O Globo
Campeão de votos em 2022, Nikolas Ferreira
tenta seguir cartilha que alçou Bolsonaro do baixo clero ao Planalto
Aconteceu na quarta-feira, Dia
Internacional da Mulher. A Câmara debatia projetos para promover a igualdade de
gênero. Entre uma proposta e outra, o deputado Nikolas Ferreira subiu à
tribuna. Vestiu uma peruca loura e começou a despejar um discurso transfóbico.
“Hoje eu me sinto mulher, a deputada
Nikole”, provocou. Em tom debochado, ele disse que as mulheres estariam
perdendo espaço para “homens que se sentem mulheres”. Na sequência, insuflou
preconceito contra transexuais que reivindicam direitos básicos, como praticar
esportes e usar o banheiro feminino.
A performance causou alvoroço imediato. Em poucos minutos, a imagem do deputado de peruca viralizou nas redes. Nikolas virou alvo de protestos, mas conseguiu se transformar em notícia.
Aos 26 anos, o jovem bolsonarista já é um
expert no assunto. Filiado ao PL mineiro, acumula mais de 6 milhões de
seguidores no Instagram. Impulsionado pela pregação do ódio, tornou-se o
deputado federal mais votado do país em 2022.
Nikolas não inventou o método. Segue a
mesma cartilha que ajudou a alçar Jair Bolsonaro do baixo clero para o
Planalto. A diferença é que agora a classe política parece um pouco mais
vacinada para lidar com esses tipos.
O presidente da Câmara, Arthur Lira, avisou
que a Casa não é “palco para exibicionismo” e “discursos preconceituosos”. O
pito sugere que Nikolas pode enfrentar problemas no Conselho de Ética.
“Já fomos muito tolerantes com a
intolerância no Parlamento”, diz a deputada Maria do Rosário, que presidia a
sessão no momento da performance. “A Câmara não pode fingir que não vê esse
tipo de atitude indecorosa”, afirma.
O deputado Eduardo Bolsonaro saiu em defesa
de Nikolas, que classificou as críticas como “histeria”. O Supremo Tribunal
Federal já equiparou a homofobia e a transfobia ao crime de racismo. A
imunidade parlamentar não pode ser usada como escudo para quem despreza a lei e
ofende as minorias.
Millôr Fernandes dizia, com razão, que não
se deve ampliar a voz dos imbecis. Mas a leniência com o discurso de ódio já
fez muito mal à democracia brasileira.
Nicole!
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