O Globo
Já entrou para a história do terceiro
mandato de Lula a
carraspana que ele passou nos ministros para que parassem de anunciar
“genialidades” em nome do governo sem combinar com ninguém. “É importante que
nenhum ministro ou ministra anuncie publicamente qualquer política pública sem
ter sido acordado com a Casa
Civil, que é quem consegue fazer com que a proposta seja do governo.”
O que irritou Lula naquele dia foi
a proposta do ministro Márcio França, dos Portos e Aeroportos, de vender
passagens aéreas a R$ 200 para aposentados e servidores públicos — que, além de
não ter sido combinada, também seria de difícil execução.
Depois foi o ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, que resolveu baixar na marra os juros do empréstimo consignado para aposentados a um patamar inviável para os bancos, que simplesmente suspenderam o crédito.
Desde então, o próprio Lula produziu algumas genialidades. Em entrevista ao portal 247, na terça-feira, ele disse que a privatização da Eletrobras foi um crime de lesa-pátria. “Você privatizou uma empresa daquele porte e utilizou o dinheiro para quê?”, falou. “Eles venderam por R$ 36 bilhões, o dinheiro foi usado para pagar a dívida pública, e não há sinal que o preço da energia vai baixar para o povo.”
Lula anunciou também uma medida que ainda
estava em discussão no governo: entrar
na Justiça para reverter a cláusula do estatuto da companhia que
limita o poder de voto de qualquer acionista da empresa a 10%. O objetivo é
retomar o poder de votar nas assembleias com os 42,5% de participação que o
governo tem.
Só que, assim como no caso do consignado e
das passagens, uma coisa é o que se quer, outra bem diferente é o que se pode
fazer. A regra que Lula quer derrubar está na lei da privatização aprovada no
Congresso e chancelada pelo Tribunal de Contas da União no ano passado, depois
de negociações longas e complexas.
Nela, senadores e deputados impuseram à
Eletrobras a obrigação de investir R$ 8,75 bilhões na revitalização do Lago de
Furnas (arena eleitoral de Rodrigo
Pacheco), do Rio São Francisco (no Nordeste de Arthur Lira e Renan
Calheiros) e no barateamento da energia na Amazônia Legal, reduto de Eduardo Braga.
Se Lula insistir em recorrer ao Supremo
para conseguir o que Congresso não lhe dará, gerará ainda mais tumulto e
prejuízo para o próprio governo. Aliás, já está gerando. Desde 4 de novembro,
quando atingiram seu maior valor, as ações da Eletrobras caíram quase 30%.
A fatia do governo na empresa, que chegou a
valer R$ 50 bilhões, agora é de R$ 30 bilhões. Sem contar os 370 mil
trabalhadores que empenharam seu FGTS na companhia e estão vendo seu capital
derreter.
Noutro momento da entrevista ao 247, Lula
disse que, durante o tempo em que ficou preso em Curitiba, respondia aos
procuradores que o visitavam: “Não está tudo bem. Só vai estar bem quando eu
foder esse Moro”. E contou que ainda dizia: “Eu estou aqui [na prisão] para me
vingar dessa gente”.
Todo mundo que assistiu entendeu que o
presidente se referia a um fato de anos atrás, não ao presente. Mesmo assim, a
declaração foi um tiro no pé. Pelo palavrão, por contrariar o tom de “o amor
venceu” da campanha e por levantar a bola para o ex-juiz Sergio Moro (União-PR),
que andava esquecido até mesmo pela direita.
No dia seguinte, a Polícia
Federal desbaratou um plano para matar o próprio Moro e o promotor
paulista Lincoln Gakiya. A ação da PF, que poderia ter ganhado destaque por
atuar de forma republicana, impedindo o ataque a um inimigo político de Lula,
acabou dando munição a uma onda suja de fake news de que ele pudesse ter algum
tipo de conluio com o crime organizado.
Para completar, no final da tarde de ontem,
o Banco Central anunciou que manterá a taxa de juros em 13,75%. O recado
implícito na decisão é que a ofensiva do presidente contra o BC e a indefinição
sobre qual será o novo arcabouço fiscal causam instabilidade na economia e
inviabilizam uma queda neste momento.
Aí, também, a genialidade se voltou contra
o presidente. Por mais que Lula não goste, hoje o BC é autônomo, não há nenhuma
predisposição do Congresso para mudar isso e, sem um modelo de contenção do
gasto público, fica bem mais difícil derrubar os juros, ainda mais num cenário
externo de crise bancária.
Embora ninguém vá dizer em público, nos bastidores o que não falta é auxiliar e aliado de Lula exasperado. A questão, porém, permanece insolúvel. Quando Lula passou um pito em seus ministros, eles tiveram de se emendar. Já as genialidades de Lula, não há quem segure, e quem mais perde com isso é o próprio governo.
Genialidades nada geniais.
ResponderExcluirGenialidades de Geni
ResponderExcluirJoga barro na Geni,rs.
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