sexta-feira, 21 de abril de 2023

Bernardo Mello Franco - O abacaxi do GSI

O Globo

Pasta continua infestada de bolsonaristas; tática de esvaziá-la aos poucos não funcionou

No primeiro dia à frente do Gabinete de Segurança Institucional, o ministro interino Ricardo Cappelli brincou com aliados sobre a própria nomeação: “Quando o pessoal não sabe o que fazer com um abacaxi verde e cheio de espinhos, manda entregar na minha sala...”.

O número dois do Ministério da Justiça virou o bombeiro do governo Lula. Em janeiro, foi encarregado de apagar o incêndio na segurança do Distrito Federal. Agora terá que debelar a crise que derrubou o general Gonçalves Dias.

Entre muitos abacaxis que Lula herdou do antecessor, o GSI é um dos mais difíceis de descascar. Nos últimos quatro anos, o órgão foi comandado por Augusto Heleno, decano da extrema direita militar.

O general voltou a vestir o pijama, mas deixou como legado uma pasta infestada de radicais. O novo governo demorou a afastá-los, o que ajuda a explicar a facilidade com que os golpistas invadiram e depredaram o Planalto.

Em vez de desbolsonarizar o órgão de uma vez, Lula escolheu esvaziá-lo em doses homeopáticas. Transferiu sua segurança para a Polícia Federal e deslocou a Abin para a Casa Civil. O GSI foi reduzido a um órgão zumbi, com poucas atribuições e sem razão clara de existir.

Quando voltar da viagem a Portugal e Espanha, o presidente terá que definir o futuro da pasta. Uma das opções é extingui-la. Isso já foi tentado por Dilma Rousseff, mas a medida só aumentou a animosidade dos quartéis contra o PT.

Outra alternativa é reestruturar a pasta e entregá-la a um civil. Seria algo inédito desde 1938, quando Getúlio Vargas mudou a estrutura da Presidência e criou o Gabinete Militar. Ele havia acabado de enfrentar o putsch dos integralistas, cujo lema “Deus, pátria e família” seria ressuscitado depois de oito décadas por Bolsonaro.

Horas antes de demitir o ex-chefe do GSI, Lula tentou vender a ideia de que havia recuperado a confiança nos militares. “Esse Exército não é mais o Exército de Bolsonaro. É o Exército de Caxias”, disse, em solenidade no Planalto. A frase soou tão sincera quanto as desculpas de G. Dias para sua inação diante dos extremistas que vandalizaram o palácio.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário