O Globo
Chegando à marca dos cem dias de governo,
presidente tem um pé no passado e outro no futuro
Com 187 mil carros nos pátios e grandes
montadoras dando férias coletivas a milhares de trabalhadores, Lula deu uma
entrevista de quase duas horas aos jornalistas Helena Chagas, Tereza Cruvinel,
Luís Costa Pinto e Leonardo Attuch. Repetiu várias vezes que “este país vai
voltar a crescer”. Quando surgiu o assunto da virtual paralisação da indústria
automobilística, disse que “fiquei surpreso”, reclamou das empresas que
importam veículos e, tratando do mundo real, prometeu: “Eu quero chamar a
indústria automobilística para conversar, O que é que está acontecendo com
vocês?”
Ex-metalúrgico e sindicalista, Lula sabe o
que está acontecendo: falta demanda. Foram poucos os minutos dedicados a esse
assunto específico. Mais tempo foi dedicado às suas experiências com a
Lava-Jato e a uma batalha inglória com o Banco Central por causa da taxa de
juros.
Por mais de uma hora Lula prometeu um
Brasil que volte a sorrir. Como? Acreditando em Lula, como ele acredita.
Chegando à marca dos cem dias de governo, ele tem um pé no passado e outro no
futuro. Quanto ao presente, surpreendeu-se com as férias coletivas. Enquanto
isso, seu chefe da Casa Civil dava um chá de cadeira de 45 minutos ao ministro
da Fazenda.
Por cá, a falta de demanda e o início de
uma crise no crédito ameaça a saúde de grandes varejistas. Quando o problema
aparecer, Lula não deverá dizer que foi surpreendido.
Coisa dos americanos
Na mesma entrevista, Lula voltou a culpar o
governo americano pela operação Lava-Jato. Seria coisa para destruir as
empreiteiras nacionais.
Ele retomou um bordão de 2021, quando
acabava de deixar a prisão. À época, elaborou a ideia:
“É por isso que teve o golpe contra a
Dilma, porque é preciso não ter petróleo aqui no Brasil na mão dos brasileiros.
É preciso que esteja na mão dos americanos porque eles têm que ter o estoque
para a guerra.
Depois da 2ª Guerra Mundial, eles
aprenderam que só ganha guerra quem tem muito estoque de combustível, porque
eles sabem que a Alemanha perdeu a guerra porque não chegou em Baku, na Rússia,
para ter acesso à gasolina.”
Ganha um fim de semana num garimpo ilegal
quem formular dois parágrafos com tantos enganos. A Alemanha não chegou aos
campos de Baku porque foi detida em Stalingrado no início de 1943. A essa
altura o Reich já havia sido barrado às portas de Moscou e os Estados Unidos já
tinham quebrado a perna do Japão na batalha naval do Midway, em junho de 1942.
Se os alemães chegassem a Baku, ainda assim teriam perdido a guerra.
Lula na China
Se Deus é brasileiro, quando Lula for à
China, livrará a viagem da urucubaca que acompanha as relações com o Império do
Meio.
Em 2004, antes da chegada de Lula à China,
saiu do governo a notícia de que o Brasil assinaria um acordo de cooperação
nuclear. Os chineses assustaram-se.
Meses depois o presidente Hu Jintao foi a
Brasília e o intérprete contratado pelo Itamaraty traduziu-o, dizendo que ele
prometia US$ 100 bilhões em investimentos na América Latina. Ele havia falado
em fluxo comercial.
Em 2011 Dilma Rousseff foi a Beijing e sua
comitiva anunciou que uma empresa chinesa viria para o Brasil com um
investimento de US$ 2 bilhões para fabricar produtos da Apple. Era lorota.
Em 2015 o primeiro-ministro Li Keqiang foi
a Brasília e o governo espalhou que ele entregaria um pacote de US$ 53 bilhões
em investimentos. Nele, entraria o projeto de uma ferrovia do Atlântico ao
Pacífico. Lorota, de novo.
Eremildo é um idiota
Eremildo acreditava em tudo o que Bolsonaro
dizia e agora acredita em Lula.
O cretino confundiu-se quando Lula falou
sobre a operação da Polícia Federal que desarmou um plano de sequestro do
senador Sergio Moro e de seus familiares. Ele disse o seguinte:
“Quero ser cauteloso. Vou descobrir o que
aconteceu. É visível que é uma armação do Moro.”
Se uma pessoa acha que uma coisa é visível,
não precisa ser cautelosa, porque, nesse caso, já descobriu o que aconteceu.
Rui Costa e José Dirceu
Depois de ter dado um chá de cadeira ao seu
colega Fernando Haddad, Rui Costa deveria marcar um almoço com José Dirceu, o
poderoso chefe da Casa Civil de Lula. Ele poderia lhe contar como os poderes do
cargo são imensos e fugazes.
Em outubro de 2003, Dirceu chamou o
deputado Gabeira para uma reunião e não apareceu.
Gabeira esperou por uma hora, disse que
“deselegância tem limite”, saiu do PT e retomou com êxito sua carreira de
jornalista.
A volta de Bolsonaro
Bolsonaro disse que voltará ao Brasil nesta
semana. Descobrirá que ficou menor.
Para que ele tenha mais espaço será preciso
que Lula o mantenha na sua agenda.
Americanas caloteira
Na crise da rede varejista Americanas há um
grande litígio com os bancos, mas há também outra questão menos vistosa. É o
processo de saque a que a empresa foi submetida pelos seus gestores. Nele, a
joia da coroa foi a venda de R$ 244 milhões em ações da empresa por seus
diretores no momento em que a rede começava a emborcar. Já foram abertos três
inquéritos policiais relacionados com a crise.
Na ponta do calote, em sua proposta aos
fornecedores, a empresa aceita pagar o que deve, com alguns compromissos. Um
deles é a manutenção do fornecimento, nas “condições acordadas”.
Antes da quebra, a rede contratava compras
com pagamento em cem dias e às vezes levava mais de 200 dias para quitar o
negócio. O pior dos mundos para um fornecedor é tomar um calote, continuar
operando com a empresa e ser submetido de novo ao antigo sistema de gestão.
A filha de Vermeer
Com a exposição de 28 quadros do pintor
Johannes Vermeer no Rijksmuseum de Amsterdam, a vida pouco conhecida desse
artista fez renascer uma velha discussão.
O jornalista americano Lawrence Weschler
recuperou a teoria segundo a qual sua filha Maria, além de ser a menina
retratada no quadro do brinco de pérola, seria também a autora de sete dos 35
quadros atribuídos ao pai.
Entre eles, a “Jovem com chapéu vermelho”,
da National Gallery de Washington.
Maria teria trabalhado com o pai enquanto
ele vivia. Depois, casou-se e não pintou mais.
Wechsler é um jornalista competente e deve-se a ele a primeira grande reportagem sobre o projeto “Brasil Nunca Mais”, o inventário das violências da ditadura.
Esse momento dos primeiros 100 dias exige um esforço de Frente Democrática para que a meta da vacina bivalente seja atingida.
ResponderExcluirEremildo e os patriotários acreditavam em tudo que o Bolsonaro dizia, inclusive nas milhares de mentiras que o GENOCIDA inventou. Eles e o papagaio que frequenta este blog também acreditavam que Bolsonaro venceria no primeiro turno com mais de 60% dos votos e que isto só não ocorreu porque houve FRAUDE ELEITORAL...
ResponderExcluirBolsonaro está chegando...
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