Governo tenta reescrever verdade sobre impeachment
O Globo
Chamar de ‘golpe’ decisão legítima do
Congresso Nacional contribui para disseminar desinformação
Até as paredes depredadas do Palácio do
Planalto sabem que a ex-presidente Dilma Rousseff foi afastada por um processo
de impeachment, movido pelo Congresso Nacional de acordo com todas as regras
previstas na Constituição e na legislação, referendadas pelo Supremo Tribunal
Federal (STF). Apesar disso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e
integrantes de seu governo têm insistido em desafiar a verdade e em se referir
ao episódio como um “golpe”.
Foi o que Lula voltou a fazer depois de encontro com o presidente do Uruguai, Luis Alberto Lacalle Pou, ao se referir ao ex-presidente Michel Temer como “golpista”, expressão que já empregara antes. Mais grave ainda, a narrativa do “golpe” foi reproduzida por documentos oficiais — disseminando desinformação, que o governo diz combater. Ao noticiar a mudança de comando na Empresa Brasil de Comunicação (EBC), o site do governo cita “o golpe de 2016”. Que golpe é esse que ninguém viu?
Com toda a razão, o PSDB, que apoiou o
afastamento de Dilma, recorreu à Justiça Federal para impedir que o governo use
em seus meios oficiais a palavra “golpe” para se referir ao impeachment. Temer,
por seu turno, lembrou em nota que Dilma foi condenada à perda do cargo sob
acusação de ter cometido crimes de responsabilidade, com as “pedaladas fiscais”
e decretos que geraram créditos orçamentários sem autorização do Parlamento.
Ela sofreu impeachment por seus próprios
erros, ao mandar para o espaço a Lei de Responsabilidade Fiscal. Teve amplo
direito de defesa, e o afastamento seguiu todos os trâmites legais, como manda
a Constituição. Tudo às claras, com transmissão ao vivo pela TV. Iniciado em 2
de dezembro de 2015, o processo foi encerrado em 31 de agosto de 2016, quando o
Senado decidiu, por 61 votos a 20, cassar o mandato da presidente da República
(na Câmara, o pedido foi aprovado por 367 votos a 137, com sete abstenções).
O desfecho não surpreendeu, pois Dilma
estava fragilizada politicamente. A despeito de o PT ter a maior bancada no
Congresso, sua gestão incapaz de debelar a crise econômica custou-lhe a
sustentação parlamentar no segundo mandato. Ela não tinha também base popular.
Com o país mergulhado em crises, passeatas pedindo seu impeachment se sucediam.
A cada aparição na TV, panelaços reverberavam expondo a escalada na rejeição.
A verdade inconveniente para o PT e para
Lula é que nada disso violou nenhuma lei nem regra da democracia, como fizeram
os vândalos golpistas que invadiram as sedes dos Três Poderes no 8 de janeiro.
O impeachment de Dilma foi, pela própria natureza do instrumento, um processo
ao mesmo tempo jurídico e político e, como todo evento traumático, teve um
custo para a sociedade. Obviamente não agradou aos petistas. Mas foi tão
legítimo quanto o impeachment de Fernando Collor de Mello em 1992, apoiado pelo
PT. Qual a diferença? O que pretende o Executivo agora? Reescrever a História
sob a ótica das facções petistas?
Lula fez campanha, arregimentou apoio de
amplos espectros da sociedade e se elegeu presidente defendendo a democracia e
a Constituição, em contraponto aos arroubos golpistas do adversário, o
ex-presidente Jair Bolsonaro. Não pode, agora já eleito, querer estabelecer uma
nova verdade para fatos históricos, como numa distopia orwelliana.
Contestação a projeções do Censo mascara
profusão de municípios
O Globo
Só uma minoria das prefeituras gera
recursos locais para pagar despesas — as demais dependem da União
Em liminar, o ministro do Supremo Tribunal
Federal (STF) Ricardo Lewandowski manteve as regras de distribuição dos R$ 188
bilhões do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). A decisão foi uma
resposta a projeções demográficas sugerindo encolhimento populacional em 863
cidades brasileiras, o que acarretaria redução nas verbas recebidas do governo
federal (entre elas, 73 dos 92 municípios do Rio de Janeiro). Os prefeitos
prejudicados contestaram a qualidade do Censo, sujeito a adiamento, cortes e
dificuldades técnicas que impediram até agora sua conclusão.
