Folha de S. Paulo
Embate público com o Banco Central é reação
política a risco prolongado na economia
Quando ainda estava em campanha, Lula reconhecia
que a
economia daria trabalho na largada de um novo mandato. As contas do
governo teriam que passar por ajustes, os ministros precisariam cavar
resultados, e a atividade levaria alguns meses para reagir. Sentado na cadeira,
o presidente percebeu que essa janela de tempo pode ser mais longa.
O petista passou a conviver com o pesadelo de atravessar todo o primeiro ano de governo num cenário de baixo crescimento e mercado de trabalho desaquecido. Auxiliares consideram que essa é a maior ameaça à popularidade de um presidente que chegou ao poder com uma promessa de recuperação econômica.
A briga de Lula com o Banco Central é parte
de uma reação política a esse risco. Nas últimas semanas, o petista atacou a
taxa de juros definida pelo órgão e chegou a anunciar a intenção
de rever a autonomia concedida por lei à instituição.
O humor do presidente azedou depois que o
BC indicou, na quarta-feira (1º), que os juros podem ficar no
patamar atual até o fim do ano. Para os petistas, a decisão já afeta
setores dependentes do crédito, com capacidade de matar o crescimento de 2023 e
ainda transbordar para 2024.
Lula elegeu o comando do banco como um
inimigo a ser enfrentado publicamente. O presidente ampliou o rol de
adversários porque sabe que ligar o descalabro de Jair
Bolsonaro à economia capenga garante um alívio temporário, mas não
terá a mesma eficácia por mais de um ano.
O plano do governo é martelar a ideia de
que a política do banco seria uma das principais barreiras ao crescimento e à
recuperação do emprego —e de que Lula estaria de mãos atadas devido às regras
de autonomia.
Petistas dizem que o embate também deve ser
lido como uma convocação para que integrantes do governo reajam a esse quadro.
Lula espera reduzir resistências internas e acelerar medidas de estímulo que
dependem dos cofres públicos, como um reajuste do salário mínimo, um
plano de obras nos moldes do PAC e a volta do Minha Casa, Minha Vida.
Bruno.
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