O Globo
Alimentos acumulam alta de 447% de 2020 a
2022
A alta de preços de alimentos acumulada
entre 2000-22, sob o regime de metas de inflação, foi de 447%, muito acima do
aumento dos demais itens do IPCA, de 271%. Desnecessário explicar o quanto isso
é particularmente perverso para as camadas populares.
Há certa similaridade entre os ciclos de
inflação de alimentos entre os países. A dinâmica de preços internacionais,
notadamente de commodities (alta de 150%, em dólar, no período analisado), é
uma das condicionantes da inflação doméstica, pela influência direta nos preços
de muitos alimentos e por impactar custos de produção — exemplo deste último
foi a explosão de preços de fertilizantes, por conta da guerra na Ucrânia.
O que distingue o Brasil, bem como outros
países não desenvolvidos, é que o diferencial entre a inflação de alimentos e a
dos demais itens da cesta do consumidor é muito maior na comparação com o
observado em nações ricas.
A força da nossa agropecuária — como na boa
safra esperada para 2023/24 — não garante menor inflação de alimentos, sendo
que as culturas mais importantes (como soja e cana) são de produtos que
proporcionam benefício modesto ao consumidor.
É verdade que os preços de alimentos são mais voláteis que os demais. Além dos limites para ampliar tempestivamente a oferta de produtos agrícolas no curto prazo, a demanda desses bens, essenciais, pouco se ajusta a variações de preços, deixando assim de ser um freio às suas oscilações.
Como resultado, pequenas alterações nas
condições de demanda (como excessos no estímulo fiscal) ou de oferta (como
quebras de safra) podem gerar fortes oscilações de preços. Como agravante, o
real é muito mais volátil em comparação às demais moedas globais.
No entanto, maior volatilidade não deveria
significar inflação mais elevada. Esta última pode ser resultado da combinação
entre insegurança alimentar ou consumo reprimido de grande parcela da sociedade
e baixa produtividade na economia, inclusive de parcela de propriedades rurais.
Um exemplo foi o ano de 2020, quando os
estímulos governamentais produziram um visível aumento da demanda de alimentos
— como refletido na alta de 4,2% na produção da indústria de alimentos, em meio
ao quadro de recessão —, o que provavelmente foi um fator decisivo para a alta
de 14% desses preços.
Para piorar, itens mais populares — com
maior peso na cesta — com frequência exibem altas muito mais expressivas,
inclusive comparativamente a produtos da mesma categoria.
Vale citar exemplos: feijão-carioca (561%),
farinha de mandioca (773%), batata-inglesa (963%), tomate (987%), cebola
(1.748%), alface (741%), banana-prata (719%), mamão (1.176%), costela bovina
(810%), sal (883%) e óleo de soja (634%).
Essa pode ser uma indicação de que
condições de demanda têm importante peso na dinâmica de preços. Além disso,
sugere o fracasso da política de isenção da cesta básica, que, para piorar, é
injusta socialmente, ao não focalizar nos mais pobres.
Já a baixa produtividade cobra seu preço
particularmente para produtos que não podem ser comercializados no exterior,
devido ao custo de transporte proibitivo de itens mais perecíveis — como
tubérculos, legumes, verduras e hortaliças.
A rentabilidade costuma ser menor, assim
como o estímulo a buscar ganhos de produtividade. Ainda que o peso na cesta
seja pequeno, esse grupo registrou inflação acumulada acima de 700% no período
analisado.
Muitas vezes, a produção agrícola ocorre em
propriedades com escala de produção inadequada, muito pequena, o que dificulta
o acesso a insumos de maior qualidade e tecnologia mais moderna, e compromete a
resiliência a choques.
Há ainda fragilidades associadas ao baixo
capital humano e ao manejo inadequado em todo o ciclo produtivo, desde a
preparação do solo.
Nesses tempos em que se discute caminhos
para facilitar o trabalho dos bancos centrais no controle da inflação, é
necessário buscar formas eficientes para conter a alta nos alimentos.
O alicerce é o ambiente macroeconômico
estável, com menor volatilidade cambial e evitando estímulos artificiais ao
consumo.
Sem dúvida, cabe maior atenção à
produtividade no campo, problema que não se resolve simplesmente ampliando o
crédito ao setor.
Precisamos resgatar o “espírito Embrapa”,
com pesquisa, desenvolvimento e implementação de técnicas modernas e adequadas
na produção agropecuária, e de forma disseminada.
Perfeito.
ResponderExcluirApoiado.
ResponderExcluirZEINA LATIF, a 'AnaMariaBraga' da Economia
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