Os argumentos dos detratores do Censo são
frágeis. Trata-se do melhor retrato possível do Brasil dentro das condições.
Além disso, a liminar, que ainda será examinada pelo plenário do STF, apenas
mascara o enfrentamento de uma deficiência grave do pacto federativo
brasileiro: a proliferação de municípios sem receita tributária suficiente para
arcar com suas despesas.
A reclamação dos prefeitos resulta da
distorção criada depois da promulgação da Constituição de 1988, com a criação
de centenas de novos municípios. Com promessas de empregos e benesses, houve
uma onda de plebiscitos para desmembrar regiões. De 1989 a 2001 surgiram 1.181
novos municípios. Cada um com seu prefeito, câmara de vereadores, estrutura
administrativa com secretários, assessores etc. Na maioria dos casos, a conta
sobrou para os repasses do FPM.
A festa municipalista foi até certo ponto
contida em 1996, com uma emenda à Constituição acrescentando às exigências já
previstas a aprovação de lei complementar federal para cada proposta de novo
município e a divulgação de Estudos de Viabilidade Municipal. O plebiscito
necessário ao desmembramento passou a incluir também as cidades que poderiam
ser afetadas pela criação da nova prefeitura.
As medidas não conseguiram reverter o
desequilíbrio. O Brasil tem hoje 5.570 municípios. De acordo com o último
estudo da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), com dados de
5.239 municípios para o ano de 2020, 1.704 (32,5%) nem geram localmente
recursos para arcar com a estrutura administrativa. Um levantamento do jornal
Folha de S.Paulo estimou que 70% arrecadam o suficiente para pagar menos de 20%
das despesas. Nem todos recolhem tributos municipais. Preferem viver com o
dinheiro fácil e sem encargos do fundo de participação.
Embora a criação de municípios independentes tenha sido justificada muitas vezes com base em critérios geográficos ou econômicos, boa parte surgiu apenas para atender a interesses políticos paroquiais. A liminar de Lewandowski pode satisfazer à demanda imediata dos prefeitos prejudicados, mas a realidade não mudará, e o Censo é apenas seu retrato mais fiel. Congresso e Executivo têm o dever de desenvolver um programa para aglutinar prefeituras que isoladamente não se sustentam e que, agrupadas, seriam mais viáveis. A medida melhoraria a qualidade da gestão pública e do gasto com o dinheiro do contribuinte.
Motores globais
Folha de S. Paulo
EUA e China mostram sinais econômicos
positivos, o que dá algum alento ao Brasil
Com alta de 2,9% no quarto trimestre, em
número anualizado, a economia
americana encerrou 2022 com crescimento de 2,1% e continua dando sinais de
robustez, desafiando prognósticos mais pessimistas de uma recessão
iminente.
O que há até o momento é uma bem-vinda
moderação que ajuda a reduzir pressões inflacionárias. O consumo e o
investimento domésticos subiram 2,2% no ano passado, bem abaixo da tórrida
expansão de de 8,1% em 2021.
Setores mais sensíveis ao aumento de juros
promovido pelo Fed, o banco central americano, já mostram comportamento
diverso. A construção civil tem apresentado queda anualizada superior a 20%, e
parece diminuir a demanda interna por bens e serviços.
É um resultado desejável, diante da
necessidade de fazer a inflação ao consumidor cair dos 6,4% de 2022 para algo
mais próximo da meta de longo prazo de 2% num horizonte não muito distante.
Os dados mais recentes caminham nessa
direção, e por isso os mercados financeiros já se mostram mais confiantes de
que o rápido ciclo de alta do custo do dinheiro se encerre em breve, com juros
na casa de 5% ou um pouco mais.
A principal incerteza ainda está no mercado
de trabalho. Com taxa de desemprego de 3,5%, não distante da mínima histórica,
os salários ainda sobem de 4,5% a 5% ao ano, muito acima da produtividade e do
que seria compatível com a meta de inflação. Daí o desejo da autoridade
monetária por uma contenção, que talvez não possa ser obtida sem um período
recessivo.
