O Globo
Há um elemento essencial para entender para
onde este Legislativo caminhará, e ele se chama Arthur Lira
O jogo começa para valer no Congresso para
o novo governo nesta semana. A leitura do requerimento da CPMI do 8 de Janeiro,
a votação do Projeto de Lei das Fake News e o início da tramitação do Projeto
de Lei Complementar do marco fiscal, tudo ao mesmo tempo agora, testarão o
poder de articulação do Planalto diante de um Parlamento cuja conformação ainda
está sendo definida.
Há um elemento essencial para entender para
onde este Legislativo caminhará, e ele se chama Arthur Lira. É crucial para
Lula, hoje, contar com a boa vontade do presidente da Câmara. Ela é capaz, como
se viu ontem, de rapidamente definir uma queda de braço, a ponto de deixar a
ver navios uma concertação entre o bolsonarismo e as big techs contra o PL das
Fake News em menos de 24 horas.
Se Lira ajudar, também será possível ao governo tirar o PL de Bolsonaro dos postos de comando da CPMI e correr com o arcabouço fiscal. Para isso, o presidente da Câmara se preparou e desenhou rapidamente como precisaria se rearticular depois de obstáculos como o fim do orçamento secreto e a queda de braço com Rodrigo Pacheco pelo controle das medidas provisórias.
Criou um blocão capaz de neutralizar o PL
como maior partido da Casa que preside e reduziu o poder de fogo do
bolsonarismo, por ora, à gritaria para as redes sociais nas comissões.
Isso é ouro para um governo que, sozinho,
não conseguiu construir maioria. Lira vislumbrou que a velha engenharia de dar
ministérios para obter maioria congressual estava superada. É na gestão do
Orçamento que se constrói a governabilidade, e essa lógica não mudou com a
troca da rubrica das emendas de RP9 para RP2. O governo já entendeu que terá de
negociar uma liberação rápida e mediada desses recursos para contar com o apoio
de Lira na tramitação de suas pautas.
Lira está disposto a oferecer uma
degustação do que pode proporcionar em termos de conforto legislativo se seus
pleitos forem atendidos. Se conseguir emplacar André Fufuca (PP-MA) na
presidência da CPMI, tirando de cena o xará estridente bolsonarista André
Fernandes (PL-CE), terá tocado música para os ouvidos de Lula.
Mas, dando essa colher de chá ao governo,
será que o presidente da Câmara gostaria de ver seu inimigo público número um,
Renan Calheiros (MDB-AL), com a caneta e os holofotes de relator? Ou será mais
provável que faça o Planalto ver que uma mão lava a outra, e as duas juntas são
capazes de recolocar o bolsonarismo no cercadinho?
A atuação de Lira mostra uma diferença na
conformação do novo Centrão na Câmara, que ensaia cortar o cordão umbilical com
Bolsonaro com tranquilidade, e no Senado, que tem na “paixão” declarada de Ciro
Nogueira (PP-PI) pelo ex-presidente um sinal de que poderá dar mais trabalho ao
governo. Principalmente porque lá Rodrigo Pacheco (PSD-MG) enfrenta mais
oposição que o alagoano na Casa vizinha.
Diante de tanta coisa em jogo ao mesmo
tempo, é espantoso que Lula se alongue no giro europeu, com decisões cruciais,
como o novo desenho do Gabinete de Segurança Institucional e a escalação dos
integrantes da CPMI, aguardando sua volta.
A oposição pode ser um fator de
desestabilização do governo se o Planalto não construir essa maioria mediada
por Lira e deixar avançarem estratégias como a inversão da narrativa da
responsabilidade pelo 8 de Janeiro.
Ela ameaçou colar, enquanto o Executivo
ainda estava mais aturdido que o general Gonçalves Dias nas tais imagens do dia
da invasão. Quando recobrou a iniciativa, o governo trouxe para a roda quem de
direito, o general Augusto Heleno, maior executor dos avanços bolsonaristas
sobre as instituições. Mas levou dias para a ficha cair. Sem comando próximo e
vigilante, outras bolas como essa podem passar. E nem sempre Lira estará lá
para defender. E nunca será de graça.
Vera sabe das coisas.
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