Folha de S. Paulo
Ataque violento do bolsonarismo está
submetendo o sistema de defesa constitucional da democracia brasileira ao seu
maior teste
A crise constitucional instaurada
pela tentativa
de abolição do Estado democrático de Direito em 8 de janeiro ainda não
foi completamente debelada. O termo crise, de origem grega, está associado à
necessidade de tomada de uma decisão fundamental, da qual depende a própria
sobrevivência de um corpo. Assim como um paciente em crise demanda ações
urgentes para que não venha a óbito, a crise atual exige medidas contundentes
para que a República não pereça.
Em Roma, o remédio para a superação das crises da República era a instauração de uma dictadura, termo que não guarda semelhança com seu significado atual. A dictadura seditionis, instalada pelos cônsules, a pedido do Senado, mais se assemelha à nossa intervenção federal ou estado de defesa, pois conferia ao seu executor poderes de emergência, para o reestabelecimento da ordem constitucional. Jamais para a sua usurpação, como nas ditaduras contemporâneas.
Com o surgimento dos regimes liberais, pautados
na regra da lei, no pluralismo, na representação política, na tolerância e
laicidade do Estado, houve a crença de que as dissidências poderiam ser
continuamente processadas pelos canais institucionais e resolvidas de forma
pacífica. Mas isso nem sempre ocorre, especialmente frente ao surgimento de
populistas autoritários.
A ausência de mecanismos eficientes para
lidar com os inimigos internos da democracia, nos anos 1930, na Alemanha,
deixou evidente que as democracias precisavam reforçar seus mecanismos de
autodefesa, pois há setores que simplesmente não se submetem às regras do jogo
democrático. O ataque violento do bolsonarismo —que se consolidou como facção
política antidemocrática— contra as instituições do Estado democrático de
Direito está submetendo o sistema de defesa
constitucional da democracia brasileira ao seu maior teste.
A intentona
de 8 de janeiro foi uma consequência direta da radicalização visceral
de parcela da direita brasileira, fomentada pelo ex-presidente e seus acólitos.
Mais do que isso, a invasão e a depredação dos Poderes da República somente
foram possíveis graças à colaboração de parte do aparato de segurança e de
seguimentos das forças militares, capturados pela facção bolsonarista, e a
erros das autoridades.
É importante destacar que os comandos
militares resistiram à reiterada e criminosa incitação do ex-presidente contra
os poderes civis (artigo 286, parágrafo único, do Código Penal). E isso deve
ser enaltecido. Nossos comandantes, no entanto, devem aos cidadãos brasileiros
uma manifestação inequívoca, como a proferida pelo alto comando das Forças
Armadas norte-americanas, após a tomada do Capitólio,
de que "apoiamos e defendemos a Constituição. Qualquer ato para romper o
processo constitucional não é apenas contra as nossas tradições, valores e
juramentos, é contra a lei".
As autoridades civis estão cumprindo suas
obrigações. O presidente decretou a intervenção federal, ratificada pelo
Congresso Nacional. As instituições de aplicação da lei estão envidando todos
os esforços para apurar e responsabilizar aqueles que praticaram crimes.
O Supremo
Tribunal Federal está empregando o seu poder cautelar, em toda sua
extensão, para prevenir novos ataques à democracia e assegurar a integridade do
processo de responsabilização dos culpados. O afastamento das autoridades
envolvidas na tomada da sede dos Poderes da República sinaliza, para
governadores e policiais, em todo o Brasil, que a sublevação e a traição à
Constituição não serão toleradas.
Debelada a crise, será necessário um amplo
esforço para desbolsonarizar segmentos sensíveis do Estado, da sociedade e das
redes sociais, para que a República não permaneça mais sob a constante ameaça
de seus inimigos.
*Professor da FGV Direito SP, mestre em direito pela Universidade Columbia (EUA) e doutor em ciência política pela USP.
E AÍ, BOLSONARO?
ResponderExcluirJÁ QUE VOCÊ ACHA QUE LULA NÃO FOI ELEITO, QUE AS ELEIÇÕES FORAM FRAUDADAS, E QUE VOCÊ AINDA TEM TODO O PODER, FAZ UMA GRAÇA AÍ:
UMA GRAÇA CONSTITUCIONAL LIVRANDO O ANDERSON TORRES, IGUAL FEZ COM O DANIEL SILVEIRA!
TOPA, TCHUTCHUCA?
Seguimento e segmento,ele usou as duas palavras como se tivessem o mesmo significado.Todo mundo erra,eu erro sem parar,rs.
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