quarta-feira, 5 de abril de 2023

Bruno Boghossian - O núcleo duro de Lula

Folha de S. Paulo

Petista deve tentar expandir base com fatia do eleitorado que aguarda resultados concretos do governo

Lula começou o terceiro governo com o apoio de um núcleo duro formado por 19% do eleitorado. São brasileiros que, na última semana, disseram ao Datafolha que votaram no petista, consideram sua gestão ótima ou boa e acreditam que ele vai cumprir a maioria das promessas de campanha.

Os dados indicam que o presidente larga com a sustentação de um lulismo consistente –na proporção de um em cada cinco eleitores. Por outro lado, aponta também para a existência de grupos numerosos cujo apoio dependerá de resultados concretos do governo.

A classificação foi elaborada pelo Datafolha a partir de uma análise de três respostas de cada entrevistado: o voto declarado no segundo turno, a avaliação do governo e a expectativa sobre o cumprimento das promessas de campanha.

O núcleo duro corresponde a uma faixa de lulistas intensos ("heavy", na nomenclatura da pesquisa). Refletindo o quadro da última eleição, o grupo tem renda abaixo da média nacional (67% recebem até dois salários mínimos) e menos evangélicos (17%) do que a população em geral (27%). Há mais mulheres (57%) do que homens (43%).

Só 6% desses eleitores disseram que Lula fez menos do que o esperado até aqui. Eles dão mais valor a políticas de combate à miséria (21% afirmaram que esse foi o destaque do governo), e 22% responderam que o presidente não foi mal em nenhuma área. Quase todos (98%) acreditam que a gestão continuará bem.

O núcleo duro de Lula (19%) supera o percentual de bolsonaristas "heavy" (12%) medido em setembro de 2019. A comparação é possível ainda que uma das variáveis usadas pelo Datafolha no governo passado fosse diferente (a confiança nas declarações do presidente no lugar das expectativas sobre as promessas).

Lula tem em seu extremo oposto 16% dos eleitores ouvidos pelo Datafolha. São os não lulistas intensos: não votaram no petista, consideram o governo ruim ou péssimo e afirmam que nenhuma promessa será cumprida. É uma faixa com renda média mais alta e maior representação no Sudeste do que os lulistas fiéis.

A pesquisa atual mapeou também dois segmentos que somam quase metade do eleitorado e que poderão ser cruciais para determinar a força de Lula daqui por diante.

O primeiro (21% do eleitorado) é formado por lulistas moderados: votaram no petista, mas não aprovam o governo (consideram regular, ruim ou péssimo) ou aprovam o governo, mas acham que ele não vai cumprir a maioria das promessas. Aqui, 38% dizem que o presidente fez menos do que esperavam. Há mais eleitores do Sudeste (40%) do que no núcleo duro (32%).

Há também o grupo dos não lulistas leves (27% do eleitorado). Eles não apoiaram o petista (votaram em Jair Bolsonaro, em branco, nulo ou não compareceram às urnas), consideram o governo ótimo, bom, regular ou não souberam responder e acreditam que Lula cumprirá ao menos parte de suas promessas.

Quase metade dos não lulistas "light" acha, no entanto, que a gestão do petista será ótima ou boa –o que deve tornar o segmento alvo de cobiça do governo. Nesse grupo, há uma concentração considerável de eleitores de baixa renda (57%), evangélicos (34%) e moradores do Sudeste (50%).

 

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