terça-feira, 30 de maio de 2023

Andrea Jubé - Churrasco indicou STF e Senado no radar de Lula

Valor Econômico

Um olhar atento e sensibilidade política decifram a lista de convidados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da primeira-dama Rosângela Silva, a Janja, para o churrasco promovido pelo casal na noite de sexta-feira, bem como o momento político que viabilizou a confraternização de alas do governo com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

A relação dos presentes sugere duas preocupações no radar de Lula: a votação da nova regra fiscal das contas públicas no Senado, e a provável indicação do advogado Cristiano Zanin para o STF.

Lula não convidou todos os ministros, assegurou à coluna um influente integrante do primeiro escalão, um dos que degustaram a carne de cordeiro importada da fazenda do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro (PSD). Foram chamados somente os ministros do círculo mais próximo, o que explica o grupo eclético que reuniu de Fávaro até a ministra da Cultura, Margareth Menezes.

Estavam lá os petistas que convivem com o presidente desde as gestões Lula 1 e 2, como Luiz Marinho (Trabalho), Alexandre Padilha (Relações Institucionais), Paulo Pimenta (Comunicação Social), Rui Costa (Casa Civil), e os líderes do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), e no Senado, Jaques Wagner (PT-BA).

Estavam, ainda, o ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB), que se tornou conselheiro frequente de Lula desde que se elegeu governador do Maranhão em 2014, vencendo o clã Sarney; e o líder no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), que foi coordenador da campanha lulista.

Do PT, ainda considerando o núcleo mais restrito de Lula, ausências notáveis foram as do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que estava em São Paulo, e do ministro da Secretaria-Geral, Márcio Macedo, que coordenou as caravanas da cidadania entre 2017 e 2018, e estava em agendas no Piauí e Ceará.

O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin (PSB), e dona Lu Alckmin foram convidados, mas estavam em São Paulo. Na sexta, Alckmin visitou uma unidade da Ambev em Jaguariúna, de onde seguiu para o sossego de seu sítio em Pindamonhangaba.

Ambos representantes da bancada do PSD no Senado, Fávaro (MT) e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (MG), encabeçam o concorrido rol dos novos aliados que caíram nas graças de Lula. Fávaro como interlocutor junto ao agronegócio.

Principal aliado do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), Silveira representa no governo as forças políticas de Minas Gerais no governo, e que deverão jogar juntas no pleito municipal de 2024. Lula precisa recuperar espaço em Minas, onde o PSD controla a Prefeitura de Belo Horizonte. De uma vantagem de 600 mil votos sobre Jair Bolsonaro no primeiro turno, Lula venceu no Estado com a apertada dianteira de 50 mil votos no segundo turno.

Registre-se que no embate sobre a exploração de petróleo na foz do Rio Amazonas, Lula inclina-se mais para o time de Silveira do que para o da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e espera uma reviravolta no veto à Petrobras investir na região.

Acima de tudo, o PSD é estratégico para a aprovação do novo arcabouço fiscal no Senado. É a legenda do presidente Rodrigo Pacheco, e a maior bancada, com 16 integrantes. O nome mais cotado para relatar a proposta vem do PSD: Omar Aziz (AM) - aliado de Pacheco e governista de primeira hora.

Pacheco tem dialogado diariamente com Haddad sobre a tramitação do projeto na Casa, mas terá de driblar resistências para pavimentar no tapete azul o mesmo roteiro bem sucedido da matéria na Câmara dos Deputados. Isso porque o mesmo ambiente de insatisfação entre os deputados na relação com o Executivo reproduz-se no Senado. E não se trata, exclusivamente, de liberação de emendas.

Um dos motivos do azedume entre os senadores remonta à não nomeação da ex-senadora Kátia Abreu (PP-GO), uma das mais queridas da Casa, para a vice-presidência de Agronegócios do Banco do Brasil, conforme sinalização feita aos aliados da ex-ministra da Agricultura no começo do ano.

O exemplo de Kátia Abreu não é isolado, mas é o mais eloquente do não cumprimento de uma leva de acordos que deixou em estado de desassossego os titulares de potenciais votos favoráveis ao novo marco fiscal.

É esse estado de espírito que Pacheco enfrenta para definir qual será o rito da proposta no Senado. O presidente da Casa até ontem estava tateando para definir se seria possível aprovar o regime de urgência para submeter o projeto diretamente ao plenário.

Do contrário, a proposta terá de ser apreciada pelas comissões de Assuntos Econômicos (CAE) e Constituição e Justiça (CCJ), antes de chegar ao plenário, retardando o processo e tumultuando a vida do Planalto.

Em paralelo, Lula reuniu no mesmo churrasco os ministros do STF Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski, que se aposentou em abril. Cada um tinha o seu candidato para a vaga de Lewandowski no tribunal. Nesse cenário, dançando pela música de Lula, a confraternização com boa comida e boa bebida também tinha o objetivo de afagar os espíritos e preparar o terreno para o iminente anúncio de Cristiano Zanin para a concorrida cadeira na Corte.

Andrea Jubé 

 

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