Carnaval promete ser o melhor dos últimos anos
O Globo
Prefeituras precisam oferecer
infraestrutura compatível com a volta dos desfiles e blocos às ruas
Não é difícil imaginar o êxtase que deverá
tomar conta das cidades brasileiras nas duas próximas semanas, depois de
inéditos dois anos de fantasias guardadas, instrumentos musicais silenciados e
euforia represada pela pandemia. Nada mais previsível do que levar ao pé da
letra os versos do samba-enredo da União da Ilha: É hoje o dia da alegria / E a
tristeza nem pode pensar em chegar.
A história mostra que, no ano seguinte à tragédia da Gripe Espanhola, o país viveu o maior carnaval de todos os tempos. O roteiro que ora se anuncia não parece diferente. Cidades como Rio, Salvador, Recife, Olinda, São Paulo e Belo Horizonte, onde o carnaval de rua é forte, tentam controlar o desfile de blocos. Apesar da contenção, a previsão é de números superlativos. No Rio, a prefeitura autorizou 445 desfiles de 402 blocos no período entre 21 de janeiro e 26 de fevereiro, o domingo seguinte à Quarta-Feira de Cinzas. Entre eles, sete megablocos — como Cordão da Bola Preta, Bloco da Anitta e Monobloco —, maior número já registrado no carnaval de rua do Rio. Os cortejos atraem milhões num único dia.
Outras cidades seguem no mesmo ritmo. Belo
Horizonte autorizou 473 blocos, 20 a mais que em 2020, no período pré-pandemia.
A prefeitura prevê 5 milhões de foliões. Salvador já respira carnaval com os
ensaios de blocos. A abertura oficial acontecerá em 16 de fevereiro, com um
trio elétrico puxado por Ivete Sangalo. O prefeito Bruno Reis promete “o maior
carnaval de todos os tempos”. Em Recife, o número de palcos da folia foi
ampliado. A prefeitura de São Paulo já confirmou o desfile de 511 agremiações.
Embora o total seja inferior a 2020, haverá 35 megablocos, com nomes de peso
como Daniela Mercury, Pabllo Vittar e Maria Rita. A expectativa é que os
cortejos atraiam 14 milhões de foliões.
Não se imaginava que fosse diferente depois
do recesso compulsório. Mas o previsível aumento do número de foliões demandará
infraestrutura compatível. É preciso garantir segurança e ordem não só para
quem está desfilando, mas também para os moradores das áreas cuja rotina será
alterada pelo desfile. Ainda que interdições no trânsito e acúmulo de lixo nas
ruas sejam inevitáveis, as prefeituras têm de se preparar para reduzir os danos
à população. É fundamental oferecer um número de sanitários adequado. Muitas
cidades estão contratando empresas para prover a infraestrutura, mas o
gigantismo dos blocos é um desafio.
Para os foliões, o carnaval pode ser um
momento de lazer, mas, para cidades como Rio, Salvador e Recife, é sobretudo um
grande negócio. Ao longo do ano, milhares ficam envolvidos na confecção de
fantasias, alegorias e na montagem de estruturas para o carnaval. Foi acertada
a decisão de cancelar os desfiles de blocos nos últimos dois anos. As
aglomerações favoreceriam a disseminação do coronavírus, e seria uma insensatez
pular carnaval enquanto milhares morriam.
Com o avanço da vacinação e a pandemia sob
controle, os brasileiros têm o direito de extravasar sua alegria. Mas ela não
deve ser confundida com desordem, insegurança e riscos à saúde. Espera-se que
as prefeituras cumpram seu dever de prover a infraestrutura necessária,
incluindo vacina nos postos para aumentar a proteção dos foliões. E que os
cidadãos façam a sua parte, contribuindo de forma saudável para o que o país
mais uma vez celebre o maior carnaval de todos os tempos.