Nos últimos meses, entretanto, os dados
caminharam na direção mais vantajosa, e este 2023 se inicia com uma combinação
benigna —a perspectiva de estabilização dos juros e menos inflação nos Estados
Unidos pode viabilizar o desejado pouso suave.
Há outros fatores globais promissores no
curto prazo. O abandono da
política de Covid zero na China prenuncia forte aumento da demanda no gigante
asiático, e alta do Produto Interno Bruto de pelo menos 4,5%, ante
3% em 2022.
Uma aceleração desse tipo sempre resulta em
impulso para o restante do mundo, em particular para países emergentes que
dependem da exportação de matérias-primas, caso do Brasil.
Melhores notícias também aparecem na
Europa, com menos risco de recessão em razão da diminuição dos preços de
energia.
Para nós, os ventos externos ainda são
favoráveis. Preços de commodities elevados, maior demanda chinesa, queda do
dólar e impulso a fluxos de capitais para emergentes sugerem menos pressão para
que o governo indique logo o rumo a seguir na economia. Não convém contar com a
sorte, porém.
Vale de problemas
Folha de S. Paulo
Brumadinho gera denúncias na Justiça, mas
governo posterga recuperação ambiental
Ao completarem-se quatro anos do colapso da
barragem da Vale no município de Brumadinho (MG), atenções estão voltadas
para a denúncia na
Justiça Federal de 16 executivos da mineradora e da empresa Tüv Süd pelas
mortes de 270 pessoas. O aspecto ambiental do desastre, contudo,
resvalou para um plano distante.
Não se trata, por óbvio, de estipular
hierarquia de valores entre perdas de vidas humanas e danos à natureza, e sim
de instar o poder público a cumprir suas obrigações. Não só a de indenizar os
parentes de mortos e os diretamente atingidos, mas de zelar pela qualidade de
vida na bacia hidrográfica afetada, encetando sua recuperação.
No fulcro está o rio Paraopeba, para o qual
escorreu boa parte dos 13 milhões de m³ de rejeitos minerários. Ao todo, 26 dos
48 municípios da bacia se encontram na área afetada. Impacto mais significativo
que os 3 km² de mata atlântica dizimados pelo derrame (o dobro da área do
parque Ibirapuera).
Persistem
incertezas sobre a contaminação do rio, de poços e do pescado, com
pareceres conflitantes de órgãos públicos e de instituições independentes. Não
faltam denúncias de moradores da região, que deveriam ser abastecidos com
alternativas mais seguras para consumo de água e peixes.
Parte do desencontro de informações decorre
da dificuldade de estabelecer e aplicar critérios objetivos sobre quem deve ser
cadastrado como atingido, obstáculo já enfrentado após o caso de Mariana (MG),
três anos antes. Mas falta também transparência do governo mineiro e um esforço
crível para dirimir dúvidas remanescentes.
Uma questão mal resolvida é a ausência de
representação direta dos afetados na governança do plano de reparação acordado
com a Vale, no valor de R$ 37 bilhões. A supervisão cabe só ao governo
regional, ao Ministério Público Federal e Estadual e à Defensoria Pública, sem
controle social de fato.
Organizações de atingidos e pesquisadores
independentes defendem mais recursos para remoção de rejeitos do rio.
Queixam-se, ainda, da falta de acesso a dados e informações detidos pela
empresa e por instituições públicas.
Minas Gerais já enfrentou duas tragédias minerárias em prazo curto e possui diversas barragens que ainda podem gerar episódios semelhantes. O governador Romeu Zema (Novo) deve empenhar-se na defesa dos interesses da população que o reelegeu.
Falta grandeza a Lula
O Estado de S. Paulo.
Ao insistir em chamar de ‘golpe’ o
impeachment constitucional de Dilma, Lula investe no rancor, como sempre fez ao
longo de sua trajetória, mas o momento do País clama por um estadista
Num evento público na Argentina, o
presidente Lula da Silva chamou de “golpe de Estado” – nada menos – o
impeachment da então presidente Dilma Rousseff em 2016. Ou seja: não contente
em classificar de “golpe de Estado” uma decisão soberana do Congresso, com
respaldo do Supremo Tribunal Federal e em estrito cumprimento da Constituição,
Lula o fez no exterior, enxovalhando as instituições democráticas do Brasil
perante uma audiência estrangeira. Foi, portanto, uma dupla ofensa ao País.
