sexta-feira, 17 de março de 2023

Vinicius Torres Freire - Vaquinhas de bilhões para bancos

Folha de S. Paulo

Remendos contêm mais falências, mas crises financeiras vêm em ondas e deixam cicatriz

O Banco Central da Suíça ofereceu empréstimo de até 50 bilhões de francos suíços para o Credit Suisse. O bancão vai pegar muito desse dinheiro, pois estava no bico do corvo. Esse cheque especial monstruoso equivale a 6,7% do PIB da Suíça. Mal comparando, seria como se o BC do Brasil oferecesse R$ 674 bilhões para um bancão bichado.

O número serve apenas para dar uma ordem de grandeza do problema. Não serve para outra elucubração.

Nos Estados Unidos, bancões e pares menores fizeram uma vaquinha para depositar US$ 30 bilhões (R$ 157 bilhões) no First Republic, banco de ricos da Califórnia, que vinham sacando o dinheiro por temer destino igual ao do SVB.

Os remendos fizeram algum efeito. Bolsas subiram, taxas de juros pararam de despencar etc. Acabou a crise?

Pelo histórico, ao menos, crises financeiras vêm em ondas. É como se uma bomba incendiária houvesse explodido rio acima. Aparecem alguns cadáveres boiando --parece que atingiu uma cidade. E o incêndio, vai até onde? Pode chegar a lugares que nem estão no mapa.

Por vezes, as ondas e os caldos reaparecem meses depois. Já em 2006 havia muitos alertas do tsunami de 2008. Em abril de 2007, começaram as quebras. O Bear Stearns foi à breca em março de 2008. O Lehman Brothers, em setembro.

Este tumulto de agora NADA tem a ver com 2008. A ideia aqui é apenas lembrar como crises financeiras podem se desdobrar até lentamente.

No mínimo, devem ficar cicatrizes deste tumulto.

Bancos médios e pequenos, por exemplo, os mais abalados, vão emprestar mais ou menos depois do choque? Não seria difícil chutar "menos".

Depois da pancada, que atingiu um setor que já vinha balançando, vai aumentar o diminuir a venda de títulos imobiliários? Se a venda aumentar, as taxas de juros de financiamento imobiliário aumentam (ainda mais).

O preço do barril do petróleo levou um tombo, mais um, com o pânico nos bancos. Na segunda-feira, 6 de março, início da semana da agonia do SVB, o barril do tipo Brent estava a US$ 86. Na quarta, 15 de março, baixara a US$ 72. Nesta quinta de "alívio nos mercados", subiu um tico, para US$ 74. No pico do pânico da guerra da Putin, havia passado de US$ 120.

As taxas dos títulos do governo americano subiram um pouquinho também nesta quinta-feira de salva-banco. Mas indicam cortes de juros adiante. Como no Brasil. Aliás, na América do Sul.

Em resumo, há indícios de que o sururu bancário e suas consequências são, em tese, desinflacionários. Isto é, diminuem a atividade econômica e, em princípio, em decorrência, a inflação.

Também nesta quinta-feira, o Banco Central Europeu elevou em 0,5 ponto a sua taxa básica de juros, para 3%. Pode ter tentado passar a mensagem de que a crise inflacionária não tem a ver com a crise financeira (como reiterou em discurso e entrevista a presidente do BCE, Christine Lagarde). Hum.

Lagarde disse também que a inflação europeia permanecerá alta por muito tempo. Um cínico poderia dizer que o BCE aproveitou a última chance, no futuro próximo, de aumentar os juros, antes que o tumulto piore.

Como vão agir o Fed, BC dos EUA, e o BC do Brasil, na quarta-feira que vem? Os preços dos mercados indicam cortes das taxas, se não agora, daqui a mês e pouco (no Brasil, mais adiante. Maio?). O Fed vai na mesma linha do BCE? "Seguramos as pontas do pânico e vamos em frente com os juros"? Ou vai indicar que o risco de recessão aumentou? Que essa desaceleração seria bastante para conter a inflação?

Além do mais, é um tempo complicado. O Fed promoveu uma das altas de juros mais rápidas da história, a inflação cedeu um tico, mas é alta, e o país ainda vive uma situação de pleno emprego. Está difícil.

 

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