O Estado de S. Paulo
A principal discussão sobre os juros, sobre
o tamanho da meta de inflação e sobre a autonomia do Banco Central (BC) não tem
muito a ver com questões técnicas. Até agora se restringiu preponderantemente a
questões emocionais ou políticas.
Mas eis que o próprio PT, na Resolução do
Diretório Nacional divulgada nesta quinta-feira, aventa uma questão técnica em
defesa da imediata redução de juros: a de que a natureza da inflação atual não
tem a ver com o aumento da demanda, mas com mais custos.
Como uma inflação de custos não se combate com aumento dos juros, segue-se, como fica implícito na Resolução, que os juros têm de cair – para reduzir o custo do crédito, estimular o investimento e o emprego.
Para reativar a memória: o aumento dos
juros, ou seja, a redução de moeda reduz o volume de crédito, desacelera o
consumo e contribui para a redução de preços, pelo efeito da lei da oferta e da
procura. Daí por que combate a demanda excessiva.
Não há dúvida de que a inflação global mais
alta a partir de 2021 em diante tem a ver com forte aumento dos custos. O surto
de covid-19 empurrou as pessoas para dentro de casa e a produção sofreu brecada
instantânea. Foi o suficiente para desarticular os fluxos de produção e
distribuição ao redor do mundo, porque os navios pararam nos portos,
componentes e peças não chegaram às linhas de montagem e isso produziu aumento
de preços. Depois veio a guerra na Ucrânia que, por escassez de oferta, atirou
para cima os preços do petróleo e dos alimentos.
Essa inflação de custos não pode ser
atacada com aperto da oferta de moeda. Nesse caso, ou se reduzem os preços, ou
há maior oferta de mercadorias e serviços, ou há redução de impostos, o que foi
tentado pelo governo anterior – ainda que com fins eleitoreiros.
E, no entanto, os bancos centrais
contra-atacaram com aumento dos juros. No caso do Brasil, o BC informa que a
alta dos juros passou a ser necessária por duas razões: pelo forte despejo de
dinheiro pelo governo, que aumentou as despesas públicas; e pelo efeito
inércia, uma vez que reajustes dos combustíveis e dos alimentos puseram em
marcha reajustes automáticos (indexação) ou quase automáticos de preços.
É por isso que o BC justifica os juros
altos com o argumento de que o núcleo da inflação (que exclui os preços da
energia e dos alimentos) aumentou em 12 meses até novembro cerca de 9,38% (veja
o gráfico), bem mais do que a inflação propriamente dita no período (5,90%).
Sobre isso, a Resolução do PT silencia.
De mais a mais, se os juros básicos
caíssem, por exemplo, para a altura dos 10% ao ano, a redução do custo do
crédito para o tomador seria insignificante.
A inflação será mais difícil de derrubar do que os mercados pensam
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Algum risco dos Mercados diminuírem seus lucros neste ano?
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