De Lula, é claro, não se podia esperar
outra coisa. É da sua natureza investir no rancor como ativo eleitoral. Foi
assim que, desde a fundação do PT, e de modo mais acentuado durante o
mandarinato lulopetista, Lula alimentou a cizânia nacional, dividindo o País em
“nós” e “eles”. “Nós”, no léxico lulopetista, designa todos aqueles que, sendo
petistas, são considerados naturalmente bons, justos e tradutores juramentados
dos desejos do “povo”; já “eles”, nesse mesmo dicionário, representam todos os
que ousam criticar o PT e, portanto, são naturalmente maus, injustos e inimigos
do “povo” – e, agora, golpistas.
Se o comportamento de Lula não causa
surpresa, provoca desânimo: justamente no momento em que o País mais precisa de
um estadista, capaz de reconstruir pontes e fomentar o diálogo, o que temos na
Presidência, até o momento, é o agressivo líder sindical que só se interessa
pelos seus e desmerece quem não integra sua patota.
Lula recebeu um País imerso numa profunda
crise, mas não uma crise qualquer: há risco real de ruptura, como
testemunhamos, estarrecidos, no dia 8 de janeiro, com a tentativa de golpe em
Brasília. Seu antecessor deixou como principal legado a desconfiança
generalizada em tudo – seja em relação a vacinas e às urnas eletrônicas, seja
em relação aos políticos, à imprensa e ao Judiciário. Relações familiares foram
irremediavelmente rompidas, e todos os aspectos da vida cotidiana foram
politizados.
Ora, ao qualificar como “golpe de Estado”
um processo rigorosamente constitucional, em que nenhum direito foi violado,
Lula colabora decisivamente para manter em carne viva o tecido social,
alimentando o descrédito nas instituições, exatamente como fazia Jair Bolsonaro
na Presidência.
Ao longo da campanha eleitoral e em seus
primeiros discursos, Lula transmitiu a esperança de que agiria para retomar o
diálogo entre os cidadãos em torno de objetivos comuns, a começar pela defesa
do regime democrático. Mas não é isso o que o presidente tem feito até agora. O
Lula da “frente ampla”, está cada vez mais claro, era só um personagem
inventado pelo marketing político. O Lula que está na Presidência certamente
satisfaz os petistas que desejam vingança pelos anos em que o partido virou
sinônimo de corrupção e incompetência, mas está longe de satisfazer as demandas
de um dos mais graves momentos da história nacional. Depois de ser presidido
por um anão moral, o Brasil esperava, se não um gigante, ao menos um presidente
minimamente empenhado em restabelecera grandeza da Presidência da República.
É claro que as soluções para os imensos
problemas do País não dependem apenas da ação do governo, pois demandam uma
concertação de interesses e o engajamento da sociedade civil organizada. Tudo
isso, no entanto, só será possível soba liderança de alguém disposto a sobrepor
o interesse público a outros interesses de natureza ideológico-partidária – eo
interesse público nem remotamente se confunde coma agenda retrógrada e
rancorosa do PT. A história nacional não é aquilo que o partido do presidente
diz que é.
O País precisa de entendimento sobre suas
prioridades e clama por uma condução altiva e responsável. É em momentos de
turbulência, como o que ora o Brasil atravessa, que estadistas são forjados.
Lula, portanto, tem de decidir se quer ser visto como o líder certo para essa
quadra desafiadora de nossa história ou se pretende seguir como um dos grandes
beneficiários do jogo de soma zero com o bolsonarismo, retroalimentando o
círculo vicioso que nos trouxe até aqui.
Bloqueio de perfis requer fundamentação
O Estado de S. Paulo.
Decisão judicial se cumpre. Não cabe ao
Telegram desobedecer à ordem determinando bloqueio de perfil de rede social.
