O Globo
A equipe do Ministério da Fazenda tem
conseguido afastar as objeções feitas internamente ao arcabouço e a informação
que eu tenho é que não há mais discussão de mérito, mas sim debate sobre contas
e projeções. A superação de um grande impasse foi possível graças à
interpretação do próprio presidente Lula. A proposta de que investimentos
ficassem de fora dos limites, que era o ponto mais importante para a ala
política, se chocou com a visão de Lula de que educação, saúde, programas
sociais também são investimento. Logo, se houver um limite para essas despesas,
obras não poderiam ficar de fora. Até agora, permanece o princípio de que
nenhuma despesa ficará fora do limite.
É possível que esta semana ainda, nos próximos dias mesmo, o arcabouço seja divulgado. O processo ficou mais ligeiro dado que o presidente não viajou. Ontem, eles discutiam internamente algumas projeções, mas não mais o mérito da nova regra fiscal. Por enquanto, o que impede a divulgação são essas contas que ainda estão sendo feitas sobre os impactos da aplicação do arcabouço.
A ideia é apresentar o mais rapidamente
possível aos líderes políticos e, depois disso, será divulgado à imprensa. Até
agora, além dos ministros da área econômica e da presidência da República, o
projeto foi exibido aos presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado,
Rodrigo Pacheco, e aos líderes do PT, Jaques Wagner e José Guimarães. O temor
no governo é que haja vazamento e que os líderes dos partidos que compõem a
base se posicionem contra. Por isso, a apresentação aos líderes políticos está
sendo considerada essencial.
Há algumas premissas sobre as quais existem
dúvidas como, por exemplo, com que critérios será projetado o crescimento das
receitas. O país está crescendo pouco nesse momento, mas há expectativas de aumento
do ritmo a partir da reforma tributária. Nessa projeção de crescimento da
receita, a equipe econômica não tem contado com aumento de carga tributária. O
que tem sido avaliado para ampliação da receita é o fechamento de espaços de
evasão fiscal e também possibilidades de receitas extraordinárias.
No caso de educação e saúde, haverá
automaticamente uma correção de despesas que foram represadas pelo teto de
gastos. Ao tirar da Constituição a regra fiscal, não se tratou do tema de como
ficam as despesas que, antes do teto, tinham vinculações constitucionais.
Basicamente educação e saúde. O ministro Fernando Haddad tem dito que a regra
fiscal terá parâmetros para compensar perdas de educação e saúde. Com o teto de
gastos, essas despesas foram limitadas e terão que ser recompostas para voltar
às vinculações constitucionais, através de um processo de transição.
O argumento usado pela equipe econômica, na
conversa interna do governo, é de que não se pode repetir o erro de uma regra
em que umas despesas crescem comprimindo as demais. O governo quer é que o
conjunto das despesas cresçam um pouco abaixo das receitas, para sair do
déficit atual para o equilíbrio. Se algumas despesas crescerem igual à receita,
outras terão que crescer menos. Volta-se ao erro que levou à compressão de
alguns gastos.
O cronograma ganhou um impulso agora, mas o
tempo tem ficado bem apertado. Ontem, a ministra Simone Tebet disse que ela
precisa de apenas cinco dias para adaptar a Lei de Diretrizes Orçamentárias ao
novo arcabouço. Mas esse “apenas” significa que, até o dia 10, tudo tem que
estar definido, porque o dia de entrega da LDO ao Congresso é 15 de abril. Há
ainda a grande preocupação da equipe econômica de apresentar aos líderes e
assim ter o apoio do Congresso.
Nesse momento, o país está com um orçamento
que prevê o déficit de R$ 230 bilhões. O governo promete levar até o fim do ano
para um déficit de pouco mais de R$ 100 bilhões e, no ano que vem, zerar o
déficit. Não é fácil fazer isso. Significa uma redução de 2,3 pontos
percentuais do PIB em dois anos, apesar de algumas despesas terem sido
recompostas. O governo Bolsonaro conseguiu furar o teto de gastos, fazer uma
gastança por razões eleitoreiras e arrochar demais algumas despesas. Além
disso, deixou armadilhas como a de elevar o antigo Auxílio Brasil para R$ 600,
sem previsão no Orçamento. A equipe econômica está tendo que recompor despesas,
desarmar armadilhas, fazer um ajuste e apresentar uma nova regra fiscal.
Porcão, não interessa os seus papinhos internos. Nada foi apresentado ainda à sociedade. O calabouço fiscal non ecziste.
ResponderExcluirO País está quebrado.
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