segunda-feira, 10 de abril de 2023

Felipe Moura - A verdadeira frente ampla de Lula

O Estado de S. Paulo

Em 100 dias de governo centralizado no velho PT, a verdadeira frente ampla de Lula é externa

Em missa de Ramos no Rio de Janeiro, um padre relatou que muitos fiéis haviam lhe manifestado repúdio às declarações da autoridade da Igreja a um canal de TV da Argentina de que Lula foi condenado sem provas, vítima de lawfare, e Dilma Rousseff, “mulher de mãos limpas”, sofreu impeachment por “um ato administrativo menor”.

“Respeitamos o Santo Padre e sua liberdade de opinião. Não há motivos para crise. Mas entrevista não é dogma de fé”, explicou ele, com o devido respeito, indicando que nenhum católico está obrigado a compactuar com comentários midiáticos do papa argentino sobre a política brasileira. “Lamentamos que o Santo Padre não esteja bem informado sobre o Brasil”, completou, arrebatando a plateia, que o aplaudiu de pé.

Eu, Felipe, aplaudi junto, porque aprecio reações locais de fibra a intromissões estrangeiras enviesadas, sobretudo de uma autoridade que deveria guiar a Igreja e acolher todos os povos, em vez de legitimar o vitimismo de populistas que os dividem. Dias depois, na mesma linha de meter a colher na cumbuca dos outros, Lula defendeu que a Ucrânia abra mão da Crimeia, porque Zelenski “não pode querer tudo”.

“Não há razão legal, política ou moral que justifique o abandono de sequer um centímetro do território ucraniano”, rebateu no Facebook o portavoz da diplomacia do país, Oleg Nikolenko. “O mundo deve saber: o respeito e a ordem retornarão apenas quando a bandeira ucraniana retornar à Crimeia, quando houver liberdade lá, assim como em qualquer outro lugar na Ucrânia”, emendou Zelenski, em vídeo.

As reações não pararam por aí. “Estou pedindo ao presidente Lula que ceda o Rio à Rússia para acabar com a guerra”, ironizou no Twitter o historiador inglês Ian Garner, especialista em propaganda russa. “Ei, Holanda, Lula parece simpatizar com fraudulentas apropriações históricas de terras. Talvez ele deixe você ressuscitar o Brasil holandês”, acrescentou Trent Murray, correspondente internacional na Alemanha, publicando o mapa do Nordeste do século 17. “Lula entregaria o RS se a Argentina o anexasse?”, questionou também.

É melhor não dar ideia, pessoal. Em 100 dias de governo centralizado no velho PT, ávido por retomar o controle das estatais e reabrir caminho às empreiteiras amigas, a verdadeira frente ampla de Lula é externa, com a Argentina peronista de Alberto Fernández (e sua inflação anual batendo em 100%), a Venezuela chavista de Nicolás Maduro, a China comunista de Xi Jinping e a Rússia imperialista de Vladimir Putin.

Haja pano. Haja Papa.

 

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