Mas o STF precisa fundamentar de forma mais concreta suas decisões
O descumprimento de ordem judicial por
parte da plataforma de mensagens Telegram constitui flagrante desrespeito ao
Estado brasileiro. Fez bem, portanto, o ministro Alexandre de Moraes, do
Supremo Tribunal Federal (STF), em aplicar multa à empresa por não ter efetuado
o bloqueio, tal como havia sido determinado em decisão prévia, de um perfil do
deputado federal eleito Nikolas Ferreira.
“Como qualquer entidade privada (...), a
rede social Telegram deve respeitar e cumprir, de forma efetiva, comandos
diretos emitidos pelo Poder Judiciário relativos a fatos ocorridos ou com seus
efeitos perenes dentro do território nacional; cabendo-lhe, se entender
necessário, demonstrar seu inconformismo mediante os recursos permitidos pela
legislação brasileira”, disse Alexandre de Moraes. Se alguém considera
equivocada uma decisão judicial, o caminho não é desobedecê-la, e sim requerer
sua revisão por meio dos instrumentos processuais disponíveis.
Na decisão, o ministro do STF lembrou um
importante aspecto do caso. “A presente medida não configura qualquer censura
prévia” – o que é proibido pela Constituição de 1988 –, uma vez que “não há
qualquer proibição dos investigados em manifestarem-se em redes sociais ou fora
delas”. De natureza cautelar, o bloqueio dos perfis pretende apenas, esclareceu
Alexandre de Moraes, “fazer cessar lesão ou ameaça de lesão a direito”,
interrompendo “a divulgação de discursos com conteúdo de ódio, subversão da
ordem e incentivo à quebra da normalidade institucional e democrática”.
De toda forma, mesmo não sendo censura
prévia, ou seja, mesmo o Judiciário podendo em tese determinar o bloqueio de
perfis em redes sociais, é necessário que decisões com esse teor sejam
especialmente bem fundamentadas, apontando de forma específica quais são as
publicações que estão provocando lesões (ou ameaças de lesões) a direitos e
suscitam a atuação da Justiça. Nesse sentido, merecem reparo diversas decisões
judiciais a respeito de bloqueios de perfis em redes sociais. Elas precisam ser
fundamentadas de forma mais concreta.
Longe de eximir da necessidade de
fundamentação da decisão, a alegada gravidade das publicações – “conteúdo de
ódio, subversão da ordem e incentivo à quebra da normalidade institucional e
democrática” – deve ser motivo adicional para que a Justiça especifique os
conteúdos ilegais e criminosos. Não pode haver decisão por baciada, com
fundamentações genéricas que servem a variados casos.
Não basta um juiz ter competência
jurisdicional. Não basta que ele tenha poderes para tomar aquela medida
judicial. O magistrado precisa justificar sua decisão, relacionando os fatos e
circunstâncias do caso concreto com a lei a ser aplicada.
É desse trabalho de fundamentar a decisão
judicial que decorre a legitimidade democrática do exercício da magistratura.
Não sendo eleitos, os juízes não têm um poder arbitrário. Precisam mostrar, com
a máxima transparência possível, as razões de cada decisão, explicitando sua
compreensão dos fatos e sua interpretação da lei.
A fundamentação concreta das decisões é
caminho indispensável para que a Justiça possa cumprir sua missão de solucionar
e pacificar os conflitos sociais. Os cidadãos têm o direito de conhecer as
razões pelas quais o juiz proferiu, naquele processo, aquela específica decisão.
Ao estar fundamentada de forma concreta na legislação vigente, a solução dada
pelo magistrado poderá, mesmo que não se concorde com ela, ser respeitada, e,
se for o caso, contestada de forma também concreta por meio do recurso cabível.
A fundamentação a partir das circunstâncias
do caso e da lei assegura à decisão judicial seu pleno caráter jurídico. Num
momento em que o STF sofre especiais contestações, sendo criticado por
supostamente atuar politicamente, é preciso ser ainda mais rigoroso na
fundamentação das decisões, explicitando que a ordem judicial não é fruto das
idiossincrasias do juiz do caso, mas decorrência direta da lei. Agir assim é um
modo muito efetivo de defender o Supremo e sua autoridade.
O Estado de S. Paulo.
