Folha de S. Paulo
Senador deu golpe para explicar outro
golpe, mas precisa ser investigado
Outro dia, adaptando e usando
canhestramente a divisa latina "ridendo castigat mores", escrevi neste espaço que
castigar e corrigir os costumes rindo-se deles é refresco para a cabeça e o
fígado. Foi o que fez o ministro Alexandre de Moraes, do STF, ao classificar de
"tentativa
Tabajara" o plano de golpe de Estado revelado pelo senador
Marcos do Val.
O termo alude às Organizações Tabajara, empresa fictícia criada pelo grupo Casseta & Planeta para indicar uma ação farsesca e desleixada. Ao concordar com Moraes, o humorista Huber Aranha disse que, "se fôssemos cobrar cada vez que o nome Tabajara é usado, estaríamos ricos", esquecendo-se de que o povo indígena, ancestralmente localizado no litoral, entre a ilha de Itamaracá e a foz do rio Paraíba, e que inspirou a personagem Iracema de José de Alencar, nunca recebeu um tostão pelo empréstimo da marca.
O senador também foi comparado ao Cebolinha de
Mauricio de Souza, com seus "planos infalíveis". Eleito na onda
bolsonarista de 2018, apresenta-se como instrutor da Swat, da Nasa, do FBI e
até do Vaticano. O broche da Swat que ele ostenta na lapela pode ser comprado
na internet por R$ 60. Do Val está mais próximo daquele sujeito que a gíria
carioca costuma chamar de "comédia".
a posse de Lula— está mal contada. Mas nem
por isso pode deixar de ser investigada a fundo. A intenção de Do Val de pedir
o afastamento de Moraes da relatoria dos inquéritos antidemocráticos explica
mais do que suas inverdades.
Enquanto isso, continuamos a rir. Não só
para desopilar. Ri-se, hoje, de nervoso e de vergonha. Não há graça em tentar
explodir o aeroporto de Brasília, invadir e destruir os prédios dos três
Poderes, saber que um ministro da Justiça escondia no armário uma minuta
golpista.
Verdade.
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