Desafio de regular inteligência artificial não tem paralelo
O Globo
Sistemas que simulam atividades criativas
terão impacto profundo nos negócios, na política e na vida
É uma piada antiga entre cientistas da
computação traduzir a sigla IA por “imbecilidade automatizada”. Nos últimos
tempos, a brincadeira perdeu a graça, tamanho o avanço nos sistemas de
“inteligência artificial”. É verdade que não é muito adequado chamar um
software de “inteligência”. Mesmo assim, nos últimos anos a IA ultrapassou
barreiras críticas que a tornaram mais acessível — e se tornou o ramo mais
promissor e desafiador da tecnologia digital.
A principal das barreiras é um teste atribuído ao matemático britânico Alan Turing: a partir do momento em que um observador não seja mais capaz de distinguir respostas do computador e dos humanos, dizia Turing, será possível afirmar que a máquina é dotada de inteligência. Tal questão filosófica ainda deverá permanecer sem solução por um bom tempo, mas vários sistemas de inteligência artificial lançados recentemente são hoje capazes de enganar os observadores desavisados.
É o caso do robô de bate-papo ChatGPT,
desenvolvido pela californiana OpenAI e incorporado pela Microsoft a seu
mecanismo de busca Bing. Ou de concorrentes desenvolvidos pelo Google e pela
Meta. Ou ainda do Dall-E, programa que gera imagens a partir de descrições em textos.
Cada um desses sistemas oferece resultados com um grau desconcertante de
semelhança aos produzidos por humanos e levanta questões sobre como o mercado e
as leis lidarão com o avanço da IA. Tais questões não são novas. Povoam a
ficção científica e as discussões acadêmicas há décadas. O que a nova onda da
IA fez foi torná-las urgentes.
Nos anos 1990, ficou claro que não haveria
páreo para os computadores em jogos como o xadrez, onde a vitória depende
apenas da análise exaustiva de uma quantidade gigantesca, mas finita, de
possibilidades. Mas havia ainda um ceticismo fundamentado sobre a capacidade de
máquinas suplantarem seres humanos em atividades criativas, como artes visuais,
composição de música, de textos ou a própria programação dos computadores.
A inovação determinante para a evolução da
IA nas duas últimas décadas foi uma técnica conhecida como “rede neural”. Por
meio dela, os sistemas podem ser treinados com quantidades enormes de exemplos
e aperfeiçoam suas respostas aos desafios. É como se as máquinas pudessem
aprender. Foi esse “aprendizado de máquina” que permitiu aos computadores
derrotar seres humanos em jogos de estratégia mais sofisticados, como o Go, e
aventurar-se em atividades criativas, como produção de textos e imagens.
A simulação da criatividade oferecida pelo
ChatGPT e correlatos se baseia em sistemas capazes de aprender e reproduzir
linguagens naturais, conhecidos como “modelos de linguagem ampla” (LLM na sigla
em inglês). Eles trazem ao alcance dos computadores todo tipo de manipulação
simbólica, em terrenos tão díspares quanto desenho, escrita, programação,
música ou projetos de moléculas para a indústria farmacêutica. O tempo da
“imbecilidade automatizada” ficou definitivamente para trás.
Os resultados impressionam. Desde que o
ChatGPT foi lançado ao público, em novembro passado, escolas e universidades
enfrentam dificuldades para lidar com o uso da IA em redações, provas e
trabalhos. Um repórter do New York Times foi surpreendido com um diálogo
atordoante em que o robô simulava estar apaixonado por ele. A quantidade de
informações falsas e erros flagrantes cometidos em várias respostas levou a
própria Microsoft a limitar seu uso. Autoridades do mundo todo estão perplexas,
preocupadas com o uso da IA em campanhas de desinformação.
As empresas, em contrapartida, estão
animadas com a perspectiva trazida a seus negócios. De acordo com a consultoria
McKinsey, mais de 50% das corporações já incorporaram robôs de IA em suas
operações. No ano passado, grandes companhias americanas adquiriram 52 empresas
emergentes do setor, e a quantidade de postos de trabalho para especialistas no
aprendizado de máquina foi dez vezes maior que em 2020. O temor é que a IA
tenha sobre as atividades criativas o mesmo efeito que outras tecnologias
tiveram sobre empregos de natureza mecânica e repetitiva.
Há, é certo, tarefas em que os robôs de IA
ainda deixam muito a desejar — instado a produzir o texto de um editorial para
esta página, o ChatGPT entregou um resultado impublicável sob qualquer ponto de
vista. Mas outras ocupações estão prestes a passar por um período profundo de
transformação — o mesmo robô produziu programas de computador corretos, capazes
de resolver problemas de complexidade razoável. O mais provável é que, uma vez
que evoluam e os riscos sejam mitigados, os robôs de IA sejam auxiliares
facilitando o trabalho de profissionais que lidam com conhecimentos técnicos.
Não só programadores de computador, mas também médicos, engenheiros, advogados
ou jornalistas.
A nova realidade tornará mais salientes os dilemas éticos inerentes à IA. Que acontecerá se ela for usada para cometer crimes? A quem devem pertencer os direitos sobre o que for produzido? Como zelar por um ambiente competitivo que não reproduza a ameaça dos monopólios digitais? Como garantir a evolução da tecnologia com o mínimo de riscos para seus usuários, para a sociedade e para as instituições? Essas são apenas as questões mais evidentes. Juridicamente, será preciso adotar critérios sensatos para regular os direitos autorais, a responsabilidade civil (e mesmo criminal) e o modelo de negócios subjacente ao uso dos robôs. Tal regulação impõe um teste inédito para a inteligência humana.
Pouco a pouco
Folha de S. Paulo
Número de partidos cai; ajuste gradual é
mais realista do que reforma profunda
Quase a metade dos 31 partidos políticos do
país estará
excluída, neste ano, do rateio das verbas do fundo orçamentário —dinheiro
público— destinado a manter tais agremiações. Essa é uma boa notícia.
Se o pluripartidarismo costuma ser um sinal de vitalidade de uma democracia, a
existência de mais de três dezenas de siglas constitui uma anomalia que resulta
de distorções do sistema político-eleitoral brasileiro e as agrava.
Resultante de normas por demais
permissivas, a proliferação de siglas em nada ajuda os eleitores na hora de
decidir o voto. Grande parte delas opera como meros escritórios especializados
em amealhar recursos públicos, seja diretamente do fundo partidário, seja
negociando cargos e verbas por meio de seus membros eleitos.
A fragmentação dificulta a governabilidade.
Presidentes precisam cercar-se de uma miríade de legendas médias e pequenas, a
custos elevados, para formar maiorias no Legislativo e aprovar seus projetos
—ou, ao menos, para evitar CPIs e ameaças de impeachment.
O país só agora começa a colher os
resultados de reformas aprovadas a duras penas para lidar com o problema. A
primeira, de 2015, fixou exigências maiores para a coleta de assinaturas
necessária para a criação de partidos.
Depois, em 2017, a chamada
cláusula de desempenho impôs votações mínimas, crescentes a cada pleito até
2030, para que as siglas tenham acesso ao fundo partidário e à
propaganda eleitoral paga com dinheiro do contribuinte.
Desde o início das mudanças, a quantidade
total de legendas, graças a fusões e incorporações, diminuiu de 35 para as
atuais 31. A cifra deve recuar em breve para 29, com dois processos ainda em
análise na Justiça Eleitoral.
Mais importante, o número de agremiações
representadas na Câmara dos Deputados caiu do
recorde de 30, em 2018, para 23 agora, com perspectiva de recuo para 20.
Se consideradas as federações, nas quais as siglas se unem por prazo limitado
para cumprir a cláusula de desempenho, a cifra pode chegar a 16 forças em
atuação.
Obviamente, não se está diante de alguma
panaceia. Falta muito, ainda, para que mais partidos busquem se estabelecer em
bases mais duradouras, com coerência programática e inserção na sociedade.
Nesse sentido, o financiamento público de campanhas também deveria ser
reexaminado.
De todo modo, a estratégia de
aperfeiçoamentos graduais parece mais realista e promissora do que alguma
tentativa de reviravolta total das normas eleitorais do país.
Riscos lá fora
Folha de S. Paulo
Com EUA e Europa instáveis, Brasil precisa
ser responsável na economia doméstica
Mesmo após o ciclo de
alta de juros mais rápido das últimas décadas, ainda não se sabe se
a ameaça de inflação persistente está debelada nos EUA e na Europa. É possível
que o arrocho prossiga, aumentando o risco de recessão.
O americano Federal Reserve subiu a taxa
básica de zero para o
intervalo entre 4,5% e 4,75% anuais nos últimos 12 meses —uma
mudança no padrão que vigorou entre a crise de 2008 e a pandemia, período em
que a ameaça mais premente era de deflação.
O custo do capital elevado também vem sendo
complementado por uma reversão gradual do chamado afrouxamento quantitativo, a
expansão de dinheiro na praça usada na década passada. Na prática, cerca de US$
95 bilhões mensais em liquidez estão sendo retirados.
O padrão europeu é similar, com juros em 3%
ao ano, podendo atingir quase 4% nos próximos meses.
O problema é que o legado da pandemia e
mudanças na economia mundial —política industrial baseada em segurança nacional,
menor tolerância à globalização da produção a baixo custo e preços altos de
energia— sugerem pressão inflacionária mais persistente.
A economia americana, por ora, mostra
resistência. Há alguns sinais de desaceleração, casos do setor imobiliário e da
indústria, mas ainda são localizados.
Nos últimos meses, acelerou-se a
criação de empregos e os salários ainda crescem em torno de 4,5% ao ano,
muito acima da produtividade. Estima-se que as famílias americanas tenham cerca
de US$ 1 trilhão em poupança oriunda dos programas de estímulo da pandemia, o
que franqueia amplo espaço para o crescimento do consumo.
A inflação ao consumidor, enquanto isso, se
manteve em torno de 6,4% nos 12 meses encerrados em janeiro. Um progresso ante
os 9,1% registrados em meados de 2021, mas ainda muito distante da meta de 2%
do Fed.
A persistência da atividade e da inflação
sugere, portanto, que o aperto dos bancos centrais pode ter de continuar. As
projeções atuais de mercado contam com alta para até 5,25% nos EUA, mas com
cortes a partir de 2024 —perspectiva que pode ser frustrada.
Já a retomada na China é um alento. A economia
do país asiático deve acelerar de 3%, em 2022, para até 5%, neste ano. Ademais,
não há pressão inflacionária.
Com esse cenário internacional ainda conturbado, o Brasil precisa ser cuidadoso. Flertar com irresponsabilidade orçamentária, em tal contexto externo, pode abortar as já declinantes chances de retomada no ano que vem.
Espírito republicano
O Estado de S. Paulo.
Lula e Tarcísio superam divergências
políticas ante a catástrofe no litoral de SP, num respiro de civilidade depois
de quatro anos em que o extremismo superou o interesse público
A tragédia climática que se abateu sobre os
municípios do litoral norte de São Paulo durante o carnaval, provocando dezenas
de mortes, desalojando milhares de moradores e turistas e deixando um rastro de
destruição material, reavivou na memória coletiva do País a importância capital
da coordenação entre as três esferas de governo, especialmente nos momentos em
que a população mais precisa do poder público.
Foi com um misto de alívio e esperança que
o País assistiu à superação das divergências políticas entre o presidente Lula
da Silva (PT); o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos); e
o prefeito de São Sebastião, Felipe Augusto (PSDB), em prol do atendimento às
vítimas das chuvas torrenciais no fim de semana passado. Assim se constrói uma
sociedade civilizada: pelo exemplo. Líderes políticos devem sobrepor
imperativos morais às suas eventuais diferenças político-ideológicas.
Já nas primeiras horas após o desastre, na
madrugada de sábado para domingo, a prefeitura de São Sebastião, município mais
afetado pelas chuvas, o governo estadual e o governo federal articulavam ações
conjuntas e complementares de amparo à população local, tanto os moradores da
região como os milhões de turistas que desceram para as praias durante o
feriado prolongado.
Lula agiu bem ao interromper seu descanso
na Base Naval de Aratu, na Bahia, e ir pessoalmente se encontrar com Tarcísio e
Felipe Augusto em São Sebastião. “Nós estamos juntos. Acabou a eleição”, disse
o presidente ao lado dos dois mandatários. Em momentos assim, a voz do chefe de
Estado e de governo é importante para confortar as vítimas e para mobilizar os
recursos, humanos e financeiros, necessários para a superação de crises.
Tarcísio, por sua vez, também acertou ao
transferir seu gabinete de trabalho para São Sebastião, onde promete permanecer
até a normalização da situação. O governador agradeceu o apoio de Lula e
reforçou o compromisso de governar São Paulo em parceria com o governo federal
em defesa dos interesses do Estado. Ainda é preciso apurar o que poderia ter
sido feito para evitar tantas mortes, mas é certo que, irrompida a tragédia,
não faltou governo para mitigar seus efeitos.
Em tempos normais, a parceria entre entes
federativos seria uma obviedade, até por se tratar de uma obrigação
constitucional. Historicamente, divergências políticas entre presidentes,
governadores e prefeitos sempre foram suspensas em momentos que clamavam pela
ação conjunta em assistência à população. Porém, quase nada pareceu normal no País
nos últimos quatro anos, de modo que foi reconfortante ver as três esferas de
governo voltarem a atuar em conjunto.
Passado o desditoso mandato de Jair
Bolsonaro na Presidência da República, ao longo do qual não faltaram
oportunidades para o ex-presidente atacar o pacto federativo insculpido na
Constituição e manifestar seu mais profundo desprezo pela vida e pelo bem-estar
dos brasileiros, o País estava saudoso da primazia do interesse público, da
cooperação entre os governantes, independentemente de suas afiliações
ideológicas e partidárias.
É lamentável, no entanto, que essa lição de
solidariedade e republicanismo dada por Lula, Tarcísio e Felipe Augusto não
tenha sido compreendida por mais gente. Bolsonaro passou, mas os danos que
causou para a democracia brasileira ainda perdurarão por muito tempo, como
revelaram as agressões físicas e morais sofridas pelos repórteres Renata
Cafardo e Tiago Queiroz, do Estadão, enquanto ambos cobriam a tragédia no
litoral norte de São Paulo. Xingados e classificados como “comunistas e
esquerdistas” por bolsonaristas em um condomínio de luxo em Maresias, os
jornalistas foram derrubados e quase perderam seus equipamentos de trabalho.
Por um lado, a tragédia no litoral norte de
São Paulo revelou esse Brasil que volta à sua normalidade institucional, há
muito ansiado. Por outro, deu a dimensão do enorme desafio que é superar a
irracionalidade que prevaleceu no País durante os últimos anos.
A intolerável pobreza infantil
O Estado de S. Paulo.
Estudo traça panorama desolador sobre as
vulnerabilidades de milhões de crianças no Brasil. Há algo de muito errado
quando um país descuida desse jeito de suas novas gerações
É intolerável que pelo menos 32 milhões de
meninos e meninas no Brasil vivam na pobreza, como acaba de estimar o Fundo das
Nações Unidas para Infância (Unicef). Esse número representa 63% da população
com idade até 17 anos no País. São seis em cada dez, a maioria absoluta desta
nova geração. Por óbvio, há algo de muito errado quando uma nação descuida de suas
crianças e de seus adolescentes. O que dizer, então, quando a desatenção chega
a esse ponto?
Não é segredo que os primeiros anos de vida
são decisivos para o ser humano, seja em termos físicos, cognitivos ou
emocionais. É na infância que o cérebro se forma, e as vivências nessa fase têm
peso enorme na trajetória de cada indivíduo. A adolescência, por sua vez, marca
a transição para a vida adulta. Uma etapa que requer cuidados e apoio para o
que vem pela frente − jamais descaso, menos ainda em tal proporção.
Deixar milhões de crianças e adolescentes
em situação de vulnerabilidade é tirar-lhes a possibilidade do desenvolvimento
pleno. Uma privação que não compromete apenas seu futuro pessoal.
Evidentemente, as consequências de relegar tamanha parcela de meninos e meninas
à pobreza impactam o destino do País. A pergunta é simples (e a resposta,
claro, perturbadora): qual projeto de nação resiste a uma realidade em que mais
da metade das crianças e dos adolescentes é negligenciada?
O cálculo do Unicef, acertadamente, não se
limita ao critério de renda.
Embora seja determinante das precárias e
indignas condições de vida de milhões de famílias, a baixa renda está longe de
ser a única causa de vulnerabilidades estruturais. A pobreza tem múltiplas
dimensões, e o levantamento analisou dados sobre renda, alimentação, moradia,
saneamento básico, educação, trabalho infantil e acesso à internet. A soma de
crianças e adolescentes em situação desfavorável, em uma ou mais variáveis,
resulta no inaceitável universo de 32 milhões de excluídos.
A estimativa diz respeito a 2019, ano mais
recente com dados para todos os indicadores analisados. Mas o estudo do Unicef,
intitulado As múltiplas dimensões da pobreza na infância e na adolescência no
Brasil e elaborado com apoio da Fundação Vale, traz informações mais atuais
para algumas dessas variáveis. Em 2021, por exemplo, 13,7 milhões de crianças e
adolescentes viviam em famílias cuja renda não era suficiente para garantir
alimentação adequada. Já a falta de saneamento básico, grave risco para a
saúde, era o problema mais abrangente, penalizando 21,2 milhões de meninos e
meninas em 2020.
Na educação, 4,3 milhões de crianças e
adolescentes estavam fora da escola, apresentavam atraso escolar ou ainda não
tinham sido alfabetizados após os 7 anos, quadro que se agravou durante a
pandemia de covid-19. Um número maior − 4,6 milhões − sofria com moradias
inadequadas: lares cujas paredes são feitas de material inapropriado ou que têm
quatro ou mais pessoas por dormitório. Pior: as históricas desigualdades
raciais e regionais do País continuaram expondo parcelas da população a
situações ainda mais preocupantes. Um efeito tipo bola de neve, em que uma
privação não raro se sobrepõe a outras, reduzindo infinitamente as chances de
que milhões de brasileiros possam superar a pobreza e ter aspirações concretas
de mobilidade social.
