O Globo
Com 45 dias de governo, ainda falta saber
muita coisa sobre os planos de Luiz Inácio Lula da
Silva para os próximos anos. Está claro desde a campanha, porém, que ele busca
duas coisas principais neste terceiro mandato. Uma é reparação. A outra,
consagração.
Lula quer aproveitar a nova chance na
presidência para completar o que acha que ficou faltando, reconstruir o que foi
destruído nos últimos anos e corrigir o que considera injustiças – contra ele,
preso pela Lava-Jato, contra Dilma
Rousseff, que sofreu impeachment, contra seus aliados, muitos expurgados da
máquina pública sob a acusação de corrupção.
A indicação de Dilma para presidir o banco do Brics faz parte desse esforço, assim como a reabilitação de aliados de outros tempos. O ex-ministro Paulo Bernardo é cotado para uma vaga no conselho de Itaipu. José Dirceu, que andou na geladeira por anos, mereceu menção especial de agradecimento de Lula no início da semana, no evento de aniversário do PT.
É fácil entender por que o presidente faz
tais movimentos. Mas também é fácil ver que, embora satisfaçam um mal
disfarçado revanchismo, não são essas reparações, pautadas pelo passado, que
renderão ao presidente a desejada consagração. Há oportunidades no próprio
governo que podem recolocar Lula no patamar que ele julga merecer, na arena
global e na nossa história. Mas, para isso, é preciso manter os olhos no futuro.
É imprescindível resgatar os ianomâmis do
abandono. Contudo, se não houver um plano que dê à Amazônia alternativas
econômicas que impeçam os garimpeiros de voltar a ocupá-la, o problema da
exploração predatória continuará.
Para crescer, é crucial aumentar a
produtividade da nossa economia. Mas a melhor forma de fazer isso, certamente,
não será retomando políticas que já deram errado — como subsídios com reserva
de mercado para o setor naval ou o financiamento a obras e serviços em países
com economia muito mais debilitada que a nossa.
Lula demonstra compreender que o Brasil
pode se recolocar na arena global como potência ambiental. É nossa capacidade
de contribuir com soluções para a questão climática que faz brilhar os olhos do
mundo. Só que fazer isso sem abdicar do papel de um dos maiores produtores de
alimentos do planeta não é um desafio simples.
Virou moda no governo falar em transição
energética, mas o próprio presidente demonstra querer retomar políticas de
controle de preços para subsidiar combustíveis fósseis. Até agora, não deu para
entender o que terá mais força, mas já deu para perceber que faltam planos para
chegar lá.
Algo semelhante parece estar ocorrendo com
a política externa. De olho no Nobel da Paz, o presidente elegeu como
prioridade habilitar-se como negociador entre Estados Unidos e Rússia para
acabar com a guerra na
Ucrânia.
Lembrou, em entrevista recente, que já fez
isso no caso das tensões entre americanos e iranianos em torno dos arsenais
nucleares. Ficou parecendo que Lula busca, aí, outra reparação, para tentar no
conflito da Ucrânia o
que não conseguiu com o Irã.
Naquele caso, porém, o Brasil foi deixado
de mãos abanando na última hora pelos Estados Unidos, como se os americanos
estivessem dizendo aos brasileiros que, naquele palco, não poderiam pisar. Não
há motivos para achar que agora será diferente, com tantas potências e
interesses geopolíticos de pesos pesados envolvidos.
Enquanto isso, na nossa vizinhança prospera
uma ditadura que produziu uma das maiores diásporas do planeta, que tortura
opositores nas cadeias e que já foi alvo de diversas denúncias da ONU por
violações de direitos humanos.
A Venezuela,
comandada por um presidente ideologicamente próximo a Lula, é uma mancha
autoritária no mapa latino-americano. O país sofre sanções dos Estados Unidos e
de outras nações que não reconhecem a legitimidade de Nicolás
Maduro, mas têm interesse em negociar um acordo que dê acesso ao petróleo
venezuelano em troca do restabelecimento da democracia.
Não seria esse um objetivo muito mais
tangível para Lula e igualmente importante para o fortalecimento da democracia
no mundo? Ignorar essa oportunidade em nome de uma lealdade forjada há décadas
não equivale a manter os olhos no retrovisor?
Por enquanto, uma das tônicas do governo
Lula tem sido o embate entre a busca por reparação que nem a volta ao poder
satisfez e a necessidade de abandoná-la para conseguir a tão almejada
consagração. Esse é um conflito que só o próprio Lula pode resolver. Se ele não
fizer isso, capaz de não ter nem uma coisa nem outra.
Os corruptos dos outros partidos (sócios no mensalão, no petrolão, etc.) também vão ser "reabilitados" ou só os corruptos petistas é que terão esta atenção do Lula?
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ResponderExcluirMinha cara jornalista, a Sra. acaba de se candidatar ao mais novo blog sujo da nova incompetência petista. E olha que votei nesse biltre, pois considero-o menos nocivo do que o genocida bolsonaro. Mas, por obsequeio senhora, ponderemos. O Brasil não merece isso.
Ei, vocês dois, sem essa de querer 'matar a mensageira, tá?
ResponderExcluirViajando na maionese.
ResponderExcluirE pirando na batatinha,rs.
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