O Globo
Reitor eleito da UFRJ defende parcerias com
empresas e critica Bolsonaro: "Nem na ditadura militar o governo discursou
contra a ciência"
Depois dos ataques, a asfixia financeira.
Em 2022, o governo Bolsonaro deixou a maior universidade federal do país sem
verbas para despesas básicas. Com salas e laboratórios em condições precárias,
a UFRJ quase foi obrigada a suspender as aulas.
“Tivemos que fazer milagre”, lembra o
epidemiologista Roberto Medronho, que acaba de vencer a eleição interna para
reitor da universidade. “Trabalhamos no limite para não fechar as portas. A
UFRJ parecia um navio naufragado, sem saber se o resgate chegaria a tempo”.
A PEC da Transição ajudou as instituições de ensino superior a sair do buraco. Agora o reitor eleito quer procurar outras pastas, como Saúde e Meio Ambiente, para não depender apenas dos repasses do Ministério da Educação.
“Estou muito entusiasmado. A UFRJ vai
colaborar com a reconstrução do país”, promete Medronho, que já havia dirigido
duas vezes a Faculdade de Medicina. “A universidade pública é sustentada pelo
dinheiro dos impostos. Quero mostrar que podemos devolver cada centavo em
produção de conhecimento e prestação de serviços à sociedade”, afirma.
O professor também pretende investir em
parcerias com a iniciativa privada. Na campanha, ele foi criticado ao elogiar a
concessão do antigo Canecão, no campus da Praia Vermelha. O contrato prevê
investimentos de R$ 137 milhões na reabertura da casa de espetáculos e na
construção de refeitório e novas salas de aula.
“Fui tachado de privatista, mas estou
disposto a enfrentar o debate. Existe muito preconceito na universidade contra
o setor privado. É possível fazer boas parcerias de forma republicana e
transparente. Neste caso, as contrapartidas vão beneficiar os alunos mais
carentes”, sustenta.
Ele planeja um pacote de medidas para
reduzir a evasão estudantil. Estão nos planos a ampliação das bolsas de permanência
e a conclusão das obras no alojamento do Fundão. “Costumo dizer que não é o
aluno que se evadiu. Nós é que não demos as condições adequadas para ele
permanecer”, afirma.
Medronho promete ampliar as ações
afirmativas na pós-graduação e nas bolsas de iniciação científica. Defensor da
lei das cotas, que democratizou o acesso às federais, ele lembra que a
universidade era bem diferente em 1977, quando se matriculou como aluno da
graduação. “Era um morador do subúrbio numa turma de estudantes da Zona Sul.
Minha família vivia no Conjunto dos Ferroviários, na Abolição. Graças à escola
pública, consegui furar a bolha”, orgulha-se.
O epidemiologista se tornou mais conhecido
durante a pandemia. Integrou o comitê científico do estado e coordenou as ações
da UFRJ contra o coronavírus. Nas horas vagas, fez plantão em telejornais para
tirar dúvidas e ajudar a população a se proteger. “O que vivemos nos últimos
anos foi muito triste. Nem na ditadura militar o governo discursou contra a
ciência, a vacina e a saúde pública”, critica.
Para celebrar os novos tempos, o professor
quer reativar o bloco de carnaval da UFRJ. Criado em 2003 pelo ex-reitor Carlos
Lessa, o Minerva Assanhada homenageava a deusa romana das artes e da sabedoria,
que ilustra o brasão da universidade. Medronho compôs seu primeiro samba, em
parceria com Noca da Portela.
Nota dez ao reitor.
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