As diferentes dimensões analisadas no
relatório indicam falhas de todo tipo. Vale notar que o Brasil dispõe de
legislação avançada, a começar pela Constituição Federal e pelo Estatuto da
Criança e do Adolescente, nos quais é notória a proteção aos direitos da
infância e da adolescência. Entre a teoria e prática, porém, o País tropeça em
ineficiências crônicas e na renitente miopia que o impede de perseguir metas de
longo prazo. Não haverá presente nem futuro melhor sem investimento nas novas
gerações.
Quanto a isso, é acertada e bem-vinda a
intenção do atual governo de pagar um adicional do Bolsa Família a quem tem
filhos de até 6 anos. O dinheiro público deve ir para quem mais precisa, e não
resta dúvida de que as crianças, assim como os adolescentes, têm que estar no
topo das prioridades.
Vitória da ciência
O Estado de S. Paulo.
Há 3 anos o País entrava no mapa da covid;
700 mil mortos depois, começamos a sair dele por causa da vacina
Há exatos três anos, em 26 de fevereiro de
2020, o Brasil confirmava seu primeiro caso de covid-19: um morador de São
Paulo que regressara dias antes de uma viagem à Itália. Depois disso, o País
mergulhou na tragédia de hospitais cheios, pacientes agonizantes e famílias em
luto por mortos que totalizam hoje quase 700 mil. Infelizmente, as
consequências da pandemia se farão sentir por muito tempo. Mas o período de
UTIs lotadas, escolas fechadas e isolamento social ficou para trás − como bem
ilustram as imagens do carnaval de rua deste ano.
Isso só foi possível graças à vacina,
verdadeiro divisor de águas na história da covid-19. Eis um fato inconstestável
e uma lição a ser repetida exaustivamente nestes tempos em que ondas de desinformação
semeiam dúvidas quanto à segurança e à eficácia dos imunizantes. As vacinas
estão entre os maiores avanços da humanidade na área da saúde, e seus
resultados contra a covid-19 reforçam tal constatação.
De acordo com a plataforma Our World in Data,
da Universidade de Oxford, já foram aplicados mundialmente mais de 13 bilhões
de doses contra o coronavírus, com efeitos impressionantes. O vice-presidente
da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Alexandre Naime Barbosa, afirmou
ao Valor que se trata da “vacinação em massa que mais salvou vidas na história
da medicina”. Um marco até mesmo na rapidez com que os cientistas desenvolveram
o imunizante.
No Brasil, em face da desídia do governo
federal à época, coube ao governo paulista liderar o esforço na busca da vacina
− um feito digno de reconhecimento. Vale recordar que o então presidente Jair
Bolsonaro dava voz ao negacionismo científico, promovendo aglomerações,
desdenhando do uso de máscaras e recomendando remédios ineficazes. Bolsonaro
chegou ao cúmulo de desestimular a imunização, um mau exemplo que contrariava a
tradição brasileira de respeito pela vacinação em geral.
A vacina foi aplicada pela primeira vez no
País em 17 de janeiro de 2021, na cidade de São Paulo. Dois anos depois, 186
milhões de habitantes já tomaram uma dose, número que cai para 169 milhões na
segunda dose ou dose única − e que está em 104 milhões no caso da primeira dose
de reforço, despencando para 42 milhões na segunda dose do reforço, conforme
dados do Vacinômetro do Ministério da Saúde. Ora, isso significa que dezenas de
milhões de pessoas ainda correm riscos desnecessários. É um dado preocupante e
desafiador.
Em boa hora, o Ministério da Saúde decidiu
retomar as campanhas nacionais de vacinação que fizeram o País dar saltos de
cobertura nas últimas décadas. A primeira terá início amanhã, com a aplicação
da vacina bivalente, capaz de combater não só a cepa original do coronavírus,
mas também variantes como a ômicron.
Tão importante quanto a campanha de
vacinação em si, é fundamental que haja uma robusta campanha de esclarecimento,
uma vez que o obscurantismo bolsonarista ainda faz seus estragos. Restabelecer
a confiança plena nas vacinas é um dos maiores desafios que a sociedade
brasileira deve enfrentar.l
Inteligência Artificial X Imbecilidade Automatizada
ResponderExcluirPena que não temos mais um Isaac Asimov para nos socorrer com um novo "Eu, Robô" atualizado...
Aqui sobra imbecidades bolsonarizadas nos moldes das propostas do pulha Rogério Marinho...
Nojo & Tristeza