O Globo
Se Lula deixar tempo passar e enveredar por
polêmica econômica, perderá oportunidade de fazer avançar o Pacote da
Democracia
A janela de oportunidade para que haja uma
convergência dos Três Poderes em torno de um pacto pela democracia está aberta
desde 8 de janeiro, mas não permanecerá assim indefinidamente. Se o governo
Lula deixar passar muito tempo depois da eleição das Mesas da Câmara e do
Senado sem colocar as propostas para andar, as divergências políticas voltarão
a emergir, pautadas também pela controversa agenda econômica do Executivo, e
adeus oportunidade de proteger mais fortemente as instituições e o processo
democrático.
O ministro da Justiça, Flávio Dino, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) parecem ter entendido a urgência do momento histórico. Outros, inclusive o presidente, parecem perder tempo com pautas divisionistas, quando têm nessa questão da reação ao terrorismo golpista do bolsonarismo uma oportunidade clara de reconquistar uma fatia da sociedade.
Dino corre para finalizar ainda nesta
semana o Pacote da Democracia, conjunto de iniciativas para tentar fortalecer a
segurança dos Poderes para que ataques como os do dia 8 não se repitam e, ao
mesmo tempo, para reforçar os mecanismos legais de punição a financiadores e
idealizadores de atos que atentem contra o Estado Democrático de Direito,
usando até a internet como instrumento de arregimentação.
A maior dúvida que paira quanto ao conteúdo
do pacote diz respeito à proposta de formação de uma Guarda Nacional para
substituir a Força Nacional, mecanismo pelo qual, mediante convocação,
policiais e integrantes das Forças Armadas se unem para tarefas específicas.
A Guarda Nacional será permanente, composta
a partir de concurso público e destinada a proteger a segurança de prédios
públicos, terras indígenas, reservas ambientais e fronteiras. A dúvida é quanto
ao caráter da guarda, se civil ou militar. Caberá ao próprio Lula bater o
martelo. Uma guarda militar é considerada mais eficaz do ponto de vista da
ação, mas há no governo uma corrente que advoga que seria temerário dar mais
poder aos militares em plena crise de confiança entre as Forças Armadas e o governo.
Para aprovar o pacote com celeridade, o
governo precisará da contribuição do Congresso. O momento atual é propício para
isso. Mas há uma disputa que vai ganhando corpo pelo comando do Senado. Embora
publicamente Rogério Marinho se coloque como um bolsonarista moderado no páreo,
no submundo das redes cresce a pressão dos radicais bolsonaristas sobre
senadores, com ameaças àqueles que votarem em Pacheco (o voto é secreto).
A recusa dele em abrir processo de
impeachment contra ministros do STF o tornou um dos alvos preferenciais do
bolsonarismo agora. Pacheco pretende, em seu estilo mineiro, se colocar
abertamente como aquele que defenderá a democracia sem titubear, dessa forma
associando Marinho ao golpismo bolsonarista.
Para Lula, passa a ser crucial a reeleição
de Pacheco, sob pena de o Senado virar uma Casa a travar a agenda do governo e
a tentar emparedar o STF. A maioria pró-Pacheco é nominalmente confortável, mas
partidos como União Brasil são considerados dúvida, uma vez que a partilha de
espaços no governo deixou descontentes pelo caminho.
A atuação do governo tem de ser
inteligente: um apoio ostensivo de Lula a Pacheco pode não ser a forma mais
eficaz de assegurar votos nos partidos. Mas o Planalto precisa acompanhar de
perto a disputa para não ser surpreendido por uma reviravolta, como o próprio
Lula foi em 2005, com a vitória de Severino Cavalcanti na eleição para a
presidência da Câmara.
Como se vê, a agenda da democracia, que
deveria ser prioridade de Lula, é ampla, tortuosa e tem um prazo muito
específico para entrar em vigor. Gastar gogó e bilhões com um gasoduto em
reserva indígena argentina parece passar longe do foco mais premente para o
governo.
"Gastar gogó e bilhões com um gasoduto em reserva indígena argentina parece passar longe do foco mais premente para o governo."
ResponderExcluirBobagem. Um não impede o outro. Gasoduto com gogó e bilhões não elimina o foco premente citado por vc.
De qq maneira, vc poderia dizer q gasoduto é um bom negocio pro BNDES e pro Brasil.
Poderia dizer q Lula recebe herança maldita o q demanda múltiplos enfoques SIMULTÂNEOS.
Ponha a mão na consciência, e.admita q o gasoduto será tratado por uma burocracia e q o foco premente por outra.
Múltiplos enfoques dificultam a análise da imprensa (rs) mas é o q se espera do Lula.
Pois é...
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