quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

Míriam Leitão - Adaptar o Brasil, o tempo mudou

O Globo

A hora é de acudir a emergência, mas o governo já pensa o que fazer, na prática, para aumentar a proteção contra os desastres

Há como adaptar o Brasil para os eventos traumáticos como o do Litoral Norte de São Paulo, e as últimas horas foram de atitudes que podem levar a essa adaptação. O Cemaden alertou que haveria chuvas fortes, em Brasília e no norte de São Paulo, e depois, com a água já descendo, deu um alerta de “altíssimo risco”. O que fazer diante desses avisos? “Ter sirenes em todas as áreas de maior risco já mapeadas no Brasil, e planejar antecipadamente para onde as pessoas devem ir”, afirmou o climatologista Carlos Nobre.

O Cemaden foi criado após a tragédia de Petrópolis em 2011. O que as ministras Marina Silva e Luciana Santos querem agora é construir um plano para os 1.038 municípios que já estão mapeados pelo centro e pelo Instituto Geológico. Neles foram identificadas áreas de risco e de eventos recorrentes.

— Da mesma forma que o PPCDAm foi o plano de ação contra o desmatamento, a ideia que está sendo elaborada pelos ministérios do Meio Ambiente e da Ciência e Tecnologia é fazer um plano de prevenção para o enfrentamento das consequências da mudança do clima — explicou Marina Silva.

Em Brasília, o presidente Lula fez uma reunião ontem à tarde com vários ministros para enfrentar o que está ocorrendo agora no Litoral Norte de São Paulo, da liberação de recursos até às ações emergenciais. Dois fatos positivos dos últimos dias foram a naturalidade com que as autoridades federais e estadual uniram esforços, e a rapidez com que foi acionada a iniciativa privada para levar remédios, alimentos, produtos de necessidade urgente. Não havia morfina no hospital. Chegou num dos voos de helicóptero.

— Para mim, o evento ainda está acontecendo. Então, é preciso pensar no que fazer agora — disse uma autoridade que estava na reunião no Planalto.

É bom que haja um grupo na emergência e outro na prevenção da emergência futura. O Cemaden, Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais, surgiu em um momento assim, na tragédia de 2011 em Petrópolis, quando morreram 918 pessoas. O ministro Aloizio Mercadante ligou para o cientista Carlos Nobre, do INPE, que estava em Tóquio numa reunião e pediu que ele pensasse num sistema de alerta. Amanhecia no Brasil, mas era noite no Japão. Nobre passou a noite escrevendo. De manhã, tinha um esboço. A então presidente Dilma convocou uma reunião, teve conhecimento do projeto e mandou realizar.

Dois desses fundadores do sistema de alerta estavam na reunião dessa terça-feira em São Paulo com as ministras Marina e Luciana, o cientista José Marengo e Carlos Nobre. No Rio e em Petrópolis, há sirenes e isso tem ajudado a mitigar os desastres.

— Dos últimos desastres, apenas um não foi previsto, o de 15 de fevereiro do ano passado, em Petrópolis, porque nenhum sistema do mundo conseguiu prever. Foi totalmente anômalo. Morreram 241 pessoas. O de 20 de março, também em Petrópolis, foi previsto. As sirenes tocaram, e morreram nove pessoas. O do sul da Bahia, no fim de 2021, e o de Minas foram previstos. O do Recife em maio, quando morreram 130 pessoas, foi alertado com dois dias de antecedência. Foram enviados avisos pela Defesa Civil, que usou o SMS, que não é tão efetivo quanto a sirene — diz Nobre.

O Cemaden tem instalados 3.000 pluviômetros em 1.038 municípios. Tem 44 pluviômetros entre Ubatuba e Bertioga e 12 em São Sebastião, mas lá não há sirenes instaladas. É preciso instalar sirenes.

— Vamos fazer um grande seminário em Brasília com a comunidade científica para pensar como pode ser esse plano de prevenção contra os efeitos da mudança climática — afirma Marina.

O governador Tarcísio de Freitas foi com a ministra a São Sebastião e juntos gravaram um vídeo. “Com esse ambiente de cooperação, vamos dar grandes passos”, disse o governador.

Será necessário fazer um grande programa de restauração florestal, do topo dos morros. Segundo Carlos Nobre, 80% dos deslizamentos que ocorreram em Petrópolis em 2011 foram originados em morros em que não havia vegetação no topo.

Agora é acudir as emergências, mas, antes que venha o próximo desastre, é preciso tomar as medidas certas no sistema de alertas e ter uma boa política habitacional e de planejamento urbano. É difícil, mas é possível adaptar o Brasil aos desastres climáticos. A ciência informa: eles vão acontecer com mais frequência e mais intensidade.

 

3 comentários:

  1. O astronauta Marcos Pontes, atual senador eleito pelos paulistas, ficou 4 anos como ministro da Ciência e Tecnologia e quase NADA fez no comando da pasta.
    Na pandemia, o astronauta-ministro prometeu que em poucas semanas apresentaria um remédio contra a Covid que seu ministério estava pesquisando. TAL MEDICAMENTO NÃO APARECEU até hoje!
    Quanto o diretor do INPE anunciou que o órgão havia detectado aumento de queimadas na Amazônia, Bolsonaro criticou o INPE, DUVIDOU dos dados (que depois foram confirmados aqui e fora do Brasil) e o ministro-astronauta DEMITIU o diretor do INPE, um dos 100 mais importantes cientistas do mundo na época.
    Por 8 anos, este mentiroso vassalo e cúmplice de Bolsonaro vai viver em Brasília, depois de ter AFUNDADO a Ciência brasileira e de NADA ter produzido enquanto esteve à frente do Ministério de Ciência e Tecnologia.

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  2. Marcos Pontes sempre foi borboleta deslumbrada.
    Carlos Nobre é um nobre e correto cientista.

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