Queda da inflação e crescimento global
abrem oportunidade para o Brasil
O Globo
Projeções otimistas do FMI aumentam a
urgência em adotar regras fiscais plausíveis
Depois do impacto da pandemia e da guerra
na Ucrânia, surgem os primeiros sinais de novo fôlego na economia mundial. O
último relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) traz otimismo: projeta
crescimento global de 2,9% neste ano e de 3,1% em 2024. Pode parecer pouco ante
os 3,4% de 2022, mas, revisando previsões anteriores, o fundo constata que 2023
poderá marcar o início da recuperação global. Os números do FMI refletem a
capacidade de adaptação de governos, e principalmente de empresas, a situações adversas.
Em outubro passado, economistas do próprio
FMI emitiam um alerta para o risco “significativo” de uma recessão global. O
economista-chefe Pierre-Olivier Gourinchas reconhece agora que 2023 poderá ser
o ano da mudança de tendência na economia mundial. Entre os fatores
apresentados como causas do “crescimento surpreendente” no último trimestre do
ano passado, está a rápida adaptação da Europa à crise energética deflagrada
pela invasão da Rússia à Ucrânia.
A Alemanha, antes dependente do gás russo,
construiu em tempo recorde um terminal na sua costa no Mar do Norte, para
importar gás liquefeito. No início de setembro, quando Vladimir Putin anunciou
formalmente o fechamento dos gasodutos Nord Stream 1 e 2, em resposta às
sanções ocidentais pela invasão da Ucrânia, não causou grande crise de
abastecimento. Não só na Alemanha, mas também noutros países europeus que
souberam se adaptar à realidade.
Também a China desmente os analistas que
previram recessão em 2023. Para isso, bastou o governo chinês acabar com a
equivocada política de Covid Zero, responsável por frear o crescimento e pelo
desabastecimento em cadeias globais de suprimento de componentes. Depois de o
PIB chinês crescer apenas 3% em 2022, a previsão é que alcance 5,2% este ano,
acima dos 4,4% projetados em outubro.
Outro sinal positivo detectado pelo FMI é a
redução das pressões inflacionárias globais, como resultado da queda no preço
de combustíveis e em cotações de commodities (petróleo, grãos, minérios) e,
principalmente, do endurecimento generalizado na política monetária. A
estimativa é de inflação mundial de 6,6% neste ano e de 4,3% em 2024. No ano
passado, ela chegou ao pico de 8,8%. Há uma positiva onda desinflacionária no
planeta.
A retomada da economia mundial vem em boa hora para o Brasil. O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem reclamado — sem razão — da política monetária apertada aplicada pelo Banco Central (BC) autônomo. Há pelo menos duas sólidas razões para o BC manter a taxa de juros em 13,75%. A primeira é a tendência inflacionária global, que felizmente parece ceder, abrindo espaço para quedas futuras nos juros. A segunda são as incertezas sobre os gastos públicos. Se o governo apresentasse, aprovasse e cumprisse regras plausíveis para a governança fiscal, haveria ainda mais amplitude para os juros caírem — e para a economia brasileira crescer surfando na nova onda de recuperação global.
Sem plano
Folha de S. Paulo
Fala confusa de Lula na economia expõe
erros e falta de programa coerente
De modo vago e grosseiro, Luiz Inácio
Lula da Silva (PT) indicou em entrevista que pode rever a autonomia formal do
Banco Central. Pouco se entendeu do que disse, além de um
desejo de interferir nos juros. Esse tem sido o padrão das declarações
econômicas do mandatário, que revelam, mais do que ideias erradas, a falta de
planos.
Além de confusas, as declarações carecem de
caráter programático e institucional. A crítica de políticas públicas e a
proposta de mudanças são parte do debate democrático e decorrências da
alternância de poder. Lula, porém, não apresenta uma agenda organizada.
Seus discursos sugerem que a mudança está
associada apenas à vontade ou ao capricho do líder. São imprudentes e
contraproducentes —elevam a taxa de juros e provocam mais deterioração das
condições financeiras em geral.
