Valor Econômico
No Senado americano, ‘Belt and Road’
preocupa, e muito
A viagem do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva à China tem um significado na política interna brasileira que não passa
despercebido nem por um especialista em política externa, como o cientista
político Oliver Stuenkel, professor-adjunto da FGV de São Paulo.
Cerca de um terço da caudalosa comitiva que acompanha o presidente à Ásia é do agronegócio, e do agronegócio ligado à indústria da carne. São mais de cem representantes do setor. Não à toa, o primeiro anúncio oficial relacionado à visita foi a decisão chinesa de suspender o embargo às importações de carne do Brasil, suspensas desde fevereiro em função de um caso de vaca louca no Pará. A divulgação da liberação foi feita nessa quinta-feira, em Pequim, pelo ministro da Agricultura Carlos Fávaro.
O agronegócio no Brasil tem uma vocação
natural para o bolsonarismo, mas a condução da política externa de Bolsonaro
calcada na ideologia criou uma brecha, por onde Lula ganha a ocasião de se
mostrar mais “business friendly” que seu antecessor em ao menos um aspecto,
observou Stuenkel. A centena de empresários e executivos do setor em companhia
de Lula é o gesto mais efetivo desde o início do governo para cindir o
monolítico alinhamento do agronegócio com a direita.
É uma aproximação que ainda tem muitas
zonas de sombra, representadas pela tolerância do governo com invasões de
propriedades produtivas pelo MST e que podem crescer, a partir do momento que o
Supremo Tribunal Federal rever seu entendimento sobre o marco temporal da terra
indígena, abrindo caminho para Lula fazer as novas demarcações que prometeu.
A contrapartida brasileira ao gesto da
China deve ser a provável assinatura do memorando da iniciativa “Belt and
Road”, um acordo de caráter global para investimentos chineses em
infraestrutura, que o governo do Brasil relutava há tempos em firmar e que
surpreende especialistas em China como o historiador Marcos Cordeiro Pires,
professor da Unesp de Marília. Ele enxerga nesta assinatura, que deve ser
confirmada durante a visita, “uma encrenca indesejável com os Estados Unidos”.
A questão é geopolítica. Nessa
quinta-feira, 23, em sessão de uma comissão especializada do Senado americano,
a general Laura Richardson, comandante do Comando Sul, demonstrou imensa
preocupação com a iniciativa chinesa. Em sua visão, a “Belt and Road”
construirá uma relação de dependência da América do Sul em relação a China, o que
é “definitivamente preocupante”. Ela destacou que 21 países da região já
assinaram o documento. “A China expande a sua capacidade de manipular governos
com práticas de investimento predatório”, afirmou Richardson.
De acordo com a militar, a pandemia de covid-19
enfraqueceu os governos locais, incapazes de entregar às suas nações uma saída
econômica. É nessa circunstância que chega a China com bilhões de dólares para
a construção de rodovias, represas e portos. “Eles [governantes
latino-americanos] precisam mostrar que estão fazendo entregas para suas
populações e os projetos de infraestrutura são provavelmente a melhor maneira
de mostrar progresso”, disse a militar.
O resultado dessa dinâmica foi sinalizado
pela general, que lembrou que os Estados Unidos têm um monte de investimentos
na região para mostrar e, em suas palavras, “fincar a bandeira americana”. O
depoimento da general está disponível no site do Comando Sul dos Estados
Unidos.
É uma dinâmica que pode ser favorável para
o Brasil. “Quanto maior a relação com a China, mais espaço de manobra se tem
com os Estados Unidos”, afirmou Stuenkel.
Essa possibilidade de relação pendular
ficou absolutamente comprometida durante o governo Bolsonaro. O ex-presidente
envenenou a relação com a China por motivos ideológicos e de vassalagem ao
projeto político de Donald Trump. Não foi preciso aos Estados Unidos conceder
muito.
O que os Estados Unidos poderiam oferecer
ao Brasil para compensar a ofensiva chinesa? Há um ponto frágil na relação
econômica entre Brasil e China. Se a China pode abrir o mercado agrícola ao
Brasil de uma maneira que os Estados Unidos jamais serão capazes, não se pode
contar com a China para uma política ampla de reindustrialização do Brasil. Em
termos de valor agregado, a relação com a China é menos atraente.
Na viagem de Lula à China, o ponto mais
arriscado, nas palavras de Stuenkel é superestimar o país anfitrião, conferindo
uma importância global que ele ainda não tem.
É altamente improvável que a China possa
ser mediadora da guerra da Ucrânia. Esse horizonte ficou ainda mais distante
depois da reunião bilateral entre Xi Jinping e Vladimir Putin, em que os dois
líderes usaram retórica antiocidental. No comunicado conjunto, divulgado
quarta-feira na página em mandarim do site da chancelaria da China, Xi e Putin
protestam contra a “narrativa hipócrita da chamada ‘democracia’ contra o
autoritarismo”.
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É longa a sucessão de frases desastrosas do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva desde sua vitória eleitoral no ano
passado, mas talvez nada supere a dessa quinta-feira no Rio de Janeiro.
Considerar a operação da Polícia Federal uma “armação de Sergio Moro”, além de
ser uma “fake news” evidente, no pior estilo de Bolsonaro, recolocou os
holofotes em sua nêmesis política. Lula deixou Moro no lugar em que o ex-juiz
sempre quis estar: polarizando com o petista e com todos os microfones à sua
disposição.
O presidente expõe-se a riscos
desnecessários. Se ocorrer algo ruim com o senador ou sua família, como um
gesto tresloucado de militância, ou ação de um marginal, ou outra coisa
qualquer, a fatura pode terminar sob sua mesa.
Quanto ao novo bombardeio em cima de Campos Neto, o cálculo político falou mais alto. Em um cenário econômico ruim (ou “desafiador”, para usar um dos chavões do momento), é conveniente para o presidente ter como transferir responsabilidades. Em relação ao BC, é jogo jogado.
O pessoal do Agro, 99% contrários ao candidato Lula e favoráveis ao candidato GENOCIDA, correu pra encher metade da comitiva do presidente que eles não queriam... Lula prometeu governar pra todos e está cumprindo, nem os fascistoides do Agro podem reclamar dele.
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