Folha de S. Paulo
Previsão para alta do PIB de 2023 melhora,
mas ainda é medíocre, como a de 2024
É bem possível que o crescimento da
economia seja bem maior do
que as previsões de quase estagnação que ainda são as da média
de economistas do setor privado. O PIB cresceria
0,9% neste 2023, segundo a mediana das estimativas compiladas pelo Banco Central.
Os economistas de um banco como o Bradesco, porém, já estimam alta de 1,8% do
PIB.
É menos do que medíocre, mas com sufoco
social um tico menor e com contas do governo menos avariadas.
Para 2024, a previsão é de crescimento de
1,4%; para o pessoal do Bradesco, 1,5%. Mal se entendeu o que se passou em 2022
(crescimento muito além do previsto) e as projeções deste início de ano estão
muito furadas. Logo, tratar de 2024 parece chute distante.
Mas a questão tem interesse político, depende de muita política e, também, do que será de inflação e juros. Se o governo bobear em 2023, se não fizer as mudanças duras, pode ter outro crescimento menos do que medíocre em 2024 e, assim, perder as condições políticas de começar a reconstruir o país.
O crescimento um pouco maior neste ano, com
alta ainda forte do salário médio (porém ainda baixo), sugere que as taxas de
juros ficarão em níveis mais altos, por mais tempo. O ano de 2024 já está sendo
contaminado por um IPCA ainda alto (deve fechar 2023 em 6%, com previsão de 4%
para o ano que vem), por uma Selic que
só deve começar a cair em agosto, se cair, e condições financeiras gerais
apertadas. A contração do crédito bancário começou apenas no final de 2022 e
ainda deve durar meses; o mercado de capitais levou tombo enorme.
Quanto à política, considere-se que o
andamento da economia seja esse aí das previsões. No biênio 2023-24, o
crescimento do PIB seria muito parecido com o de 2017-19 (depois da Grande
Recessão, antes da epidemia). Ou seja, um ritmo intolerável para um país em que
o nível da renda (PIB) per capita ainda é inferior ao de 2011 e que acabou de
eleger um governo do qual espera renovação e reconstrução.
Mas é possível melhorar em 2024, mesmo que
a economia não vá decolar, atualmente é otimismo prever crescimento além da
média deste século, de 2,4% ao ano. Para tanto, é preciso um esforço
político muito grande. O governo Lula 3 joga sua partida decisiva
neste ano.
O crescimento pode ser um pouco maior se o
dito arcabouço
fiscal for aprovado com números e regras mais apertados do que
o proposto pelo governo. Isto é, com aumento menor da despesa e normas que
tornem possível o superávit primário planejado. Esse é o nó decisivo de Lula 3.
Esse aperto está na mão do Congresso. Mas é
difícil que venha mudança maior do que uma regra de superávit obrigatório.
O restante é sabido. Uma reforma tributária
leva tempo para fazer efeito prático, mas mudaria expectativas. O governo
precisa aprovar as mudanças razoáveis que propôs no crédito. As regras de
investimento em água e esgoto, "marco do saneamento", precisavam de
aperfeiçoamentos, mas dificultar investimento privado é um tiro de bazuca no
pé. Impede criação de emprego, melhoria social e cria desconfiança de que o
governo optou de vez por intervenções erradas do Estado.
Rever as despesas obrigatórias e
vinculações é outra tarefa para o ano. Por ora, o governo dá indícios de que vá
piorar a situação, embora o ministro Fernando Haddad (Fazenda) tenha planos,
ainda secretos, de melhorá-la.
A aprovação disso tudo depende de um grande
acordo, explícito, apresentado com solenidade, conduzido pelo presidente da
República, sem ruídos e falações disparatadas. Não é rotina de política
politiqueira. O governo precisa rearrumar a casa, esclarecer programa, afinar
discurso e convocar forças políticas e sociais relevantes para esse acordo. Era
a ideia da "frente ampla".
Na torcida.
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