terça-feira, 7 de março de 2023

Ranier Bragon – Lava Jato e udenismo

Folha de S. Paulo

Democracia deve manter tentativa de entender o que aconteceu e o que precisa ser feito para que não aconteça

A libertação de Sergio Cabral e a suspensão do juiz Marcelo Bretas simbolizaram o fim de um ciclo de quase nove anos em que o mundo político foi posto de ponta-cabeça e em que ascendeu ao poder algo da qualidade de Jair Bolsonaro e do bolsonarismo.

Como foi possível o mais alto cargo da República ter sido ocupado por um grupo reconhecidamente limítrofe, preconceituoso, incompetente, ignorante de regras e de ideias, profícuo apenas em produzir bobagens e em se imiscuir em mutretas de gabinete?

Essa reflexão mereceria um tratamento similar ao de um desastre aéreo, com o recolhimento de todos os cacos para meticulosa compreensão dos motivos da desgraça e, sobretudo, daquilo que precisa ser feito para que ela não se repita.

Mesmo não sendo a única causa, o furor purificador da Lava Jato semeou o campo em que mais tarde colheu-se Bolsonaro, a quem os próceres da operação se uniram depois, em mais um capítulo histórico da hipocrisia udenista.

Enterrada a Lava Jato, muitos parecem já ter se esquecido do que a possibilitou.

Proliferam-se picaretagenzinhas e privilégios aqui e ali, sendo que em alguns casos os responsáveis desobrigam-se até mesmo de dar explicações. O balcão de cargos e emendas está aberto e operante. Em suma, voltam a adubar a terra em que ciclicamente a trombeta do moralismo floresce.

O presidente Lula (PT) cogita indicar seu advogado para o Supremo Tribunal Federal e já anunciou que irá copiar de Bolsonaro o desprezo pela eleição interna para escolha do chefe do Ministério Público. Talvez com o propósito de enterrar de vez o lavajatismo.

Lula governa faz só dois meses e não há equivalência entre ele e Bolsonaro. Para quem acha que há, explicações de nada adiantarão. O petista deveria, porém, distanciar decisões de tamanho quilate de desejos privados de desforra ou de recompensa.

O bolsonarismo está por ora derrotado, mas conta ainda com um assustador suporte popular. Não deveria haver espaço para erros do passado.

 

4 comentários:

  1. Anônimo7/3/23 10:34

    Concordo com tudo, menos com o peso religioso que é dado a um grupo privado e corporativista como o Ministério Público em escolher dentre os seus aquele que será o PGR. Essa prerrogativa tem de ser do presidente, até para que conchavos internos e disputas de poder no grupo não sejam escadas diretas ao poder de modo que possam executar suas funções como seu estatuto ordena e não como caça recompensas.

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  3. Alguns políticos roubam sem qualquer limite, casos vem a público e ficam desmoralizados junto à opinião pública, alguns são condenados e ficam inelegíveis e a culpa é dos juízes e da justiça. E ainda temos que aguentar uns jornalistazinhos ignorantes, sabujos e enganadores tentando nos passar atestado de idiota.

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  4. Anônimo7/3/23 12:59

    A visão do autor sobre o bolsonarismo é extremamente INCORRETA!
    Só um "grupo reconhecidamente limítrofe, preconceituoso, incompetente, ignorante de regras e de ideias, profícuo apenas em produzir bobagens e em se imiscuir em mutretas de gabinete"?
    Se fosse assim, seria um governo QUASE normal...
    Bolsonaro é psicopata, mentiroso contumaz, defensor da tortura e dos torturadores, que comemorava mortes de pessoas por policiais e queria justificar ações policiais irregulares ou criminosas e proteger quem as cometia! Este canalha se cercou de criminosos e marginais com tendências parecidas, sem qualquer preocupação com a Verdade ou com Valores Públicos que devem reger uma Administração Pública! Interferiu em todos os órgãos Públicos que poderiam regular ou fiscalizar a atuação de sua quadrilha, e foi bem sucedido em várias destes interferências criminosas.
    Alguns destes CRIMES já foram denunciados e estão sendo investigados, outros ainda serão descobertos!
    Muitas das supostas incompetências do DESgoverno Bolsonaro eram na verdade ações INTENCIONAIS ou MAL INTENCIONADAS e até criminosas!

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