O Globo
Antes do escândalo das joias, o
ex-presidente e a família já tinham tentado intervir diversas vezes no Fisco,
com a exoneração de funcionários e acessos indevidos a dados fiscais
O presidente Bolsonaro e sua família
tentaram durante todo o mandato usar a Receita Federal. Primeiro para tirar o
senador Flávio Bolsonaro de encrencas, depois para esse contrabando das joias
sauditas. E por que contrabando? Um assessor coloca R$ 16 milhões numa mochila
e diz que não tem nada a declarar, qual é o nome disso? Se é espantosa a cara
de pau e o uso do aparelho do estado para lucros privados pela família
Bolsonaro, é incrível também a resiliência do serviço público. Na cúpula,
Bolsonaro às vezes teve sucesso, mas a máquina resistiu e disse “não” ao então
presidente da República.
A notícia dada inicialmente pelo jornal “Estado de S. Paulo", em reportagem assinada por Adriana Fernandes e André Borges, se desdobra em cada vez mais revelações. Na edição de ontem, a matéria conta em detalhes a ida de um avião da FAB com o primeiro sargento da Marinha Jairo Moreira da Silva para tentar pegar as joias, e o não rotundo que recebeu do servidor da Receita Marco Antônio Lopes Santanna.
O sargento tenta dar uma carteirada, usando
a tela do computador com a ordem recebida pelo “sr. Julio Cesar”, que vinha ser
secretário da Receita. O auditor da Receita não se abalou. O sargento escalou
na hierarquia militar, chamou um “coronel” e pediu ao funcionário que
conversasse com o coronel. Ele, de novo, disse não.
O caso das joias sauditas mostra o quanto
Bolsonaro usava as Forças Armadas como se fosse seus ajudantes de ordem. A FAB
vai buscar os bens retidos, manda um sargento, que telefona para o coronel.
Todos da ativa. Eram as Forças Armadas trabalhando para os interesses
particulares do presidente. Há muito a esclarecer nesse absurdo episódio. Por
exemplo, como um dos pacotes de presente ao ex-presidente
entrou no país e não foi interceptado pela Receita, como informou a “Folha de
S. Paulo".
A Arábia Saudita é governada por uma
família tirânica, corrupta e sanguinária. O próprio príncipe Mohammad bin
Salman, maior autoridade de fato do país, foi o mandante do assassinato e
esquartejamento do jornalista Jamal Khashoggi. Esse governo opressor de
mulheres manda pelo almirante Bento Albuquerque um presente milionário para
Michelle Bolsonaro.
Nada faz sentido na versão bolsonarista
dessa história. Como disse o ministro da Fazenda, Fernando Haddad:
“Ninguém ganha um presente de R$ 16 milhões”. Mas o episódio em si
esclarece muita coisa. Bolsonaro governou todo o tempo sem conhecer limites
entre o público e o privado, entre os interesses do estado, e os da sua
família. Nesse caso, com impressionante desfaçatez, o governante desrespeitou o
procedimento padrão de recebimento de presentes diplomáticos dados de um
governo para outro. Bolsonaro nunca quis entregar ao acervo, todos se
comportaram como se fosse mesmo um presente particular de Michelle. Aliás, foi
o que disse o almirante Bento Albuquerque.
Houve outras tentativas de interferência na
Receita Federal durante o governo Bolsonaro. Em agosto de 2019, o subsecretário
geral da Receita, João Paulo Fachada, foi exonerado depois de pressões para
trocar o chefe da unidade da Receita no Porto de Itaguaí. Como essa é uma
região, no Rio, dominada pela milícia, sempre foi difícil controlar o
contrabando. Em 2016, haviam sido nomeados servidores de São Paulo que se
mudaram para o Rio para criar o que se chamou na Receita, na época, de
“armadura”. Pois foi essa armadura que foi atacada. Fachada acabou sendo
exonerado por Marcos Cintra.
Em dezembro de 2021, o então secretário da Receita
Federal, José Tostes Neto, foi demitido com uma ordem seca do então ministro
Paulo Guedes: “o presidente quer o seu cargo”. Isso depois de o
Palácio ter vetado o escolhido para a corregedoria da Receita. Tostes já
estivera no noticiário em 2020 por ter se reunido com as advogadas do senador
Flávio Bolsonaro, investigado pelo caso das rachadinhas.
O acesso indevido, pelo próprio chefe de
inteligência da Receita, aos dados fiscais do então procurador geral de Justiça
do Rio, Eduardo Gussem, que investigava as rachadinhas é outra evidência da
tentativa de Bolsonaro de usar o Fisco. Foram espionados também Paulo Marinho e
Gustavo Bebbiano, ex-bolsonaristas ferrenhos, que ajudaram a vitória do
ex-presidente em 2018, mas depois se tornaram desafetos.
Bolsonaro conseguiu cooptar alguns na
cúpula da Receita para o projeto de uso do Estado para interesses privados, mas
encontrou uma muralha entre os servidores que impediram esse escandaloso caso
de corrupção.
" Eram as Forças Armadas trabalhando para os interesses particulares do presidente."
ResponderExcluirVergonhoso. Esse milicos pra nada servem - nem pra liberar contrabando. Ah, o aspone mencionado era/é almirante.
Que baixíssimo nível! Que lástima! Que imprestáveis!
A familícia Bolsonaro se envolve em qualquer tipo de crime! Das rachadinhas quase "inocentes" ao GENOCÍDIO, passando por dezenas de outras irregularidades, contravenções, crimes, etc. Nem a Micheque escapa, com aquela carinha de anjo está sempre mentindo ou mandando gastar dinheiro público ilegalmente.
ResponderExcluirDe fato a aberração conseguiu sujar a reputação de todas nossas FFAAs e ainda demonstrar a falta de qualificação para se chegar ao topo das carreiras.””” “Um manda o outro obedece, simples assim”. Olha o que aconteceu!!!
ResponderExcluirO cinismo da Michê no caso das jóias que ela "nem sabia que tinha" é realmente, oops, delicioso!
ResponderExcluirSem ética nem moral, acostumada a reformar a lataria (beiços, peitões siliconados, xereca e bundão rebaixados) com os dinheiros públicos, porque não aproveitar e trocar as bijouterias por Chopard autênticas, legítimas, dadas, de graça e sem impostos, não é?
Brasileiros não se tocam que o nível atual do país é baixíssimo. Só esses
ResponderExcluiranônimos não veem.
Míriam Leitão.
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