Uma desconfiança perigosa
É preocupante que uma parcela crescente da
população brasileira hesite e resista às vacinas
Duas pesquisas divulgadas recentemente
apontam para um problema grave: a crescente desconfiança de parcelas da
população brasileira em relação a vacinas. Tal resistência, alimentada por
desinformação, tem contribuído para a queda dos índices de cobertura vacinal no
País. Nos últimos anos, as principais metas de imunização do calendário
infantil não foram atingidas, um risco à saúde de milhões de crianças − e um
alerta para as autoridades.
Um levantamento da Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG) indicou os principais fatores de resistência a vacinas no
País. O principal deles, citado por 72,8% dos entrevistados, foi a preocupação
com possíveis efeitos colaterais − como se os imunizantes não tivessem que ser
licenciados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa),
procedimento que analisa a segurança do produto.
A pesquisa da UFMG foi realizada entre
setembro e outubro de 2021, com apoio do Conselho Nacional de Secretarias
Municipais de Saúde (Conasems). Para Hisham Hamida, diretor do Conasems, o
receio de efeitos colaterais é sintoma de falsas notícias e boatos disseminados
nas redes sociais. Disse ele ao Estadão: “É uma hesitação causada pela
desinformação, pela desconstrução de uma confiança que tínhamos no programa de
vacinação”. Uma lástima.
Outra pesquisa, publicada na revista
científica Nature Medicine, mostrou que a hesitação dos brasileiros em vacinar
os filhos contra a covid-19 aumentou 56,3% em 2022, em relação ao ano anterior.
O levantamento foi feito pelo Instituto Global de Saúde de Barcelona (ISGlobal)
e alcançou 23 países onde vivem mais de 60% da população mundial. Enquanto a
disposição global de vacinar os filhos cresceu, a parcela de pais que relutam
em fazer isso no Brasil subiu e atingiu 13,6%. Mais um sinal de que o País
caminha na contramão.
A vacina contra a covid-19 é o método mais
eficaz de prevenção das formas graves de uma doença que já matou quase 700 mil
pessoas no País, muitas delas crianças. Elevar os índices de imunização em
todas as faixas etárias, portanto, não só é recomendável, como é uma
necessidade de saúde pública. O mesmo raciocínio se aplica às demais vacinas
disponibilizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). No caso da covid-19,
infelizmente, há que recordar a campanha contrária à imunização de crianças e
adolescentes promovida pelo então presidente Jair Bolsonaro, que resistiu à
liberação da vacina infantil pela Anvisa. Mesmo depois da aprovação, ele disse
que sua filha, na época com 11 anos, não seria vacinada.
Sim, é de lamentar que o Brasil dê sinais
de retrocesso em tema de tamanha seriedade. O desenvolvimento de vacinas, como
se sabe, foi um dos maiores avanços de saúde pública na história da humanidade.
Desacreditá-las é um desserviço que custa vidas. As autoridades sanitárias
devem agora se empenhar em difundir informações corretas e com base científica,
recordando as muitas evidências disponíveis: as vacinas são essenciais para
prevenir doenças e, ao mesmo tempo, seguras para as respectivas faixas etárias.
Valor Econômico
Os primeiros passos de Lula indicam mais do
mesmo, da política externa “ativa e altiva”. O pragmatismo pode forçá-lo em
outras direções
O presidente Lula escolheu os parceiros
certos para dar início a suas viagens internacionais oficiais e imprimir uma
marca distinta em relação à desastrosa diplomacia de seu antecessor. Lula
visitou a Argentina e o Uruguai e já tem agenda para próximos encontros com o
presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o presidente da China, Xi Jinping.
O vigor da retomada diplomática, porém, não parece até o momento se refletir no
conteúdo das mensagens brasileiras, que deixam no ar a impressão de que se
trata apenas de uma volta ao passado.
As relações com o Mercosul são prioritárias
e Lula retomou os vínculos com a Argentina, rompidos por Jair Bolsonaro, uma
ruptura que foi até recebida com alívio pelo presidente argentino, o peronista
Alberto Fernandez. Mesmo no tempo em que os Kirchners governavam o país, o
relacionamento do Brasil o país vizinho foi conflituoso. A economia argentina
se dilacera de crise em crise e de novo não tem fontes de financiamento
externo, sustentando-se apenas em um acordo com o FMI, com empréstimos com
carência de US$ 45 bilhões - e criticado pela vice-presidente, Cristina
Kirchner.
