O Estado de S. Paulo
Oposição bolsonarista vai focar no 8/1, mas
governo lulista vai buscar a história do golpe
A oposição bolsonarista fez tudo para criar
a CPI dos atos golpistas e o governo lulista fez tudo para impedi-la, mas jogou
a toalha depois dos vídeos da displicência do general Gonçalves Dias, então no
GSI, diante dos bandidos que invadiram e quebraram o Planalto. Esses vídeos
reforçam a narrativa bolsonarista contra a inação do governo, mas, ao mesmo
tempo, põem no alvo os generais do círculo íntimo de Jair Bolsonaro e o próprio
Bolsonaro.
O resultado tende a ser óbvio e claramente a favor do governo Lula, porque será mais difícil transformar a vítima Lula em culpado pela invasão dos três Poderes, o que não é minimamente crível, e bem mais fácil aprofundar culpas e responsabilidades dos bolsonaristas, do antigo governo e do próprio ex-presidente.
O objetivo dos bolsonaristas é focar no 8
de janeiro, com milhares de vândalos depredando as sedes de Executivo,
Legislativo e Judiciário, tentando convencer os incautos da internet de que a
culpa foi do governo Lula, que mal completava uma semana e não tinha nada a
ganhar com o circo de horrores.
Já a estratégia do governo e seus aliados é
buscar a história do golpe, suas motivações, líderes e financiadores, muito
antes daquele domingo, aprofundando as investigações do Supremo. “O 8 de
janeiro é só o desfecho”, resume o senador
Renan Calheiros, que foi relator da CPI da
Covid e terá assento na dos atos golpistas.
Assim, a oposição vai mostrar ofícios da
véspera (por exemplo, da Polícia Federal), alertando para a chegada de milhares
de militantes bolsonaristas a Brasília e a ameaça de invasão de prédios
públicos, como acabou ocorrendo. A tentativa é responsabilizar o governo Lula
por não ter se preparado para o tamanho e a gravidade da tentativa de golpe.
Sim, e daí? Daí nada, porque os fatos
remetem à história militar e política de Jair Bolsonaro e a seus atos, falas e
motociatas já na Presidência, como também às provocações de seus filhos,
ministros, empresários e militares aliados. Como diz o editorial do nosso
Estadão, “sem Bolsonaro, não haveria o 8 de janeiro”. Tudo foi em nome e em
favor dele.
Os generais bolsonaristas são personagens-chave em todo o governo Bolsonaro, nas vésperas e no próprio dia 8/1. A oposição mirou no que viu e acertou no que não viu: trouxe G. Dias e assim atraiu para a CPI os generais Braga Netto, Augusto Heleno e Luiz Eduardo Ramos, que devem estar uma fera com os bolsonaristas. Entraram numa fria, sem poder alegar que tomaram morfina, como Bolsonaro, nem que estão deprimidos, como o homem bomba, Anderson Torres.
É!
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