terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

Eliane Cantanhêde - Clima de barata-voa

O Estado de S. Paulo

Além do presidente do BC, os juros e a meta de inflação empurram Haddad para o alvo

Se o alvo até a semana passada foi o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que se assumiu bolsonarista, o desta semana passa a ser o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, lulista, petista e candidato à Presidência pelo partido uma vez. Mas o tiroteio é com boatos e ciumeiras, não com balas, e muito menos uma bala de prata.

O presidente Lula atirou no BC, admitiu intervir na autonomia da instituição, desdenhou de Campos Neto como “esse cidadão”, mirou os juros altos e evoluiu para uma negociação para alterar a meta da inflação que, quase consensualmente, é irrealizável. Mas alterar para quanto? E isso baixa a taxa de juros?

“Braço armado” de Lula, o PT reforça o ataque, enquanto ministros tentam uma bandeira branca. Dois exemplos: presidente do partido, Gleisi Hoffmann ataca; ministro da articulação política, o petista Alexandre Padilha diz que o fim da autonomia do BC não está na pauta e não há “fritura e fervura” de Campos Neto. E é nesse clima de barata-voa que os presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, avisam que não contem com eles contra o BC.

Com mercado, economistas e Congresso contra, o PT fica isolado com uma parte da esquerda contra quem tem mandato e com quem Lula vai ter de conviver metade do governo. Melhor seria desviar o foco para um debate, que é razoável, sobre a meta irreal de inflação e o efeito deletério de juros a 13,75%. O PT, porém, não quer discutir, quer atiçar a guerra.

Ontem, o Diretório Nacional do partido votou a favor da convocação de Campos Neto pelo Congresso. Hoje, Haddad reúne a equipe e vai depois a Lula. Na quinta, o Conselho Monetário Nacional (CMN), integrado por ele, Campos Neto e Simone Tebet (Planejamento), abre o debate sobre a meta de inflação.

E por que Haddad está no alvo? Porque Lula e o PT mordem e ele assopra (para os que cobram responsabilidade fiscal e rumos claros). Por mais que o jogo do presidente e do ministro seja combinado, a calibragem de Haddad não é simples. Nem pode ir contra o chefe nem sinalizar aos agentes econômicos e à sociedade que é só paumandado de Lula e PT.

Para complicar, o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, velho assessor econômico de Lula, entrou na guerra, articulando seminários internos e externos sobre BC, juros e inflação, temas da Fazenda. Dada a notícia, pela jornalista Malu Gaspar, todo mundo entrou em campo para organizar a bagunça. Se a política econômica de Lula fosse transparente como a política externa, nada disso aconteceria. Em vez de atacar, que tal Lula mostrar os rumos da macroeconomia? •

 

6 comentários:

  1. Ótimo artigo, um puxão de orelhas.Mas não vai mostrar os rumos da economia no “novo cercadinho”, né?

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  2. Eliane sempre Eliane.
    Esse papo fela vem desde a pré-eleição, lembram?
    Requentado.

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  3. Roberto Campos Neto é uma espécie de 'pauloguedes' mais limpinho

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  4. Jegues gostam de campos!

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  5. pauloguedes, além dos seus tantos defeitos, também não gosta de banho?

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