Com escassez de divisas, a Argentina
argumenta com um motivo a mais para não abrir sua economia - o outro é a
resistência ideológica dos peronistas em fazer isso. As reticências se refletem
no acordo União Europeia-Mercosul, cujas negociações foram iniciadas no
primeiro governo de Lula e só concluídas no governo Bolsonaro. A Argentina
ainda quer negociar mudanças pois vê pontos negativos para sua indústria no acordo.
A posição expressa por Lula é de fechar o acordo, embora sinais diplomáticos
indiquem que o Brasil também gostaria de fazer reparos nele.
Como gesto de boa vontade, Lula acenou com
medidas de efeito duvidoso. A primeira foi a moeda para transações comerciais
externas, como forma de driblar a escassez de financiamento para o país
vizinho. Deficitária na balança comercial com o Brasil, a Argentina tampouco
tem reais para suprir diferenças da liquidação contábil. O Brasil propôs, além
disso, financiamentos do Banco do Brasil, com base em um Fundo Garantidor. Não
há mais detalhes sobre isso.
Problemático também foi a oferta de Lula de
o BNDES financiar gasodutos para escoamento do gás de Vaca Muerta até o Brasil.
No fim do governo Lula e princípio do de Dilma, o BNDES foi abarrotado de
funding por transferências do Tesouro. Sem o Tesouro, os desembolsos do banco
encolheram muito. O país vive uma penúria fiscal e há que escolher
criteriosamente para aonde vão os recursos, já que são escassos internamente também.
Vaca Muerta, além disso, é um pesadelo ecológico para ambientalistas, e seu gás
cobriria primordialmente déficits de abastecimento da Argentina. Não seria
vital para o Brasil, que desperdiça gás do pré-sal.
No Uruguai, Lula tentou apagar incêndios. O
presidente Lacalle Pou, de centro-direita, abriu negociações com a China para
ingressar na Parceria Transpacífico. O Uruguai tomou a atitude unilateralmente,
o que fere o Tratado do Mercosul, que obriga à negociação conjunta. Lula
argumentou que o Mercosul deveria se concentrar no acordo com a UE para depois
tratar da China, que também ofereceu um acordo comercial com o Brasil, mas
parece não ter convencido o parceiro uruguaio. Sem uma tarifa externa comum, o
bloco se fragmentará.
No campo político, Lula propagandeou sua
versão da história, ao mencionar o “golpe” de Estado que depôs Dilma e chamar o
ex-presidente Michel Temer de “golpista”, passando por cima do fato de que o
Congresso, com assistência do Judiciário, removeu Dilma do poder pelas
pedaladas fiscais. Lula reatou laços com a Celac (Comunidade dos Estados
Latino-Americanos e do Caribe), com elogios à defesa que fizeram da democracia
quando esteve ameaçada no Brasil. Da Celac fazem parte Venezuela, Cuba e
Nicarágua, países que estão longe de ser democráticos. Coube a Lacalle Pou
dizer na reunião que a defesa da democracia não era monopólio da esquerda,
referindo-se aos três países, que o Brasil apoia, que não tem práticas
democráticas.
A posição do Lula é sempre ficar por baixo. Apesar na orientação para is brasileiros não ter complexo de vira lata, parece que ele próprio sofre desse complexo. Talvez, pelo imenso país que governa o faça sentir melhor entre os menores.. Com a dimensão territorial do país deveríamos pleitear a ser o pior entre os melhores. Uma vez república das bananeiras,
ResponderExcluirsempre “bananeiras”.
Nota-se seu apego a Maduro e
ResponderExcluira bajulação com empréstimos facilitados. A sua fragilidade em relação a viúva negra da Argentina sugere muitas coisas, como também o seu apego a Dilma querida.Foi obrigado a esquecer Cuba
devido sua incontinência verbal que o colocou suspeito de fofocar perante os Castro. Bouça fechada não entra mosquito, mas seu ego e narcissismo não deixa seus neurônios funcionar adequadamente. Ele é o FHC
Boca
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