Folha de S. Paulo
Bolsonaro devastou a direita democrática em
razão da vizinhança de ideias
Não mexa que estraga. A emenda sempre fica
pior do que o soneto. Quando governos se metem a corrigir desigualdades, mais
atrapalham do que ajudam. Tentando proteger os vulneráveis, vão marginalizá-los
ainda mais.
Ao tomar conhecimento do conjunto de medidas anunciadas por Lula de proteção às mulheres, lembrei-me dessas considerações que se ouvem por aí, muito especialmente em ambientes em que se respira o ar do "liberalismo à brasileira". Não raro, este convive bem com desigualdades alarmantes e as transforma em fatos caídos da árvore da vida. Os missionários querem menos Estado também na assistência social, não só na economia. Não é maldade, é crença.
Aguardo a reação desses fiéis ao pacote
pró-mulheres. Não sei quantos entes abstratos, que habitam o "mundo como
ideia", serão convocados para evidenciar que tudo vai dar errado porque
verdades eternas da economia estariam sendo afrontadas. As mesmas evocadas, e
as tenho vivas na memória, contra o SUS no século passado.
Lembro um poema de Carlos Drummond de
Andrade. "Eu também já fui brasileiro como vocês" —no caso, os
entusiastas do "liberalismo nada moreno". Faço aqui alusão espelhada
ao "socialismo moreno", de que Leonel Brizola se tornou a expressão
eleitoral, no esforço para adaptar certas ideias gerais sobre o bem e o justo
às circunstâncias de cada país. Noto à margem: não procedo a um juízo de valor
sobre aquelas escolhas políticas.
Se o "socialismo" —e tomo o
vocábulo como emblema das várias correntes igualitaristas— se amansou no
Brasil, substituindo, como vertente triunfante, a disrupção pela reforma,
amalgamando-se ao que fizemos do que fizeram de nós, parece-me certo que aquilo
a que chamam "liberalismo" andou em sentido contrário, não recusando,
e buscando-a às vezes, proximidade com o reacionarismo mais abjeto. Na
simbologia aqui empregada, foi se tornando mais branco e menos brando.
Jair Bolsonaro não
devastou a direita democrática por acaso. Isso não se deveu apenas à sua
truculência, mas também à vizinhança de certas ideias. E, por isso mesmo, tudo
o mais constante, vai demorar muito tempo até que os ditos
"conservadores" não bolsonaristas e não petistas tenham uma voz
reconhecível. Deveriam ler Paulo: a cítara e a flauta hão de soar de modo
distinto. Se o som for incerto, quem vai se organizar para a batalha?
Volto a Drummond, adaptando-o. "Eu
também já fui poeta./ Bastava olhar para o mercado,/ pensava logo nas estrelas/
e outros substantivos celestes/ Mas eram tantas, o céu tamanho,/ minha poesia
perturbou-se. (...) E meus amigos me queriam,/ meus inimigos me odiavam./ Eu
irônico deslizava/ satisfeito de ter meu ritmo."
Sei fazer todos os panegíricos em favor do
mercado. Mas, na democracia, ou ele é regulado pela política —em vez de
controlá-las—, ou viveremos de lamentar, a cada pouco, que muitos sejam
colhidos por tragédias. Ou, sem estas, que morram aos suspiros. A igualdade salarial encontrará enormes resistências.
Todas as frases que abrem este texto serão tonitruadas. E se vai alertar,
adicionalmente, para o desemprego das mulheres, que o projeto de lei busca
proteger.
Os detratores, havendo quem perca seu tempo
com isso, podem usar contra mim aquele Drummond, que termina assim: "Mas
acabei confundindo tudo./ Hoje não deslizo mais não,/ não sou irônico mais não,/não
tenho ritmo mais não." Não sinto nenhuma saudade de um tempo de muitas
certezas e pouca perplexidade. Paulo de novo: há a hora de deixar de ser
menino. Sabemos quão entediante é o entusiasmo de um viajante neófito com
paisagens das quais já nos fartamos.