Tem sido assim desde o desfecho das
eleições, quando o petista passou a criticar a ideia de conter o aumento da
dívida pública. O presidente e integrantes do seu governo também pregam a
expansão do BNDES (para também se contrapor ao BC, como disse Lula), criticam a
Lei das Estatais e a política de preços da Petrobras.
Pretendem
ressuscitar, sem mais, programas como o PAC, de escasso ou
desastroso resultado, ou o Minha Casa, Minha Vida.
É como se bastasse reviver uma mítica era
dourada, interrompida apenas pela deposição de Dilma Rousseff (PT) e pela dita
ascensão do neoliberalismo. Tudo se passa como se não tivesse havido erros
graves de política econômica, como se certos programas não tivessem envelhecido
desde os primeiros governos petistas.
Na vida real, o que se consegue com essa
retórica palanqueira é tumulto e incerteza.
A respeito do BC, Lula pretende encerrar a
autonomia formal ou nomear dirigentes heterodoxos? Propõe um novo modo de
definir metas de inflação ou políticas monetárias diferentes?
Pretende replicar a gestão voluntarista do
BNDES sob Dilma Rousseff, que não resultou em aumento de investimento e
transtornou as contas públicas? Vale a mesma pergunta para a Petrobras, outro
fracasso desastroso.
É obviamente compreensível que um novo
governo pretenda dar rumo diferente à administração, talvez com mudanças
profundas. Tem mandato obtido nas urnas para tanto. No entanto a saraivada de
declarações autolaudatórias, confusas, saudosistas e desprovidas de argumentos
só causa insegurança política e econômica.
Além do mais, não demonstra o devido apreço
pela seriedade e pelo caráter institucional do governo e de sua agenda, algo
que o país tanto precisa recuperar.
A força do golpismo
O Estado de S. Paulo.
Embora a bancada golpista no Congresso
esteja isolada, sua mera existência mostra que a antidemocracia foi
normalizada, como se fizesse parte do jogo. É preciso deixar claro que não faz
O maior atentado à democracia desde a
ditadura militar não foi um raio em céu azul, mas a precipitação de uma
tempestade perfeita fabricada pela usina de despautérios radicada por quatro
anos no Palácio do Planalto, que, dia e noite, vomitava sua fumaça preta no
firmamento de Brasília.
A marcha da insensatez progrediu num
crescendo, desde que, no pleito de 2018, o deputado Eduardo Bolsonaro dizia em
tom de galhofa que, “para fechar o STF, basta um cabo e um soldado” até as
turbas invadindo as sedes dos Três Poderes, culminando com a depredação do STF.
Na verdade, essa página da história da
infâmia nacional foi rascunhada muito antes, nos idos dos anos 80, com o
capitão Jair Bolsonaro planejando plantar bombas em quartéis. A facilidade com
que os vândalos fatiaram as barreiras policiais no 8 de janeiro espelha a
complacência em meio à qual o deputado do baixo clero Bolsonaro excretou seu
destempero no Congresso por anos a fio. Mas seus vitupérios folclóricos – o
delírio de fuzilar FHC e mais “uns 30 mil”, a blague abjeta aludindo ao estupro
de uma colega ou a apologia a um torturador na tribuna da Câmara – são só as
secreções mais repugnantes de um espírito profundamente autoritário e
truculento que se imiscuiu sem resistência nas cavidades da República.
Bolsonaro só opera no confronto. A
animosidade é o ar que respira. Na sua falta, ele a incita, transformando
adversários em inimigos e conjurando conspirações fantasmagóricas. Mas o maior
inimigo de Bolsonaro não é o PT – de quem emulou as táticas populistas –, nem a
“velha política” fisiológica – a quem prestou a mais vil vassalagem –, nem
mesmo o STF – que tentou aparelhar com seus sabujos. Seu verdadeiro inimigo é a
Constituição.
