O Estado de S. Paulo
O BC tem o desafio de não frustrar mais uma vez as expectativas do governo sobre a Selic
Pressionado nas últimas semanas pela equipe
econômica a fazer um “gesto positivo” na próxima reunião do Copom, o Banco
Central tem a tarefa espinhosa de não frustrar mais uma vez o governo Lula e,
ao mesmo tempo, evitar uma desancoragem das expectativas de inflação. A dúvida
agora é como o Copom vai empacotar o “gesto positivo” para dar de presente ao
governo.
O mercado interpreta que o gesto positivo para a equipe econômica seria um corte da taxa Selic ou, pelo menos, uma sinalização de que uma redução dos juros é iminente. Isso aconteceria na esteira da apresentação da proposta para o novo arcabouço fiscal que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, prometeu anunciar antes da reunião do Copom da semana que vem.
Sem falar que a guinada no ambiente externo
dos últimos dias tornou a defesa de um corte de juros pelo Copom ainda mais
urgente, na visão de muitos investidores. Isso porque o temor, após a quebra de
dois bancos americanos, é de que uma possível crise no mercado de crédito jogue
os Estados Unidos numa recessão, afetando o restante da economia mundial.
Se for apenas com base na apresentação da
proposta do novo arcabouço fiscal, fica difícil imaginar o Copom cortando os
juros ou mesmo sinalizando esse corte já na semana que vem. Mesmo que a nova
âncora fiscal seja considerada robusta e surpreenda positivamente, seria
preciso que essa proposta tivesse um impacto sobre as projeções do mercado para
déficit primário e trajetória da dívida pública nos próximos anos.
Não haverá tempo suficiente entre a
apresentação do novo arcabouço fiscal e a reunião do Copom, na semana que vem,
para se observar uma mudança nas expectativas do mercado sobre indicadores
fiscais, tampouco sobre as projeções de inflação.
Além disso, quando Haddad anunciou um
pacote de medidas fiscais, em janeiro, para reduzir o rombo das contas do
governo em 2023, o BC reconheceu o esforço, mas ressaltou na ata da última
reunião do Copom que a sua governança permitia incorporar no balanço de risco
da inflação apenas “políticas já aprovadas em lei”.
Assim, é preciso esperar para ver o texto
que será aprovado no Congresso. Mas é possível o Copom suavizar o tom do seu
comunicado sobre os próximos passos da política monetária com base na proposta
do arcabouço fiscal, incluindo a cautela com o ambiente externo mais
turbulento. E, após a reunião do Copom, dependendo da evolução do cenário
fiscal e externo, o BC poderia até guiar as expectativas para um corte da Selic
em maio em declarações e discursos dos seus diretores.
Análise ponderada e muito correta.
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