ianomâmis revela
a urgência de priorizar regiões desassistidas, como os distritos indígenas. São
conhecidas as carências em todo o país. O essencial é o atual governo não
repetir os erros da primeira versão. Será fundamental deixar a política de
fora. A saúde, apontada em pesquisas de opinião como o problema número um do
país, não pode ser contaminada pela ideologia do governante no poder. O PT
criticou Bolsonaro por isso. Espera-se que não faça igual.
Cenário externo melhora e dá chance para Brasil fazer ajustes
Valor Econômico
Novas regras fiscais satisfatórias e um
avanço na reforma tributária poderão abrir melhores perspectivas para o país
O arrefecimento da inflação nos países
desenvolvidos trouxe uma lufada de otimismo sobre a economia global, a ponto de
já se poder antever, com toda a cautela possível, que a economia europeia e a
americana não mergulharão em recessões longas e profundas sob impacto dos
aumentos dos juros determinados pelos Bancos Centrais, que prosseguirão. Essas
economias estão esfriando, mas o pico da inflação ficou para trás e ela está de
fato cedendo. Os movimentos que um cenário melhor em formação deixa entrever
abrem mais uma janela de oportunidade para que o Brasil tenha tempo (ainda que
não muito) para arrumar a casa fiscal e preparar o caminho do crescimento.
Após ter suportado a mais rápida escalada
dos juros em décadas, a economia americana cresceu 2,9% no quarto trimestre e
2,1% no ano passado. Até mesmo em dezembro, o último mês do ano, a média das
projeções dos membros do Fed para o ano era de 0,5%. Mas os juros frearam de
fato a economia, o que apareceu de forma bem mais clara nos meses finais do
ano. A expansão do PIB no período ocorreu no começo do trimestre. Já em
novembro e dezembro o consumo declinou significativamente, a indústria teve
desempenho negativo, assim como as vendas de imóveis. A força do PIB foi
atribuída por vários analistas a fatores indesejados, como a formação de
estoques por varejo, indústria e setor de construção, fruto da retração do
consumo.
A inflação, na medida preferida pelo
Federal Reserve, a dos gastos pessoais de consumo, fechou o ano em 5%, depois
de ter ultrapassado 7% há pouco tempo. O núcleo desse índice recuou a 4,4%. O
PCE de serviços, que concentra a atenção do Fed segue alto: 5,2% em dezembro.
Todas as medidas, no entanto, estão bem acima da meta de 2%, e o Fed
prosseguirá com aumento de juros, agora em menores doses, já que o ciclo de
altas já foi quase todo percorrido, e aponta, em seu final, para algo entre 5%
e 5,5%. Ou seja, haverá mais aperto monetário no momento em que a economia
mostra que perdeu fôlego.
A inflação também recua do outro lado do
Atlântico, onde a certeza de uma recessão na zona do euro deu lugar à perspectiva
de um crescimento zero ou ligeiramente positivo. A maior economia do bloco, a
Alemanha, teve expansão no ano passado, em meio a muitas adversidades. O
cenário europeu é dominado pelos rumos da invasão da Rússia na Ucrânia. Uma
grande parte da inflação se deve a ela, que fez explodir os preços da energia,
enquanto os governos tentavam se livrar da dependência do fornecimento russo,
movimento que também foi feito por Moscou, cortando o suprimento.
Há novos capítulos, como um teto de preço
também para o diesel, e outros certamente se sucederão, mas o primeiro deles
não foi tão trágico. O inverno foi mais ameno do que poderia ter sido, e os
estoques de gás europeu de outras fontes foram formados com rapidez. Por isso,
sem novo choque de energia, a inflação está cedendo e o impacto sobre as
atividades econômicas, antes imaginado como paralisante, não ocorreu. A
inflação, porém, continua alta como nunca em 40 anos e o Banco Central Europeu,
que saiu atrás no ajuste dos juros, prosseguirá com a terapia - há apostas de
pelo menos mais dois aumentos que levarão a taxa para 3% ou mais.
A China fez reviravolta completa em sua
política contra a covid-19, abriu as fronteiras e espera livrar-se das
restrições que reduziram sua expansão a 3%, abaixo da meta de 5,5%. A aceleração
do crescimento pode não ser tão intensa como muitos esperam, nem ocorrer tão
rápido, diante da celeridade dos contágios e dos problemas de infraestrutura
para atender os doentes. Mas há consenso de que o desempenho da economia será
melhor e tanto melhor quanto mais estímulos forem dados ao setor imobiliário,
que cambaleia com o estouro da bolha. É pouco provável, porém, que o apoio seja
generalizado e de grande magnitude.
Há várias incertezas. O preço das commodities pode cair, ou subir pouco, o que seria bom para a inflação. Com menor ímpeto de aperto monetário nos EUA, o dólar está perdendo força, o que retira um elemento de tensão inflacionária importante no Brasil, às voltas com impasses fiscais. Os investidores estão alocando mais recursos para os países emergentes, e, sem alarde, o Brasil recebeu US$ 90 bilhões em investimentos diretos, a maior quantia em duas décadas. Novas regras fiscais satisfatórias e um avanço sério na reforma tributária poderão abrir melhores perspectivas para uma economia que deve marcar passo entre 0 e 1% neste ano.
"Os relatos sugerem que militares do Sétimo Batalhão de Infantaria da Selva,..., vazavam informações de operações de combate à atividade ilegal e permitiam a circulação de ouro e droga mediante pagamento de propina."
ResponderExcluirTinha q ter milico envolvido.
Q faz o EB sobre esta denúncia de participação? Q saibamos, NADA.
O EB não cansa de passar vergonha por causa do genocida.
Cúmplice ajuda; não reprime.
Excluir"Boicotado por Bolsonaro, o Censo é objeto de dúvidas e confusão. O governo Lula precisa priorizar o resgate da credibilidade da pesquisa, essencial para a democracia"
ResponderExcluirLula precisa consertar o país destruído pelo fujão.
Lula foi eleito pra isso.
Foram MUITOS crimes de Bolsonaro contra os ianomâmis, contra outras tribos e contra a floresta amazônica! Com auxílio de Damares Alves, Ricardo Salles e outras figuras sinistras, como dezenas de militares e policiais indicados para cargos de comando nos ministérios, que não tinham competência para exercê-los e apenas prejudicavam o funcionamento dos órgãos e reduziam a fiscalização, além de se envolverem em corrupção dos mais variados tipos.
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