“Ao longo de sua carreira política”, já dissemos
nesta página, “ele tem representado e verbalizado a voz dos perdedores de 1988,
aqueles que se opuseram e continuam a se opor ao Estado Democrático de Direito”
– às liberdades civis, às garantias individuais, aos direitos humanos, à
soberania popular. “Daí que a sua batalha atual seja contra as eleições e as
urnas. Tudo integra o mesmo pacote autoritário e antirrepublicano.”
A farsa terrorista do capitão Bolsonaro nos
anos 80 se repetiu como tragédia consumada pelas legiões bolsonaristas em 2023.
Agora que os pobres diabos da tropa de choque “patriótica” estão presos às
centenas e seu “mito”, rejeitado nas urnas, está acoelhado nos arrabaldes da
Disneylândia lambendo suas feridas, é tentador supor que a tempestade se
dissipou e que a história não se repetirá.
No entanto, menos de um mês após o 8 de
janeiro, aqueles que ajudaram a disseminar o espírito liberticida nos últimos
anos se congraçavam na inauguração da nova legislatura. Os mesmos que passaram
quatro anos fazendo do golpismo um ativo eleitoral estão lá no Congresso, como
se nada tivesse acontecido, como se a antidemocracia fizesse parte do jogo. Sob
o manto da imunidade parlamentar, a bancada golpista esfrega as mãos para mais
quatro anos de arruaça.
Com personagens tão caricatos quanto
estridentes, é difícil encontrar o equilíbrio entre não subestimá-los e não
superdimensioná-los, entre contemporizar o 8 de janeiro e insuflar o pânico.
Sim, eles estão em baixa, com menos poder do que nunca desde 2018. Mas quase
elegeram o presidente do Senado. Rogério Marinho nunca foi radical, é o típico
oportunista do establishment. Mas exatamente essa miscigenação entre a face
sistêmica da política e sua face extremista é um alerta ao risco de
naturalização do golpismo. Como advertiu a sobrevivente do extremismo islâmico
Ayaan Hirsi Ali, “tolerância com a intolerância é covardia”.
Os discursos inaugurais dos presidentes das
Casas Legislativas e do Judiciário prometendo punição exemplar a todos que
participaram, financiaram e estimularam os atentados são um sinal alentador de
que a sabedoria popular foi assimilada: “Um povo que não aprende com a sua
história está condenado a repetila”. É preciso sepultar o bolsonarismo, sem
esquecê-lo. Sua trajetória, grotesca como é, deve servir como uma espécie de
monumento às avessas a um outro dito da sabedoria popular: “O preço da liberdade
é a eterna vigilância”.
A democracia precisa do Supremo
O Estado de S. Paulo.
A abertura do ano judiciário, marco do
reinício dos trabalhos da Justiça, foi uma vigorosa resposta aos ‘inimigos da
liberdade’ que tentaram, pela força, subverter a democracia
A cerimônia de abertura do ano judiciário
de 2023 teve, em si mesma, mais importância que o marco formal da retomada dos
trabalhos do Poder Judiciário. No plenário do Supremo Tribunal Federal (STF),
rápida e impecavelmente reconstruído depois de ter sido posto abaixo há menos
de um mês pela força do ódio de uma súcia de bolsonaristas à democracia, viu-se
a união dos chefes dos Três Poderes da República em torno de uma enfática
defesa da paz social e do Estado Democrático de Direito.
Merecem especial destaque as palavras de
coragem e firmeza de propósito da presidente do STF, ministra Rosa Weber. “Que
os inimigos da liberdade saibam”, alertou a ministra, “que, no solo sagrado
deste tribunal, o regime democrático, permanentemente cultuado, permanece
inabalado.” Rosa Weber prometeu ainda que todos os responsáveis pela tentativa
de golpe de Estado em 8 de janeiro – a quem ela chamou, corretamente, de
“inimigos da liberdade” – serão punidos “com o rigor da lei”.
