O Globo
Presidente teve chance de se corrigir, mas
insistiu em negar fatos para defender Maduro
Gabriel Boric tem 37 anos. É o presidente
mais jovem da América do Sul. Quando nasceu, em fevereiro de 1986, Lula já
iniciava sua segunda campanha. Nove meses depois, seria eleito o deputado mais
votado da Assembleia Constituinte.
A julgar pela experiência de cada um, o brasileiro teria lições a dar ao chileno. Não foi o que ocorreu na cúpula de ontem em Brasília. Diante de uma dúzia de chefes de Estado, Boric desmontou o discurso de Lula sobre a Venezuela. Ao fim do encontro, resumiu a questão em oito palavras: “Não é uma construção narrativa. É uma realidade”.
Lula acertou ao restabelecer relações
diplomáticas com Caracas. Em seguida, errou feio ao relativizar o autoritarismo
no país vizinho. Nicolás Maduro sufocou a oposição, amordaçou a imprensa e
produziu um êxodo de 7 milhões de refugiados. Seus abusos foram documentados
pelas Nações Unidas e são investigados no Tribunal Penal Internacional, que
apura crimes contra a Humanidade.
O presidente sabe de tudo isso, mas
preferiu apresentar o aliado como vítima de “narrativas”. “O preconceito contra
a Venezuela é muito grande”, disse. “Nossos adversários vão ter que pedir
desculpas pelo estrago que fizeram na Venezuela”, emendou.
Boric não foi o único a contestar as
declarações de Lula. Os presidentes de Uruguai, Paraguai e Equador também
usaram a cúpula para condenar o regime de Maduro. A crítica do chileno chamou
mais atenção porque ele é um político de esquerda. Apesar disso, recusou-se a
fazer vista grossa aos desmandos na Venezuela.
Ontem Lula teve uma chance de se corrigir,
mas insistiu em negar os fatos. Ainda cobrou respeito à “soberania”
venezuelana, como se criticar um autocrata fosse equivalente a desacatar o país
que ele subjuga.
O petista alegou que não pode avaliar a
situação no país porque não pisa lá há dez anos. Bastava ler o relatório do
Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, assinado por outra
socialista chilena. No texto, Michelle Bachelet empilha casos de “detenções
arbitrárias, maus-tratos e tortura” contra críticos de Maduro.
Falou pouco,mas falou bonito,a imprensa tem de ser imparcial e isenta,sempre.
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