A emergência do conservadorismo é filha no campo político de três grandes revoluções: da Revolução Gloriosa, na Inglaterra, no final do século XVII; da Revolução Americana, nos EUA, a partir de 1776; e, da Revolução Francesa, iniciada em 1789. Do ponto de vista econômico, da Revolução Industrial inglesa, na segunda metade do século XVIII, com a emergência do capitalismo industrial. No ângulo das religiões, da Reforma Protestante e a Contrarreforma católica. No campo cultural, do Iluminismo, idade da razão, e do deslocamento do teocentrismo para colocar o ser humano como centro da vida. Em resumo, uma longa transição da sociedade feudal, da monarquia absoluta, do mundo agrário e rural, da condenação da usura, da simbiose entre Estado e Igreja, para o nascimento do capitalismo, da democracia moderna, do universo urbano-industrial, das novas tecnologias produtivas e as novas relações de produção, do Estado laico, da legitimação do individualismo e do lucro como motores do desenvolvimento.
Inicialmente, a transição resultou na
polarização entre conservadorismo e liberalismo, até que convergiram, mantidas
as diferenças de concepção, no combate ao nascente movimento socialista.
O
conservador defende as coisas permanentes, o contrato primitivo da sociedade
eterna, o pacto entre Deus e as gerações do passado, do presente e do futuro.
Advoga a conservação de princípios fundamentais e a promoção de reformas
prudentes. Não se confunde com o tradicionalismo reacionário e antiliberal.
Enxergam os reacionários como os que querem
sacrificar o futuro em nome da restauração de uma visão idílica do passado. Mas
condenam o ímpeto revolucionário dos progressistas, que querem romper com o
passado e o presente em nome da criação utópica de um outro mundo possível.
Endossam princípios democráticos como a soberania popular relativa, o governo
constitucional, os freios e contrapesos, as eleições, mas não a ideia de um
contrato social que privilegie a liberdade em prejuízo da ordem e das
responsabilidades, segundo eles, para qualificar o individualismo liberal. A
ênfase nas diversas equações dos conceitos de liberdade, igualdade, tradição,
ordem, responsabilidade, vai dividir conservadores e liberais por dois séculos.
Numa versão ampliada de um conservador
contemporâneo poderia se dizer que o conservadorismo moderno começou com a
defesa da tradição contra as reivindicações de soberania popular e se tornou um
apelo em nome da religião, da família, dos costumes, do “Common Law”, da alta
cultura contra a doutrina materialista do progresso. Permanecem na convicção de
que as coisas boas são mais facilmente destruídas que criadas e na determinação
de conserva-las, em face de mudanças politicamente arquitetadas.
Para quem quiser ser introduzido no pensamento conservador recomendo a leitura de dois livros do pensador inglês Roger Scruton, “Conservadorismo, um convite à grande tradição” e “Como ser um conservador”, e do intelectual norte-americano, Russel Kirk, “Edmund Burke, redescobrindo um gênio”.
Interessante e muito bem escrito, parabéns ao autor e ao blog que divulga seu trabalho! Vamos aguardar os próximos 5...
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