É o que este jornal espera, em consonância
com o sentimento da maioria da sociedade brasileira, os verdadeiros cidadãos de
bem. Não há outra forma de salvaguardar o regime democrático do que punir
exemplarmente, com estrito respeito às leis e observância ao devido processo
legal, todos aqueles que ousarem tentar subvertê-lo pela força – seja dos atos
ou das palavras.
Ao discursar, algo inusual para uma
abertura do ano judiciário, o que dá a dimensão do significado daquela
cerimônia, o presidente Lula da Silva destacou as “decisões corajosas” tomadas
pelo STF nos últimos quatro anos como anteparo institucional ao que classificou
como um “projeto autoritário de poder”. De fato, não poucas vezes o STF poupou
o País dos efeitos mais nefastos da agenda reacionária de Jair Bolsonaro. Tanto
que o custo dessa altivez foi o ódio dos bolsonaristas não só à Corte, cuja
sede foi a mais vandalizada em 8 de janeiro, mas aos seus ministros e
familiares.
Já o presidente do Congresso, senador
Rodrigo Pacheco, enfatizou que o dia 8 de janeiro “não será esquecido” e que
“qualquer gesto que vise à desarmonia entre os Poderes viola a Constituição”.
O vigor de nossa democracia depende
fundamentalmente da harmonia do delicado arranjo institucional estabelecido
pela Lei Maior. Cada Poder deve atuar rigorosamente dentro de suas fronteiras
constitucionais. O fato de tanto o presidente da República como o presidente do
Congresso cerrarem fileiras ao lado do STF na defesa da democracia e da
Constituição no momento em que elas foram mais desavergonhadamente atacadas na
história recente do País é razão para uma esperança cautelosa por dias melhores
adiante.
Palavras, evidentemente, são importantes,
mas não bastam por si sós. É preciso, como já defendemos não poucas vezes nesta
página, que a Corte Suprema se reencontre o mais rápido possível com sua
vocação colegiada, fonte primaz de sua força. Esse movimento tem sido feito,
haja vista as mudanças no Regimento Interno aprovadas pelos ministros no fim do
ano passado, no sentido de limitar o poder das decisões monocráticas.
A sociedade precisa ter em conta que o STF
não é, nem de longe, o “inimigo” do País que o bolsonarismo tenta,
falaciosamente, fazer parecer que é. Ao contrário: como guardião da
Constituição, o STF tem a prerrogativa de dirimir os conflitos que envolvem
nosso pacto social. Vale dizer, não há democracia nem paz social sem uma Corte
Suprema vívida e atuante. Desqualificá-la, ao fim e ao cabo, é desqualificar a
própria ideia de Justiça como alternativa civilizatória à barbárie.
Em um dos momentos mais contundentes de seu
discurso na abertura do ano judiciário, a ministra Rosa Weber afirmou que todo
esforço para destruir o STF será “inútil”. “Mesmo que desejassem destruir mil
vezes o Supremo”, disse a ministra, “mil e uma vezes reconstruiríamos seu
prédio, como fizemos agora, sem interromper um só instante o exercício da
jurisdição.”
Decerto muitos brasileiros sentiram a mesma
emoção que Rosa Weber no plenário do STF, refeito da sanha destruidora dos
golpistas. A restauração do prédio, contudo, é apenas uma etapa nesse processo
de resgate do prestígio da Corte Suprema perante a sociedade.
Armas no escuro
O Estado de S. Paulo.
Urge que o governo faça um rigoroso
monitoramento das armas após o descontrole da gestão Bolsonaro
O governo determinou que em 60 dias todas
as armas de fogo sejam registradas no Sistema Nacional de Armas da Polícia
Federal, sob pena de serem apreendidas. Trata-se de medida indispensável para
restabelecer a fiscalização após o descontrole promovido pelo governo Jair
Bolsonaro. Hoje, o poder público não sabe quantas armas há no Brasil nem onde
estão.