Temos convivido mal com a ideia de que as
pessoas podem não ser assim tão virtuosas, mas que temos de lutar por
instituições que o sejam, como me disse a ministra
Marina Silva (Meio Ambiente) em entrevista recente. Não ignoro
que elas nascem de consensos possíveis, mas defendo que também contribuem para
criá-los. Se um conservador não busca aprimorar instituições para conservá-las
(Chesterton), lutará pela conservação de quê? De iniquidades? Lula, por isso
mesmo, é nosso mais notável conservador. E isso aqueles "liberais" a
que me refiro ainda não entenderam. Talvez não entendam nunca.
Eu continuo sendo, mas conforme tudo se encaminhe no Brasil, vou deixar de se-ló. Estou perdendo a esperança em um país melhor. Sai um entra outro e nada melhora, o
ResponderExcluirnosso país é decepcionante, falta Homem de brio e sobra Bananas
A
ResponderExcluirEntreviasta com lula foi um tremendo fracasso.
Vc não engana mais ninguém
Parabéns, mais uma vez, Azevedo.
ResponderExcluir"Temos convivido mal com a ideia de que as pessoas podem não ser assim tão virtuosas, mas que temos de lutar por instituições que o sejam, como me disse a ministra Marina Silva (Meio Ambiente) em entrevista recente."
Os anônimos acima, das 15:27 e 15:28 não são virtuosos mas vou conviver BEM com os mesmos. Lutarei por instituições virtuosas apesar destes trastes q de nada entendem.
Traste é quem pendura no governo para nós sustentarmos. Traste é quem usa o Velho decrépito como disse a Rosemary Noronha, para o povo sustentar. Traste é quem vai em US e tira vc retrato ente o Biden como se até ontem não era um trubufu cujo objetivo era encostar no gagá para ser algo mais que uma Xepa medíocre. Traste é quem chama alguém que não conhece de traste quando todos sabem que o verdadeiro traste pega “carona”
ExcluirPara ser mais do que realmente é, sem brilho, brega, tola e genteca. !Pois conheço bem o tipinho. Quem nasceu para ser vulgar jamais chega a majestade. Está na índole, nem sei porque eu estou perdendo tempo em responder. O Brasil não muito tempo mais vai chegar ao nível de Honduras, Nicarágua, Venezuela, Cuba e algumas províncias bananeiras mais. Está no DNA nem precisa falar quem é.
Tendi nada. Cê fala de quem?
ExcluirCom Lula lá, éramos a 6a economia. Com o genocida muambeiro caímos pra 12a posição. Voltaremos a ser uma das 10 PRIMEIRAS! Em 4 anos, uma das 10 primeiras. É só fazer o contrário do q fez o muambeiro.
ExcluirEle deve tá falando daquele das rachadinhas, dos imóveis em bufunfa, do regalos em forma de 💎, etc. É o DNA q ele mencionou. Uma familícia q enriqueceu sendo apenas de funcionários públicos.
ExcluirI’ve. Eu nunca roubei dos cofres públicos isso eu considero virtude , o resto é resto.
ResponderExcluirAo falar em virtude muitas vezes dará a impressão de que na realidade não sabes o que é virtude.’ Não tem virtude maior que ser autêntico e não um vira folha desafinado. A honestidade é uma virtude que muitos gabam ter mas que de fato não tem; honestidade não reconhece um bandido no adversário enquanto louva o brandido de sua predileção. Virtude não está na pessoa que falsamente a ostenta, ela está escondida na própria maneira de ser. Quem és tu para sentir-se um virtuoso quando estamos cansados de saber que nunca foi. Chopin, Beethoven e Bah foram virtuosos, no Brasil o virtuoso não sairá da política, tem do né?
ResponderExcluirContinuo sen tender.
ExcluirJesus,Maria e José!
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