domingo, 30 de abril de 2023

José Roberto Mendonça de Barros jr. - Indústria e agro (2)

O Estado de S. Paulo

Indústria e agro se conectam; opor os dois setores é simplesmente um erro

O desenvolvimento do agronegócio tem sido consistente e fortemente baseado na melhoria tecnológica e na crescente utilização de produtos industriais e serviços mais sofisticados. A agregação de valor tem se acelerado tanto em setores mais tradicionais quanto em produtos menores. Essa tendência continuará nos próximos anos.

Queria hoje olhar o impacto na indústria, fazendo isso em duas frentes: analisando os setores industriais diretamente influenciados pela demanda do agronegócio e as novas oportunidades decorrentes da resposta ao aquecimento global, via energia sustentável e descarbonização de processos e produtos.

Em 2018, preparei para o IEDI um texto em que avaliei a parte da produção industrial brasileira diretamente conectada com o agro: dos 805 grupos de produtos que compõem a pesquisa industrial do IBGE, divididos em 33 setores, selecionei 189 deles que, inequivocamente, têm relação com o agro. Por exemplo, na área têxtil considerei apenas fios e tecidos de algodão; na área de máquinas, apenas equipamentos para a produção e industrialização de produtos agrícolas. Esses produtos representavam 35% do valor de produção industrial na época.

Não considerei nada na área de veículos (incluindo comerciais leves e motos), mesmo sabendo que 1/3 da produção de caminhões é feita para atender o agronegócio. Considerando que, de 2015 em diante, o PIB agro cresceu sistematicamente, essa participação deve ter crescido.

Por outro lado, as novas tendências globais, como a busca da sustentabilidade e da descarbonização, têm criado uma bela abertura para a indústria diretamente ligada ao agronegócio.

A linha do biogás, amônia e hidrogênio verde ilustra à perfeição esses novos tempos. Em documento recente, a Abiquim aponta que o setor tem boas oportunidades na área de bioprodutos (com fertilizantes, condicionantes, defensivos, álcoolquímica e outros), novos combustíveis (como o Sustainable Aviation Fuel – AF) e energias sustentáveis.

Os carros híbridos a etanol representam uma grande oportunidade. Várias montadoras já os produzem no Brasil. Essa rota da descarbonização tem inúmeras vantagens. Nosso híbrido emite apenas 1/3 do CO2 na comparação com um carro elétrico que roda na Europa. Além disso, esses veículos são bem mais baratos do que um elétrico puro e, finalmente, não é necessário investir em equipamentos “plug in”, já que todos os postos do País têm o etanol.

Novos materiais, novos alimentos e novas matérias-primas serão produzidos em novas plantas industriais.

Opor agro e indústria é simplesmente um erro.

*Economista e sócio da MB Associados

 

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