quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

Malu Gaspar – A fatura está a caminho

O Globo

As escolhas dos presidentes da Câmara e do Senado trouxeram alguns recados importantes para Luiz Inácio Lula da Silva. O primeiro foi que o apelo do governo, com seus cargos e verbas, é forte, mas não infalível.

Lula, com a experiência de dois mandatos e o trauma do impeachment de Dilma, desde o começo decidiu que não pagaria para ver se tinha bala para derrotar o poderoso Arthur Lira na Câmara dos Deputados.

Num Congresso formado majoritariamente por parlamentares de direita e do Centrão, seria de fato temerário querer bancar um confronto dessa natureza — até porque Lira ainda colhe os resultados da distribuição dos recursos do orçamento secreto nos últimos anos.

No Senado, Rodrigo Pacheco saiu da disputa com o candidato da oposição, o bolsonarista Rogério Marinho, com uma vitória incontestável, mas mais apertada do que se previa há poucos dias.

Os 32 apoios que Marinho reuniu são suficientes para abrir uma CPI no Senado — coisa que Lula não quer de jeito nenhum. E isso apesar do intenso esforço que o governo teve de fazer na reta final, empenhando seus ministros numa negociação de cargos e verbas para garantir a vitória de Pacheco.

Daí vem a segunda constatação feita no governo Lula a partir das eleições. O presidente e seus principais auxiliares podem não admitir publicamente, mas é evidente que calibraram mal os espaços concedidos a alguns aliados na primeira etapa da formação do governo.

O senador Davi Alcolumbre indicou dois ministros — da Integração e Desenvolvimento Regional, do PDT, e das Comunicações, do União Brasil — e tem uma aliança fraterna com o ministro de Minas e Energia, do PSD. Mas a atuação desastrada na campanha de Pacheco fez muita gente concluir que Alcolumbre superfaturou sua capacidade de entrega.

Lira, eleito praticamente por aclamação, com um recorde histórico de 464 dos 513 votos possíveis, tem argumentos para sustentar que seu valor foi subfaturado.

Antes mesmo de a votação de ontem começar, representantes de Lula já foram obrigados a assumir com o grupo de Lira novos compromissos de cargos no segundo e no terceiro escalão, em troca da ajuda no Senado e na acomodação de aliados em vagas no comando da Câmara. Ninguém tem dúvidas de que, a partir de agora, o “Rei Arthur” vai querer “repactuar” sua relação com o governo Lula.

Uma das metas certamente passará por um acordo na distribuição das verbas do orçamento secreto que estavam reservadas, mas foram represadas pelo governo depois que o Supremo as considerou inconstitucionais, no final do ano passado. Estamos falando de algo em torno de R$ 9 bilhões que o governo planeja usar para azeitar sua base no Congresso, mas Lira considera parte do quinhão conquistado no passado.

Ninguém no Palácio do Planalto pensa em ceder esse poder a Lira, mas não se fala grosso com alguém que construiu liderança tão expressiva dominando os anseios de um contingente guloso como o Centrão. Enquanto não se considerar plenamente atendido no governo, Lira não sossegará. Virou chavão em Brasília dizer que só agora Lula conhecerá o verdadeiro Lira.

"O poodle vai virar pitbull", diz um aliado.

A musculatura de Lira e a resistência de Marinho deverão obrigar Lula a reorganizar suas tropas para seguir adiante. O presidente ainda tem muito cargo a oferecer aos neoaliados. O preço possivelmente será mais alto do que ele calculou na transição. E é provável que viva os próximos anos com a faca no pescoço, intercalando vitórias e sobressaltos. Mas isso faz parte do jogo que Lula escolheu jogar.

Diz um velho mandamento da política que presidentes da República devem aproveitar a boa vontade que desfrutam no começo do mandato para aprovar os projetos mais polêmicos ou prioritários. O que o presidente não tem mais, agora, são desculpas para protelar a apresentação dos projetos que prometeu implementar na campanha.

O Congresso está empossado, e seu comando foi definido. As investigações sobre os atentados golpistas continuam, mas o risco de golpe foi debelado. Está na hora de Lula entregar ao país sua agenda — do “Pacote da Democracia” do ministro Flávio Dino à nova âncora fiscal de Fernando Haddad, passando pela reforma tributária, por exemplo. É hora também de preencher os cargos ainda vagos e colocar a máquina pública para rodar. Quanto mais Lula demorar a fazer isso, mais cara ficará a fatura.

 

5 comentários:

  1. Anônimo2/2/23 12:44

    Uma dúvida que fica: qual contingente é mais guloso? O PT ou o Centrão? Briga parelha...

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  2. Anônimo2/2/23 12:46

    O último parágrafo é PERFEITO!

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  3. Anônimo2/2/23 12:59

    Anônimo: "" Anônimo: "" EX_Ministro Do STF Ayres Brito : " Magnifica Instituição Ministério Público. Foi Concebido pela Constituição Federal. O Ministério Público Não Servem aos Governos de Ocasiões.O Ministério Público Não Se Curva _ se Aos Desígnios do Poder, Político, Econômico ou Corporativo,ou Ainda Religioso. É Uma Instituição Independente .É Um Instrumento Para Garantir Os Direitos e Liberdades Fundamentais .Ministério Público, Não Faz Parte de Nenhum Poder. Ele Se Liga á Pessoa do Estado Sem Passar Pela Tripartite: Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.

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  4. Anônimo2/2/23 13:02

    Espero Que Não Cometa o Erro do Poir Presidente da República Jair Bolsonaro! Aprenda Com.os Erros para Não Repetir: O Norte é a Constituição Federal. Ulysses Guimarães: Constituição Cidadã

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