sexta-feira, 7 de abril de 2023

Bernardo Mello Franco – De volta ao palco

O Globo

Em janeiro de 2005, Lula se definiu como “o maior vendedor de otimismo já visto neste país”. A economia crescia em ritmo acelerado, e o governo ainda não havia enfrentado a crise do mensalão. Dezoito anos depois, o presidente tenta recuperar a aura de confiança do primeiro mandato. Mas parece estar menos à vontade no velho figurino.

Diante de uma plateia de jornalistas, o petista procurou se dizer ontem “mais do que satisfeito” com o início do novo governo. “Estou convencido de que vamos consertar o país”, garantiu, alternando promessas e elogios à própria equipe.

À medida que a conversa avançou, o presidente começou a se queixar das dificuldades. Reclamou da taxa de juros, criticou o legado do antecessor e admitiu que ainda não sabe se conseguirá aprovar sua agenda no Congresso. “É muito difícil pensar num sistema de coalizão política com a quantidade de partidos que nós temos. Com 30 partidos, é muito complicado”, desabafou.

Lula fez um apelo para que os presidentes da Câmara e do Senado encerrem a disputa de poder que trava a votação de medidas provisórias. O impasse se arrasta desde fevereiro e ameaça demolir a arquitetura da nova gestão. “Tenho certeza que os dois vão se colocar de acordo”, disse o petista. “O país não pode ficar parado”, suplicou.

O vendedor de otimismo reapareceu numa resposta sobre política externa. “Estou convencido de que tanto Ucrânia quanto Rússia estão esperando alguém de fora para sentar e conversar”, disse Lula, voluntariando-se para articular uma trégua entre Putin e Zelensky.

Curiosamente, o presidente pareceu mais confiante no fim da guerra do que na solução de seus problemas domésticos. Num acesso de realismo, ele admitiu que o Congresso ficou mais conservador e pode barrar grande parte de suas promessas. “Quando está na oposição, você fala o que quer. Quando está no governo, você faz o que pode”, resignou-se.

Apesar dos percalços, Lula deixou claro que está feliz por voltar ao centro do palco. “Como dizia o doutor Ulysses Guimarães, a política é como o orgasmo para o ser humano. A gente não consegue viver sem ela”, gracejou.

 

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