quarta-feira, 22 de março de 2023

Bernardo Mello Franco - O negócio da Funasa

O Globo

Centrão se insurge contra medida provisória de Lula; para ex-ministro da Saúde, fundação virou "república independente"

O desabafo está registrado na ata da 191ª reunião ordinária do Conselho Nacional de Saúde. Depois de retirar da Funasa o atendimento aos povos indígenas, o ministro José Gomes Temporão era torpedeado por deputados de seu próprio partido, o PMDB (atual MDB).

Sob pressão, ele avisou que não iria “se dobrar a outros interesses”. “Querem manter uma situação de baixa qualidade, corrupta e totalmente contra os princípios do SUS. Isso nós não vamos aceitar”, afirmou, em 12 de novembro de 2008. A fala abriu uma crise no segundo governo Lula, e o ministro quase perdeu o cargo.

Quinze anos depois, a Funasa está no centro de outra guerra entre Executivo e Legislativo. Lula editou uma medida provisória para extinguir a fundação, mas parlamentares se insurgem e ameaçam retaliar o presidente. Longe de Brasília, Temporão vê um filme antigo se repetir.

“A existência da Funasa perdeu o sentido. Virou uma república independente, sempre negociada com o Centrão e dominada por interesses paroquiais”, critica o ex-ministro. Na transição de 2022, ele ajudou a redigir um relatório que recomendou a extinção do órgão. “Se uma instituição já não atende ao interesse público, qual o sentido de mantê-la?”, questiona.

O noticiário recente dá algumas pistas. Depois de ser palco de escândalos nas gestões Lula, Dilma e Temer, a Funasa se manteve nas páginas policiais durante o governo Bolsonaro. Entregue a políticos do Centrão, a fundação virou sumidouro de verbas do orçamento secreto.

Em 2021, a Polícia Federal fez uma operação para apurar fraudes em contratos de tecnologia. Em 2022, investigou desvios na compra de água mineral. No mesmo ano, a CGU detectou sobrepreço na perfuração de poços no Semiárido nordestino.

Apesar da vigilância dos órgãos de controle, parlamentares continuam a ver a fundação como uma oportunidade de negócios. Por isso, querem evitar a todo custo que ela seja fechada. “No meu tempo de ministro, tive carta branca para mexer em tudo, menos na Funasa. Acho que isso diz muita coisa”, comenta Temporão.

 

3 comentários:

  1. A tentativa de morte de Moro- e semelhanças com a morte de Celso Daniel e Paulinho. Coincidência muito coincidência não existe, já disse um Arqueólogo diante de descobertas das escavações em Israel.

    ResponderExcluir
  2. Fundação Nacional de Saúde.
    Tá.

    ResponderExcluir