Como se sabe, Bolsonaro justifica sua
obsessão armamentista não só como uma questionável política de segurança
pública, mas como um inaceitável instrumento de luta política – “povo armado
jamais será escravizado”, disse ele seguidas vezes. Segundo o Datafolha, 7 em
10 brasileiros discordam de que mais armas trarão mais segurança e são contra a
facilitação do acesso. Ainda assim, e independentemente das opiniões de
especialistas sobre a eficácia do desarmamento, os cidadãos têm todo o direito
de advogar uma legislação que amplie o acesso a armas e de adquiri-las conforme
as leis vigentes.
O problema da flexibilização promovida por
Bolsonaro é que, primeiro, não foi acompanhada de políticas de segurança
pública muito mais relevantes; segundo, foi feita frequentemente com medidas
que ferem o ordenamento legal e usurpam competências do Congresso; e, terceiro,
não foi acompanhada de fiscalização.
O armamentismo não foi só uma política de
segurança prioritária para Bolsonaro, mas praticamente a única. Sem investir em
inteligência, integração das ações dos entes federados ou no sistema prisional,
Bolsonaro erigiu aquele que deveria ser o último recurso do cidadão contra
criminosos, o uso de arma em legítima defesa, como primeiro e único.
Muitos de seus mais de 40 normativos
infralegais eram ilícitos e como tais foram derrubados na Suprema Corte. Ainda
assim, entre 2018 e 2022, os registros de Caçadores, Atiradores e
Colecionadores (CACs) aumentaram 474%.
Mais temerário que a escalada de pessoas
armadas e seus arsenais é o total descontrole sobre as licenças e o paradeiro
das armas, a tal ponto que o Exército se confessou incapaz de mapear as armas
em poder dos CACs.
Quem se beneficiou foram os bandidos, em
especial das facções e milícias. Há casos comprovados de criminosos que, com
documentos fraudados, obtiveram facilmente o certificado de CAC, acessando
legalmente arsenais – que, no governo Bolsonaro, foram ampliados aos
contingentes injustificáveis de 60 armas, sendo 30 de uso restrito às forças de
segurança, e 180 mil balas por ano – a preços que chegam a ser 65% menores do
que no mercado ilegal.
O novo governo suspendeu uma série de
medidas que ampliavam o acesso às armas até a entrada em vigor de uma nova
regulação do Estatuto do Desarmamento. Seja qual for a decisão da sociedade,
por meio de seus representantes eleitos, a propósito do acesso às armas, o fato
é que, graças à infame gestão Bolsonaro, o poder público está às cegas em
relação às armas em circulação. É urgente estabelecer uma fiscalização rigorosa
e periódica. O dito “cidadão de bem” que opta pelo uso de armas certamente não
se opõe a ela e só quem ganha com a sua ausência são os criminosos.
Força do golpismo, Estadão
ResponderExcluir"Embora a bancada golpista no Congresso esteja isolada, sua mera existência mostra que a antidemocracia foi normalizada, como se fizesse parte do jogo.
O maior atentado à democracia desde a ditadura militar não foi um raio em céu azul, mas a precipitação de uma tempestade perfeita fabricada pela usina de despautérios radicada por quatro anos no Palácio do Planalto, que, dia e noite, vomitava sua fumaça preta no firmamento de Brasília."
Nossa, verdade. E isso vindo de um jornaleco q tratou a eleição entre HADDAD e o genocida como uma "escolha dificil"!
Sua mãos, estadinho, tão sujas, MUITO SUJAS!
O estadinho normalizou o bolsonarismo. E ainda normaliza.
Disneylândia !
ExcluirFolha de S. Paulo, neste texto:
ResponderExcluir"Fala confusa de Lula na economia expõe erros e falta de programa coerente"
Folha de S. Paulo, neste blog, hoje:
"Embate público com o Banco Central é reação política a risco prolongado na economia"
Vejam q o mesmo jornal tem textos antípodas.
O fato é q o BC não foi independente no governo genocida mas q, agora, quer ser.
Isso tá errado!