sábado, 11 de fevereiro de 2023

Demétrio Magnoli - Senhor Polarização

Folha de S. Paulo

Retórica polarizadora fabrica um conveniente 'inimigo do povo'

Diz-se por aí que Lula ainda não desceu do palanque. De fato, na campanha eleitoral, o candidato até que evitou o proverbial palanque: buscou aliança com o centro democrático, sinalizou uma pacificação nacional, prometeu governar para todos. Foi só depois dela que o presidente subiu no palanque, reacendendo a fogueira da polarização. A estratégia discursiva organizou-se sobre quatro eixos, pontilhados por mentiras factuais e clamorosas contradições.

1) Independência do Banco Central

A linha definida por Lula foi exibir o BC como inimigo: um agente do bolsonarismo engajado na elevação dos juros para sabotar o crescimento econômico. Gleisi Hoffmann declarou que "o BC não deu um pio sobre as façanhas orçamentárias de Bolsonaro". É fake news impune: durante o (des)governo bolsonarista o BC elevou a Selic de 2% para 13,75% e, ata após ata, o Copom alertou para as "façanhas" cometidas contra a responsabilidade fiscal. O BC é o STF de Lula.

2) Desestatização da Eletrobras

Lula qualificou a privatização da empresa como um crime contra o povo ("bandidagem", nada menos), anunciando que a AGU acionará o Judiciário para revertê-la. A "bandidagem", contudo, foi aprovada pelo Congresso, com o voto dos neoaliados lulistas. O governo pretende transformá-los em réus? Ou prevaricará? O presidente pediu, em 27 de janeiro, que os líderes parlamentares do governo desistam de "judicializar a política". Pelo visto, a orientação só vale para os outros.

3) A natureza do golpismo

"Atos golpistas foram revolta dos ricos que perderam as eleições", diagnosticou Lula, referindo-se ao 8 de janeiro. Demagogia em estado bruto: não faltaram pobres nas depredações golpistas de Brasília. Bolsonaro obteve 49% dos votos, vencendo no Sudeste, Sul e Centro-Oeste. Seriam os "ricos"? Nessa hipótese, o Brasil deixaria a Suíça no chinelo.

4) Narrativa estatal sobre o impeachment

Como presidente, em visita ao exterior, Lula afirmou que o impeachment de Dilma Rousseff foi um "golpe de Estado". Hélio Doyle, novo presidente da EBC, quer que a estatal de comunicação oficialize a narrativa revisionista. O mesmo STF que anulou as condenações de Lula supervisionou o impeachment, atestando sua legalidade. De acordo com a fake news lulista, os presidentes do Senado e da Câmara e os juízes do STF são golpistas –portanto, criminosos. Segundo a lógica presidencial, o próprio Lula chefia uma quadrilha de criminosos golpistas, pois dá guarida, no seu governo, a eminentes apoiadores do impeachment, como Alckmin, Tebet e Marina Silva, entre outros.

A polarização tem mil utilidades. Mantém a base militante aquecida, substitui o debate racional pelo intercâmbio de acusações, inventa bois de piranha para barbeiragens econômicas. Mas, especialmente, fabrica um conveniente "inimigo do povo".

A retórica polarizadora de Lula forma um arco completo. O "golpe do impeachment" e o ensaio golpista do 8 de janeiro são elementos da guerra permanente dos "ricos" contra os "pobres". A independência do BC e a privatização das estatais não passam de ferramentas dos "ricos" numa ofensiva destinada a conservar as desigualdades sociais e eternizar a pobreza. Os que não estiverem comigo são soldados da guerra da elite contra o povo.

Lula dá de dez em Bolsonaro no esporte da polarização. Começou bem antes, com a "herança maldita" de FHC, no seu primeiro mandato, quando prosseguia a política macroeconômica do antecessor. Sabe deplorá-la sem corar, enquanto a pratica. Acima de tudo, conhece a arte de adaptar a estratégia à conjuntura.

O presidente fala a uma nação traumatizada pelo 8 de janeiro. Atrás de suas sentenças, há o espectro de Bolsonaro. A meta final é identificar a crítica a seu governo com o golpismo bolsonarista. Não há espaço para mais que dois: quem não estiver comigo, está com ele. Eis o que Lula quer dizer.

 

13 comentários:

  1. 'Reinventar' polarização dá assunto para esse colunista costumeiramente imbecil

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    1. Kkkkkkkkkkkkkkk criança malcriada é muito feio.

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  2. Enquanto isso os balões chineses cruzam os céus espionando o vasto Brasil. A covardia é tanta que ninguém da um pio sobre isso e a nossa soberania afunda no inferno que os petistas criam para tapear a covardice. E o povo aceita. O Lula sabia que o Presidente do BC era Bolsonarista? Por que candidatou se não consegue governar com ele? Afinal só querem as benesses e esconder a grana em paredes. Nem por isso aprovo Bolsonaro.

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  3. Se o presidente do BC não atende convida-o com toda a diretoria para uma reunião, demonstre sua incompetência, deixo-o apresentar sua argumentação, publique a ata da reunião se conseguiu comprovar a incompetência, peça a demissão de todos e está resolvido. Fazer discurso estilo cercadinho só nos faz lembrar o fugitivo, flagelo da humanidade. Pobre Brasil.

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  4. Verdade seja dita: Como Lula tem trabalhado !
    Sugiro Selic a 9%; centro de meta da inflção 4,2; PIB 3,2 .a.a
    A tempo : sou leigo


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  5. Lula sempre demonstrou ser um covarde e aproveitador. Não vai mudar.

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  6. Lula tem trabalhado bastante, certamente muito mais que Bolsonaro. O fujão vivia entre uma motociata e outra, não tinha contatos no exterior exceto com seu ídolo/guru Trump e seu amigo Puttin. Lula já mudou completamente a política externa do país, já não somos um pária como nos deixou o grande imbecil Ernesto Araújo, jênio bolsonarista!

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  7. E o que mesmo quer dizer o colunista, além de destilar seu ódio contra Lula e a Esquerda? Os roteiros e as palavras mudam, mas a intenção é sempre a mesma...

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  8. Quase confirmado, Rússia pode ser autora dos balões derrubados no Canadá e no Alasca. Novidade zero já que a Rússia é acostumada a espionar os States. Seria melhor o Putinho cuidar de seus eternos famintos.

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  9. E assim a já conhecida tríade - salvador, algoz, vítima - vai se perpetuando e sugando as possibilidades do protagonismo de um povo

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  10. A maioria dos pobres que votou em Bolsonaro foi comprado com o auxílio Brasil,diga-se.

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  11. Dr. Magnoli, como não polarizar com um canalha que criticava a OMS e queria tirar o Brasil dela em plena pandemia, e associou o Brasil à política externa trumpista e depois que este perdeu seu cargo nos deixou isolados na política mundial?
    Dr. Magnoli, como não polarizar com um canalha que deixou incêndios e desmatamentos proliferarem pelo país e incentivou a invasão e a destruição das terras indígenas?
    Dr. Magnoli, como não polarizar com um canalha antidemocrata que atacou as urnas eletrônicas e as eleições democráticas?

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