Folha de S. Paulo
Remendos contêm mais falências, mas crises
financeiras vêm em ondas e deixam cicatriz
O Banco Central da Suíça ofereceu
empréstimo de até 50 bilhões de francos suíços para o Credit Suisse.
O bancão vai pegar muito desse dinheiro, pois estava no bico do corvo. Esse
cheque especial monstruoso equivale a 6,7% do PIB da Suíça. Mal comparando,
seria como se o BC do Brasil oferecesse R$ 674 bilhões para um bancão bichado.
O número serve apenas para dar uma ordem de
grandeza do problema. Não serve para outra elucubração.
Nos Estados Unidos, bancões e pares
menores fizeram uma
vaquinha para depositar US$ 30 bilhões (R$ 157 bilhões) no
First Republic, banco de ricos da Califórnia, que vinham sacando o dinheiro por
temer destino igual ao do SVB.
Os remendos fizeram algum efeito. Bolsas subiram, taxas de juros pararam de despencar etc. Acabou a crise?
Pelo histórico, ao menos, crises
financeiras vêm em ondas. É como se uma bomba
incendiária houvesse explodido rio acima. Aparecem alguns
cadáveres boiando --parece que atingiu uma cidade. E o incêndio, vai até onde?
Pode chegar a lugares que nem estão no mapa.
Por vezes, as ondas e os caldos reaparecem
meses depois. Já em 2006 havia muitos alertas do tsunami de 2008. Em abril de
2007, começaram as quebras. O Bear Stearns foi à breca em março de 2008. O
Lehman Brothers, em setembro.
Este tumulto de agora NADA tem a ver com
2008. A ideia aqui é apenas lembrar como crises financeiras podem se desdobrar
até lentamente.
No mínimo, devem ficar cicatrizes deste
tumulto.
Bancos médios e pequenos, por exemplo, os
mais abalados, vão emprestar mais ou menos depois do choque? Não seria difícil
chutar "menos".
Depois da pancada, que atingiu um setor que já
vinha balançando, vai aumentar o diminuir a venda de títulos
imobiliários? Se a venda aumentar, as taxas de juros de financiamento
imobiliário aumentam (ainda mais).
O preço do barril do petróleo levou um
tombo, mais um, com o pânico nos bancos. Na segunda-feira, 6 de março, início
da semana da agonia do SVB, o barril do tipo Brent estava a US$ 86. Na quarta,
15 de março, baixara a US$ 72. Nesta quinta de "alívio nos mercados",
subiu um tico, para US$ 74. No pico do pânico da guerra da Putin, havia passado
de US$ 120.
As taxas dos títulos do governo americano
subiram um pouquinho também nesta quinta-feira de salva-banco. Mas indicam
cortes de juros adiante. Como no Brasil. Aliás, na América do Sul.
Em resumo, há indícios de que o sururu
bancário e suas consequências são, em tese, desinflacionários. Isto é, diminuem
a atividade econômica e, em princípio, em decorrência, a inflação.
Também nesta quinta-feira, o Banco Central
Europeu elevou em 0,5 ponto a sua taxa básica de juros, para
3%. Pode ter tentado passar a mensagem de que a crise inflacionária não tem a
ver com a crise financeira (como reiterou em discurso e entrevista a presidente
do BCE, Christine Lagarde). Hum.
Lagarde disse também que a inflação
europeia permanecerá alta por muito tempo. Um cínico poderia dizer que o BCE
aproveitou a última chance, no futuro próximo, de aumentar os juros, antes que
o tumulto piore.
Como vão agir o Fed, BC dos EUA, e o BC do
Brasil, na quarta-feira que vem? Os preços dos mercados indicam cortes das
taxas, se não agora, daqui a mês e pouco (no Brasil, mais adiante. Maio?). O
Fed vai na mesma linha do BCE? "Seguramos as pontas do pânico e vamos em
frente com os juros"? Ou vai indicar que o risco de recessão aumentou? Que
essa desaceleração seria bastante para conter a inflação?
Além do mais, é um tempo complicado. O Fed
promoveu uma das altas de juros mais rápidas da história, a inflação cedeu um
tico, mas é alta, e o país ainda vive uma situação de pleno emprego. Está
difícil.
Lendo e aprendendo.
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